Foram encontrados 3 registros ordenados por Número da revista. Palavras chave: 'Eleições 2006'. | |
Revista número 73 Inelegibilidade em decorrência de rejeição de contas (Mateus Wildberger) | |
Revista número 69 As novas plataformas de comunicação e a regulação eleitoral. (Rodrigo Cabrera Gonzáles) | |
Revista número 69 Antecedentes, Vida Pregressa e Inelegibilidade. (Marcelo Pimentel Bertasso) |
AMG PESQUISA "Eleições 2006"
acima http://www.paranaeleitoral.gov.br/pesquisa.php?e_ou=e&pesquisa_por=imp&formato=envio
aqui
AMG PESQUISA "Internet e política"
abaixo
AMG PESQUISA "Braga"
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A decisão foi tomada no dia 27 de março e representa, conforme definiu o Presidente da Corte, Ministro Marco Aurélio, ‘uma fidelidade à Constituição Federal’, concluindo que ‘o Tribunal deu uma ênfase maior à vontade do eleitor que vota, em primeiro lugar, na legenda’.
Aguardam-se, assim, os desdobramentos e os efeitos dessa decisão do nosso Tribunal Superior, que, acredito, trarão acesos debates para as cortes regionais, repercutindo, por conseqüência, em nossa jurisprudência.
Abrindo esta edição, a bacharela Ana Claudia Santano, especialista em Direito Aplicado pela Escola da Magistratura do Paraná e pós-graduanda em Direito Constitucional pela Academia Brasileira de Direito Constitucional – ABDConst, apresenta um rico trabalho sobre a questão da cláusula de barreira dentro do sistema partidário brasileiro, contribuindo sobremaneira para o fomento da discussão que envolve esse já importante e polêmico tema.
O acadêmico de direito Rafael Damaceno de Assis apresenta o seu artigo Uma visão diferenciada do direito à igualdade. Letícia Carina Cruz, graduanda em Ciências Sociais e o professor Sérgio Braga, ambos da Universidade Federal do Paraná – UFPR, apresentam em seu artigo A Justiça Eleitoral e o uso da internet pelos candidatos às eleições de outubro de 2006 na região Sul do Brasil algumas evidências para o pouco uso das diversas ferramentas disponibilizadas pela rede mundial de computadores, durante o processo eleitoral, contrariando a previsão de alguns analistas, que achavam poder a internet tornar-se um dos meios mais utilizados para organizar as campanhas e contornar alguns dos obstáculos interpostos à propaganda eleitoral pela legislação recente.
Do advogado Raphael Montenegro, nosso habitual colaborador, recebemos o artigo Abuso do Poder Econômico e uso da Máquina Político-Administrativa em Campanhas Eleitorais e Controle das Prestações de Contas, abordando o art. 30-A da Lei 9.504/97, recentemente incluído no ordenamento jurídico pela Lei nº 11.300/06.
Na segunda parte da revista, o leitor encontrará uma seleção de julgados da nossa Corte.
Para finalizar, gostaria de agradecer a todos pela contribuição prestada na confecção de mais uma edição da Paraná Eleitoral, esperando que possa a Revista enriquecer a doutrina jurídica-eleitoral.
Des. TELMO CHEREM
Presidente"
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Postulações fundamentais | GAC - GRUPO DE ANÁLISE DE CONJUNTURA - CONFERÊNCIA INAUGURAL 1 Alternativas políticas e configuração do bloco no poder na última conjuntura eleitoral brasileira. O que fazer? Sérgio Braga, DECISO/UFPR ssbraga@ufpr.br “Há alguns anos, ao examinar um programa de pós-graduação em ciência política de uma de nossas grandes universidades, constatei que os alunos de doutorado não sabiam reagir de maneira minimamente inteligente diante da pergunta sobre como é que os trabalhos que estavam fazendo se diferenciava do trabalho que algum jornalista pudesse fazer sobre o mesmo tema. Eles ficaram perplexos. Isso é clara indicação de que há alguma coisa errada” (Fábio Wanderley Reis, 2005) I. Introdução1: O título deste pequeno ensaio faz referência a um artigo de Sebastião Velasco e Cruz, onde são abordados alguns dos problemas teórico-metodológicos colocados à elaboração de “análises de conjuntura” por parte dos cientistas sociais, de uma maneira geral, e dos cientistas políticos em particular (CRUZ, 1988)2. Neste texto, após aludir a algumas das dificuldades postas à feitura de “análises de conjuntura” pelos cientistas políticos, bem como a seu atraso em comparação com outras disciplinas co-irmãs das ciências sociais latu sensu (tais como a gestão de organizações e a economia, dentre outras), Cruz formula a provocativa indagação: o que fazer?, referindo-se à carência de esforços abrangentes e 1 Esse texto é uma versão modificada da conferência apresentada em 18 de agosto de 2006 na mesa de encerramento do II Simpósio de Análise de Conjuntura Política organizado pelo GAC, vinculado ao Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasileira da UFPR. Foram feitas apenas pequenas alterações formais no texto apresentado na conferência, sem mudanças substantivas em seu conteúdo e/ou em suas teses ou proposições fundamentais. Este artigo é dedicado a Hélio Jaguaribe e a Décio Saes. 2 CRUZ, S. V. Teoria e método na análise de conjuntura. Educação & Sociedade, São Paulo, v. XXI, n. 72, p. 145-152, ago. 2000. Disponível em: www.scielo.br (Acesso: 01/07/2005). sistemáticos, por parte dos cientistas políticos, de abordagem dos problemas teóricometodológicos relacionados à elaboração de análises de conjuntura, bem como de sua constituição como uma sub-área específica da ciência política. O objetivo desse trabalho é, a partir da aceitação do repto lançado aos analistas políticos por Cruz em seu texto, efetuar algumas considerações sobre o estatuto teóricometodológico das chamadas “análises de conjuntura” para o desenvolvimento teórico e profissional da ciência política, que sejam úteis especialmente para os estudantes de graduação e pós-graduação na área. Complementarmente, procuraremos aplicar algumas das idéias expostas neste texto, analisando a última conjuntura político-eleitoral brasileira a partir das considerações efetuadas na primeira parte do artigo. Gostaríamos de sublinhar inicialmente a importância de esforços de reflexão dessa natureza para a profissionalização (sem aspas) do cientista político, que lhes possibilite uma intervenção mais qualificada e, eventualmente, prescritiva no debate público, de natureza análoga a que fazem as já mencionadas GAC - GRUPO DE ANÁLISE DE CONJUNTURA - CONFERÊNCIA INAUGURAL 2 disciplinas co-irmãs dos demais ramos das ciências sociais, cujos profissionais são razoavelmente treinados na feitura de análise de conjunturas, elaboração de cenários e recomendações prescritivas para os diversos atores sociais participantes do chamado processo de “escolha pública”. Devemos admitir, inicialmente, que a ciência política brasileira, especialmente a ciência política crítica, ainda tem muito a desenvolver nesse sentido, e é imperativo para a maior institucionalização da profissão a tentativa de elaborar trabalhos de maior sistematicidade que contribuam com uma reflexão nesse sentido. Devemos ainda, antes de começar a exposição propriamente dita, justificar seu título, o qual expressa várias motivações e intenções do presente texto: (i) Em primeiro lugar, ele indica também que haverá uma certa dimensão prescritiva em nossa abordagem, embora fracamente prescritiva. Ou seja, ele expressa uma certa ambição de orientar comportamentos e opções políticas na presente conjuntura, embora cônscio de certas limitações da análise que faremos a seguir3. (ii) Em segundo lugar, como foi dito acima, ele alude ao texto já citado de Sebastião Velasco Cruz (2000), onde este autor aborda vários problemas colocados à análise política de conjuntura e formula justamente essa pergunta, para referir-se à necessidade de esforços mais sistemáticos de formalização dos problemas teóricometodológicos envolvidos na chamada “conjuntorologia” por parte dos analistas políticos. (iii) Por fim, ele expressa uma das hipóteses centrais do presente texto. Inversamente a certos analistas que sustentaram teses sobre o “fim ou a 3 Uma das limitações da presente análise consiste no fato de que ela não leva em conta todas as oscilações de comportamento político dos atores envolvidos num processo dinâmico e errático como as últimas eleições presidenciais brasileiras. A abordagem de tais oscilações e incertezas foram relegadas a segundo plano, em detrimento do enunciado de algumas teses centrais do presente enfoque. irrelevância da política”4 na atual conjuntura, ao que parece devido essencialmente à ausência de perspectivas coletivas divergentes passíveis de concretização futura como conseqüência da ação das diferentes forças sociais atuantes no atual momento político brasileiro, uma das proposições centrais desse texto é a de que, a partir da análise que faremos a seguir, podemos inferir que se colocaram pelo menos três alternativas políticas significativas ao “eleitor” e para os diferentes segmentos da chamada “opinião pública” nas últimas eleições, alternativas estas cujos desdobramentos afetaram não apenas o pleito eleitoral, mas também devem repercutir no funcionamento do sistema político brasileiro num horizonte previsível. O objetivo deste pequeno ensaio é justamente o de explicitar, da maneira mais sistemática possível, os procedimentos analíticos e os passos lógicos pelos quais chegaremos ao enunciado e eventual demonstração desta tese. II) O que é uma “análise de conjuntura”? O primeiro ponto que devemos esclarecer é que faremos uma exposição que respeite estritamente o título do presente artigo. Não iremos, portanto, fazer digressões sobre outros temas que não a conjuntura recente, ou mesmo apresentar resultados de trabalhos de natureza monográfica ou de surveys descritivos que pouco nos informem sobre as questões e os dilemas substantivos vivenciados pelos analistas políticos e pelos cidadãos médios no atual contexto político brasileiro. Dessa forma, cabe esclarecer que focaremos nossa abordagem estritamente no objeto da temática, embora isso aumente significativamente a margem de erro das considerações feitas a seguir, dado o caráter 4 Visão difundida na mídia e em periódicos especializados por alguns intelectuais de esquerda, ao que parece algo desencantados com suas próprias tomadas de posição anteriores (cf. OLIVEIRA, 2006: p. 43s). Naturalmente, estamos longe de discordar das corajosas críticas efetuadas por tais intelectuais ao governo petista, mas sim com algumas conclusões por eles extraídas do fato da “traição” do governo Lula a certos princípios programáticos anteriores implicar no “fim da política”, ao menos no sentido dado ao termo nas linhas que seguem. GAC - GRUPO DE ANÁLISE DE CONJUNTURA - CONFERÊNCIA INAUGURAL 3 essencialmente ensaístico e exploratório das linhas que seguem. E a primeira questão que nós devemos procurar responder é: o que é uma “análise de conjuntura”? Qual o estatuto teórico de uma análise de conjuntura na ciência política e que recomendações e procedimentos teóricometodológicos devemos seguir para efetuar uma boa análise de conjuntura? Sem a pretensão de dar uma resposta definitiva ao problema, podemos inicialmente traçar uma “linha de demarcação” para justificar, numa primeira aproximação, a estrutura de nossa exposição e a forma como iremos conduzir a argumentação deste texto. Por análise de conjuntura não devemos entender os seguintes tipos de abordagem: Em primeiro lugar, uma mera tomada de posição política (seja ela de natureza “moral”, “instrumental”, “crítica”, “ética” ou “normativa”, para usar as expressões consagradas por alguns analistas) em relação aos eventos e processos políticos examinados. Esse tipo de posicionamento, geralmente expresso na forma de uma fraseologia artificialmente “desafiadora”, não obedece aos requisitos mínimos do que julgamos ser uma análise de conjuntura, na medida em que dele não derivam, necessariamente, proposições analiticamente estruturadas e fundamentadas em evidências teoricamente organizadas, ou seja, “verificáveis”, sobre fenômenos cuja ocorrência pode ser observada numa cena política qualquer. Em segundo lugar, a análise de conjuntura, tal como compreendida neste texto, não equivale a uma mera “crônica dos acontecimentos presentes” ou a comentários ligeiros sobre os acontecimentos políticos do dia-a-dia, sejam as narrativas de natureza jornalística, tais como as que são feitas, por exemplo, por blogs jornalísticos da mais variada natureza (alguns dos quais fazem uma espécie de “literatura de alcova” de qualidade bastante desigual ¾ o que indica que há também ótimos blogs jornalísticos), seja um mero evolver ou comentário cronológico dos fatos políticos cotidianos, sem nenhum “problema” ou proposição explicativa que organize a análise efetuada, ou sem a explicitação de princípios analíticos e/ou teóricos dos quais se possam derivar, de maneira razoavelmente coerente, determinadas hipóteses e proposições que dêem uma certa consistência analítica aos eventos observados5. Nesse sentido podemos, numa “primeira aproximação”, utilizar para definir o que entendemos por conjuntura e “análise de conjuntura” no presente texto uma expressão que o cientista político greco-francês Nicos Poulantzas utilizava de maneira bastante inadequada para definir o Estado em geral, e/ou o Estado Capitalista em particular, em alguns de seus textos: uma determinada conjuntura política pode ser definida como a “condensação das relações de força” entre os diferentes atores, grupos e instituições sociais que interagem e convergem para a produção de um dado fenômeno ou acontecimento político. E o trabalho do analista de conjuntura consiste justamente em tentar captar as linhas de força e tendências fundamentais necessárias para explicar tais acontecimentos, via de regra concentrados no tempo (uma revolução, uma crise política, uma gestão de governo ou, mesmo, um processo eleitoral, dentre outros inumeráveis fatos políticos que podem ser objeto de uma “análise de conjuntura”). Assim, uma “conjuntura” pode ser entendida como um evento ou processo histórico nos quais se “condensam” determinadas linhas de força fundamentais para a produção de um fato político, cuja apreensão depende, em grande parte, além do quantum de informações acumuladas por cada observador 5 Os melhores exemplos desse último tipo de “análise de conjuntura”, dos quais se pode ¾ diga-se de passagem ¾ extrair muitos elementos interessantes para o estudo propriamente científico das conjunturas políticas, são as que se encontram nos melhores sites de análise e comentários políticos do dia-a-dia, tais como os sites “Política Brasileira” (http://www.politicabrasileira.com.br/) e “Congresso em Foco” (http://congressoemfoco.ig.com.br/), ou o portal Nueva Mayoria (http://www.nuevamayoria.com/ES/), todos muito informativos e dedicados à análise e comentários dos chamados “fatos e notícias” do quotidiano político. Não por acaso, os melhores web sites de análise política são justamente aqueles que contam com (i. e., contratam sob remuneração regular e compatível com a qualificação dos serviços prestados por tais profissionais) cientistas políticos de profissão em suas fileiras. GAC - GRUPO DE ANÁLISE DE CONJUNTURA - CONFERÊNCIA INAUGURAL 4 sobre o fenômeno em tela, da natureza dos esquemas analíticos utilizados pelo pesquisador para selecionar e organizar tais informações. E o esforço do analista de conjuntura consiste justamente em apreender, seja de uma maneira parcial (através da análise de um aspecto específico da realidade), seja de forma mais abrangente (através do estudo das formas de articulação e interação recíproca entre vários aspectos da realidade que concorreram para produzir tais fatos políticos), as linhas de força fundamentais que atuam na determinação dos eventos ou processos históricos examinados. Portanto, a análise de conjuntura, tal como a entendemos no presente texto, não se reduz a um comentário aleatório sobre os “fatos do quotidiano político”, mas implica na operacionalização (consciente ou inconsciente) de determinados modelos analíticos ou esquemas explicativos por parte do analista político, ou seja, numa tentativa, por mais elementar que seja, de estruturar analiticamente tais fatos e processos. Ou por outra: aquele procedimento analítico que o filósofo francês Louis Althusser, em um texto intitulado Sobre o Trabalho Teórico (ALTHUSSER, 1978: 24 e passim), qualificava como “realizar”, ou seja, de concretizar, em termos práticos e “aplicados” (desenvolvendo-o e retificando-o), um determinado esquema teórico para explicar um acontecimento ou uma série de acontecimentos (i. e. um processo) relativamente localizados e “concentrados” no tempo6. 6 Nesse sentido, corroboramos inteiramente as afirmações de Fábio Wanderley Reis na passagem abaixo, embora discordando do ceticismo por ele demonstrado quando à constituição de “análises de conjuntura” como um ramo específico da ciência política: “Isso é parte, me parece, de uma maneira de entender o que seria o trabalho de uma disciplina como a ciência política, em contraste como a atividade jornalística ou eventualmente historiográfica. O empenho é o de estruturar os eventos da conjuntura analiticamente e eventualmente com respaldo empírico adequado. Eu não acredito em ‘análise de conjuntura’ como um tipo especial de trabalho, também a análise de conjuntura tem de estar enquadrada teoricamente, esta é a única maneira de você estruturar analiticamente aquilo que se passa no dia-a-dia. Do contrário, você está exposto a ficar permanentemente à deriva, a ficar correndo atrás dos eventos. Acho inclusive que muito do que se faz na ciência política como disciplina acadêmica, que supostamente deveria ter essa Apenas a título de ilustração podemos enumerar, como exemplos “clássicos” de análises de conjuntura no sentido aqui dado à expressão (ao contrário de uma mera “crônica dos acontecimentos presentes”, comentários ligeiros de acontecimentos políticos do dia-a-dia e outros tipos de narrativas políticas, destituídas de tratamento propriamente analítico) alguns textos fundamentais do pensamento político, tais como As lutas de classe em França e 18 de Brumário de Louis Bonaparte, de Marx, onde se “realiza” de maneira complexa (i. e., retificando-se algumas proposições-chave e conservando-se/confirmando-se outras) o esquema analítico elaborado pelo autor em suas obras anteriores de teoria política e/ou de teoria social (MARX, 1982); As lembranças de 1848 e O Antigo Regime e a Revolução, de Alexis de Tocqueville, onde é “realizado” ou concretizado em termos práticos um determinado esquema teórico cujos princípios fundamentais foram elaborados pelo próprio Tocqueville em A Democracia da América (TOCQUEVILLE; 1982; 1991; 1996); textos tais como Parlamento e governo numa Alemanha reordenada, e as análises políticas de Max Weber sobre a Revolução Russa e outros eventos políticos do período, onde são operacionalizados alguns princípios teóricos de sua sociologia política “compreensiva” para explicar as causas da emergência da Revolução Russa ou os cenários possíveis colocados à reorganização do sistema político alemão após a derrota da Alemanha na I Guerra Mundial (WEBER, 1997; BEETHAM, 1979); A revolução Russa, de L. Trotsky, onde se “realizam” alguns princípios teóricos enunciados em sua “teoria do desenvolvimento desigual e combinado” formulados por ocasião de sua análise da Revolução de 1905 (TROTSKY, 1978; 1985); as análises de Raymond Aron e Alain Touraine sobre o movimento de Maio de 68, onde também são “realizados” alguns princípios teóricos gerais expostos pelos autores nas respectivas preocupação estruturante, analítica e teórica, acaba sendo essa perseguição meio resfolegante aos eventos” (KASSAB & REIS, 2005). Tentativas facilmente acessíveis ¾ embora ainda embrionárias ¾ de formalizar os requisitos necessários para a formulação de “análises de conjuntura” por parte dos cientistas sociais são os trabalhos de ALVES & FAVERSANI (2002) e HARNECKER (2002). GAC - GRUPO DE ANÁLISE DE CONJUNTURA - CONFERÊNCIA INAUGURAL 5 sociologias políticas (ARON, 1968; TOURAINE, 1968); e, especialmente, para os fins da presente análise, A crise das ditaduras, de Nicos Poulantzas, onde este autor busca “aplicar/retificar”, de maneira nem sempre coerente do ponto de vista lógico, determinados princípios teóricos enunciados em obras anteriores (POULANTZAS, 1976; 1978; 1986). Todos esses são exemplos clássicos de análises de conjuntura pois, independentemente do referencial teóricometodológico e/ou das inclinações políticoideológicas de seus autores, todos eles buscam “estruturar analiticamente aquilo que se passa no dia-a-dia”, ou seja, organizar os fatos políticos em torno de hipóteses e esquemas explicativos que demandam uma leitura “analiticamente carregada” da realidade política, e não um mero comentário ligeiro ou a produção de mais uma narrativa sobre os fatos políticos quotidianos. Ao lado desses exemplos de análises de conjuntura em algumas obras “clássicas”, por assim dizer, da ciência e da teoria políticas, podemos mencionar também, ainda à título de ilustração do que temos em mente quando empregamos tal expressão, outro conjunto de obras. Para o caso do processo político brasileiro propriamente dito podemos citar, como bons exemplos de análises de conjuntura disponíveis, cuja leitura pode ser útil para inspirar o analista político em busca de parâmetros para avaliar e inspirar suas próprias abordagens, trabalhos tais como o de Armando Boito Jr. sobre a crise política que redundou no suicídio de Vargas em agosto de 1954, onde o autor busca “realizar” princípios teóricos bastante semelhantes ao que buscaremos concretizar neste texto(BOITO JR., 1982); de Argelina Cheibub Figueiredo sobre o golpe de 1964, onde a autora busca concretizar a problemática da chamada “escolha racional” para explicar as alternativas políticas colocadas às forças que participaram do processo político que redundou no golpe de 1964 (FIGUEIREDO, 1993), as coletâneas de ensaios de Fábio Wanderley Reis sobre a conjuntura brasileira dos anos 90 (REIS, 2004), de Florestan Fernandes sobre o processo de transição política para a “Nova República” (FERNANDES, 1985), dentre outras abordagens que buscam articular a interpretação de aspectos gerais e parciais de diferentes etapas de desenvolvimento do sistema político brasileiro. Num plano mais próximo à economia, mas que também se relaciona com a ciência política, podemos mencionar a série de trabalhos de Jorge Vianna Monteiro (MONTEIRO, 1997; 2001), onde este autor busca apreender diferentes aspectos das relações entre “Economia” e “Política” na recente conjuntura brasileira, a partir da perspectiva da “public choice” 7. Esse inventário, naturalmente, não pretende ser exaustivo, e muito menos queremos afirmar que o eventual “analista de conjuntura” deva se sentir frustrado caso não produza estudos de natureza análoga ao dos acima citados. Pretendemos apenas mencionar alguns textos que podem ser tomados como bons exemplos e tentativas bem-sucedidas de “análises de conjuntura” no sentido dado aqui a este termo, vale repetir, da apreensão analiticamente estruturada das linhas de força mais importantes para a ocorrência de um fato ou processo político qualquer, e não uma mera narrativa descritiva ou tomada de posição “normativa” (sic.) em relação a um evento político, muito menos a apresentação de resultados de estudos especializados de natureza monográfica, sem a preocupação em relacionálos com processos políticos mais abrangentes. Os estudos acima citados se diferenciam de abordagens meramente monográficas ou de outras modalidades de apresentação de 7 Não por acaso, muitos destes trabalhos são coletâneas de textos reunindo análises de aspectos parciais do processo político elaboradas ao longo de um período razoavelmente longo de tempo, mas que redundam na produção de uma visão abrangente e minimamente estruturada dos fatos políticos observados. O que não significa afirmar também que apenas estudos sistemáticos desse gênero possam ser considerados “análise de conjuntura”. Ao contrário, é plenamente admissível que estudos isolados e de aspectos parciais da realidade política também sejam ou se esforcem por ser “analiticamente orientados”. Talvez o melhor exemplo deste último tipo de abordagem sejam os estudos publicados nos quarenta e poucos volumes dos Cadernos de Análise de Conjuntura, editados pelo CEVEP, da FAFICH/UFMG: http://cevep.ufmg.br/ (site fora do ar em agosto de 2006). GAC - GRUPO DE ANÁLISE DE CONJUNTURA - CONFERÊNCIA INAUGURAL 6 resultados de pesquisa, justamente porque procuram articular resultados parciais produzidos por determinados ramos da ciência política, para a elaboração de hipóteses explicativas razoavelmente articuladas sobre os eventos ou processos políticos de natureza mais ampla que ocorrem num momento histórico qualquer. Nesse sentido, as análises de conjuntura são exercícios de grande importância para o teste “empírico” de determinados paradigmas explicativos, inclusive porque exigem a articulação de elementos teóricos parciais de várias disciplinas ou ramos da ciência política. Advém daí também o alto grau de dificuldade das análises de conjuntura, pois o analista político que as elabora é obrigado a articular, num modelo razoavelmente coerente, elementos parciais de vários ramos e disciplinas da análise política e das ciências sociais (sociologia dos grupos; processo eleitoral; processo decisório; instituições políticas; teoria dos partidos políticos; teoria do Estado etc.), bem como a trabalhar simultaneamente em várias frentes de coleta de dados empíricos ou, pelo menos, a combiná-las num todo analítico razoavelmente integrado, que lhes possibilite inclusive fazer inferências de natureza mais geral, mesmo quando examina um aspecto “parcial” ou segmentado de determinado acontecimento político. III) Objetivos e referencial teóricometodológico. Isto posto, podemos apresentar alguns objetivos das considerações efetuadas a seguir, coerentes com os balizamentos expostos no item anterior. São eles: (i) Em primeiro lugar, apresentar alguns elementos teóricometodológicos para uma análise de conjuntura empreendida sob uma ótica “poulantziana”. “Poulantziana” porque consideramos que as contribuições efetuadas por este autor ainda são estimulantes para a elaboração de análises políticas e, além disso, contêm idéias que permanecem válidas e fecundas para se analisar a conjuntura política brasileira; (ii) Em segundo lugar, buscaremos aplicar estas idéias na análise do governo Lula e do momento político brasileiro adjacente às eleições de 01 de outubro de 2006, seu contexto imediatamente anterior, assim como a alguns de seus desdobramentos possíveis. Nas linhas abaixo, nos esforçaremos por cumprir estas duas promessas ou metas bem pouco eleitorais. Antes de avançarmos na aplicação desse esquema teórico e dessas idéias gerais à análise da conjuntura recente, convém enumerarmos o que consideramos ser as três principais contribuições feitas por Nicos Poulantzas para a análise política (seus pontos fortes) e que consistirão no ponto de partida de nossa abordagem8. Segundo nosso ponto de vista, são as seguintes as principais contribuições efetuadas pelo autor à análise política propriamente dita, e que se constituem em bons pontos de partida para a reflexão sobre a dinâmica de funcionamento dos sistemas políticos capitalistas em geral, e sobre a atual conjuntura política brasileira em particular: (i) Inicialmente, devemos destacar sua definição de modo de produção em geral como uma articulação entre estruturas, responsável pela geração de um padrão de funcionamento e de reprodução das diversas formações sociais segundo o princípio da interação recíproca entre instituições sociais que se desenvolvem dentro dos limites fixados por uma dada 8 Esse esforço de explicitação, aparentemente trivial e desnecessário, justifica-se porque, a nosso ver, boa parte, senão a imensa maioria, dos comentadores da obra de Poulantzas tratam de maneira superficial tais pontos, preferindo deter-se no conceito teoricamente nebuloso e pouco consistente de “autonomia relativa” e outros aspectos da obra poulantziana que apresentam pouco rendimento analítico. Os exemplos desse tratamento superficial da obra do analista político greco-francês poderiam ser multiplicados. Mencionaremos aqui, apenas à título de exemplo, os trabalhos de CARNOY (1990), PRZEWORSKY (1995), os quais não aprofundam estes pontos, a nosso ver fundamentais para a compreensão da abordagem “poulantziana”. Por outro lado, para uma visão mais aprofundada das contribuições substantivas deste autor, mais próxima ¾ embora não inteiramente convergente ¾ da adotada neste texto, cf. os vários trabalhos de SAES (1998; 2001), em cujas análises sobre o processo político brasileiro também nos apoiaremos nas considerações feitas a seguir. GAC - GRUPO DE ANÁLISE DE CONJUNTURA - CONFERÊNCIA INAUGURAL 7 totalidade ou sistema social qualquer (escravista, feudal, capitalista, socialista etc.). Tal premissa teórica permite estabelecer um diálogo estimulante e fecundo desta abordagem com outras grandes problemáticas teóricas originárias no ambiente acadêmico burguês do século passado, que conservam o princípio da interação recíproca entre sub-estruturas como um princípio-chave para explicar o funcionamento e a reprodução das diferentes sociedades, tais como, por exemplo, o normativismo jurídico de Hans Kelsen e o estruturalfuncionalismo de Talcott Parsons;9 (ii) Em segundo lugar, podemos mencionar, apenas com o fito de explicitar algumas das premissas teóricas que operarão na análise feita a seguir, os conceitos de Estado capitalista e de burocratismo, intrinsecamente relacionados, tal como expostos de maneira sistemática na abordagem inicial do autor10; (iii) Por fim, podemos elencar, como a terceira contribuição-chave de Poulantzas à análise política, sua teoria do bloco no poder, que consiste antes de tudo num modelo teórico geral para analisar os conflitos entre grupos sociais relevantes, naquelas formações sociais organizadas com base na distribuição dos seres humanos em estratos explorados e estratos exploradores. Tal modelo teórico, embora apenas esboçado e não 9 Tais pressupostos estruturo-interacionistas encontram-se expostos em alguns textos fundamentais tais como A teoria geral do direito e do Estado e a Teoria Comunista do Direito, no tocante ao primeiro autor (KELSEN, 1955, 1998), e nas obras O Sistema Social e Social Structure and Personality, no tocante ao segundo (PARSONS, 1951, 1970). Para um visão do princípio simples da “interação recíproca” como um dos principais elementos dessa escola teórica, embora de uma perspectiva de um adversário da obra poulantziana, cf. EASTON (1980). 10 O burocratismo é basicamente um padrão de organização do aparelho administrativo do Estado capitalista que cria as “condições de possibilidade” (motivacionais e normativas) para a reprodução do sistema social capitalista num espaço territorial qualquer, ou seja, numa determinada formação social. Nesse sentido, cf. SAES (1998, passim.). desenvolvido teoricamente nas várias obras do autor, tem um elevado potencial heurístico para a análise de conjunturas, pois nos permite escapar da camisa de força da chamada “análise de classes” e, também, superar os limites de um enfoque meramente “pluralista” dos grupos e dos conflitos sociais, na medida em que nos permite articular o estudo dos fenômenos relacionados à institucionalização dos conflitos entre grupos, com os problemas referentes à repercussão do comportamento de tais grupos numa totalidade social mais ampla, ou seja, apreender as funções propriamente ditas das ações desempenhas pelos diferentes atores num sistema social qualquer. A idéia mais simples de tal “teoria” é a de que existem relações dinâmicas de hierarquização e de dominação/subordinação política inclusive no seio das classes exploradoras cujos interesses são institucionalizados e expressos nos sistemas políticos das assim chamadas “sociedades de classe”11. Consideramos que estes pilares da teoria e da análise política poulantzianas permanecem irrefutados, e algumas das suas implicações podem ainda hoje ser aproveitadas com mérito para o estudo de processos políticos nas “sociedades de classe” em geral, não apenas nas sociedades capitalistas. Deve-se reiterar, uma vez mais, que o próprio autor, em suas obras posteriores, não extraiu de maneira consistente e teoricamente fecunda as implicações da problemática teórica por ele aberta em seus trabalhos iniciais (SAES, 1998). A esse respeito, devemos dar um passo adiante em relação às afirmações anteriores e esclarecer que uma das proposições centrais subjacentes à presente abordagem é a de que existem, na obra do próprio Poulantzas, uma série de obstáculos teórico-metodológicos para a análise “poulantiziana” de conjuntura, os quais podem e devem ser removidos, caso se queira 11 Para uma ilustração desses conceitos de hierarquia e subordinação entre estratos dominantes, bem como de algumas de suas implicações políticas, cf. o instigante e empiricamente bemfundamentado trabalho de Adeline Daumard (DAUMARD, 1985). GAC - GRUPO DE ANÁLISE DE CONJUNTURA - CONFERÊNCIA INAUGURAL 8 fazer avançar esta problemática teórica. A nosso ver, tais obstáculos, se superados de maneira adequada, podem fazer com que suas contribuições se convertam num referencial interessante e produtivo para a análise empírica de conjunturas, que sirva como alternativa e que permita estabelecer um diálogo produtivo com outras perspectivas de análise existentes na ciência política contemporânea. E quais seriam estes principais “pontos cegos” ou pontos fracos da análise política “poulantizana” que, se forem adequadamente equacionados, podem fazer com que o paradigma por ele fundado se converta num referencial fecundo e analiticamente estimulante para o estudo de processos políticos concretos e de determinadas “conjunturas” políticas? Podemos enunciá-los sumariamente como segue: (i) Poulantzas não desenvolve instrumentos para explicar porque pode haver uma variação entre os diversos modelos de desenvolvimento no processo de funcionamento do diferentes modos de produção em sociedades concretas (ou seja, em formações sociais). Por que isso ocorre, quais as forças motrizes e os determinantes desse fenômeno, bem como suas implicações, são pontos escassamente abordados em suas obras. O próprio conceito de modelo de desenvolvimento, não chega a ser formulado teoricamente de maneira sistemática pelo autor, embora possamos dizer que esteja presente “em estado prático” em algumas de suas reflexões; (ii) Poulantzas não desenvolve instrumentos teórico-metodológicos para explicar o significado dos processos eleitorais para a organização da hegemonia no bloco do poder nos diferentes sistemas políticos. Com efeito, o autor tende a subestimar o significado desses processos para a reorganização da hegemonia política, associando tal reorganização predominante ou exclusivamente a processos de ruptura institucional. Isso faz com que os analistas políticos que se inspiram neste paradigma fiquem como que “paralisados” ou inermes em relação a um dos principais ramos da ciência política acadêmica, que é o da análise dos processos eleitorais, dos condicionantes da formação das decisões de voto por parte do eleitor, assim como da influência de tais decisões no desempenho do sistema político mais amplo; (iii) Por fim, o próprio autor não foi capaz de desenvolver de maneira sistemática, a partir de suas formulações iniciais, instrumentos teórico-metodológicos para analisar a morfologia do processo decisório e dos processos de formação e implementação de agenda dos Estados Capitalistas, e a maneira pela qual tal processo repercute no fracionamento ou nas clivagens de certos segmentos das classes dominantes, e como ele se relaciona com a organização da hegemonia política de determinados subgrupos ou frações das classes dominantes sobre outros12. Deve-se esclarecer, por fim, que isso não implica corroborar as afirmações segundo as quais Poulantzas teria uma visão “mecanicista” ou “hiperdeterminista” dos processos decisórios nas sociedades capitalistas, que desconsidere, por exemplo, os efeitos dos diferentes tipos de recrutamento político na performance das 12 Em uma de suas últimas obras, Poulantzas chegou a abordar de maneira sistemática esse ponto, qualificando o fenômeno da distribuição desigual de poder e de influência entre os vários grupos sociais “representados” e atuantes nas instituições no sistema político em geral, e no aparelho de Estado em particular, através da metáfora algo inadequada da distinção entre “poder real” e “poder formal” (POULANTZAS, 1978: 82). “Inadequada” porque o fato de um agente deter menos poder e/ou influência do que outro não implica necessariamente que estes últimos sejam “formais” e vice-versa. GAC - GRUPO DE ANÁLISE DE CONJUNTURA - CONFERÊNCIA INAUGURAL 9 instituições políticas capitalistas, das diversas modalidades de organização do processo decisório na determinação dos resultados das políticas governamentais, e assim sucessivamente. Ao contrário, o autor afirma clara e explicitamente que as diferentes modalidades de recrutamento dos grupos ou elites dirigentes, embora não afetem a “natureza de classe” do Estado capitalista, podem ter efeitos políticos significativos em determinadas conjunturas e processos políticos, bem como no desempenho das instituições e nos processo de formulação e implementação de políticas governamentais (POULANTZAS, 1986: p. 333). Entretanto, devemos admitir que ele não desenvolveu de maneira sistemática estes pontos, o que gerou um sem-número de intermináveis e pouco produtivas “falsas polêmicas” em torno das reais contribuições efetuadas pelo autor. Devido à exigüidade do espaço, estruturaremos a exposição em torno de três proposições básicas sobre a atual conjuntura, as quais buscam “realizar” os princípios teórico-metodológicos acima enunciados. Manipulando as premissas teóricas acima elencadas e articulando-as às informações empíricas que conseguimos obter sobre a cena política brasileira, podemos derivar logicamente algumas idéias que, por questões de espaço, seremos obrigados a enunciar esquemática e sinteticamente no item seguinte na forma de “proposições básicas” referentes à recente conjuntura político-eleitoral brasileira. IV) Três proposições básicas sobre a recente conjuntura político-eleitoral. As proposições são as elencadas a seguir, as quais buscam enunciar de maneira condensada teses fundamentais sobre três aspectos que consideramos mais relevantes de serem compreendidos na atual conjuntura: a) aqueles referentes ao comportamento do PT e da equipe governamental no governo Lula e alguns dos efeitos de tal comportamento no sistema político brasileiro (“o PT mudou? Por que? Qual a natureza de tal mudança?”); b) aqueles referentes à configuração da correlação de forças entre os grupos sociais no governo Lula, especialmente entre os diferentes segmentos das classes dominantes e respectivos grupos-de-apoio (“o governo dos petistas é um governo burguês? É um governo neoliberal? Qual a relação desse governo com as massas trabalhadoras?”); c) aqueles referentes às alternativas políticas que se abrem a partir dos efeitos conjugados produzidos por estes fenômenos sobre as diferentes correntes políticas em luta pelo poder governamental (“o que esteve em jogo nestas eleições”? “Quais seus desdobramentos previsíveis para o funcionamento futuro do sistema político brasileiro”?). Podemos agora enunciar algumas de nossas principais proposições. Primeira proposição: o comportamento do PT e da própria equipe de governo durante o primeiro mandato do presidente Lula manifesta simultaneamente fenômenos gerais, relacionados à incorporação de partidos socialdemocratas aos quadros de um Estado capitalista ou burguês, e aspectos específicos, referidos ao quadro institucional e ao contexto sócio-econômico que estrutura a organização da democracia capitalista no Brasil contemporâneo e a organização do processo de governo neste país. Não se pode ter uma compreensão abrangente do “desempenho” do governo Lula analisando-se apenas um de tais aspectos. Portanto, aplicar esse esquema “poulantziano” na atual conjuntura política implica abordar duas ordens de problemas: A) Inicialmente, devemos mencionar fenômenos de natureza geral, relacionados à integração de partidos social-democratas ou trabalhistas num Estado capitalista e à chamada “lógica do burocratismo burguês”, o que implica a deflagração de um processo sociológico “complexo” de adaptação e refração das ideologias e dos valores das elites dirigentes anteriormente vinculadas a um grupo social “não-estatal” (no caso petista, de trabalhadores manuais de grande indústria e de classe média sindicalizados), para o novo status social de “elite governante”, ocupante de cargos governamentais estratégicos num Estado GAC - GRUPO DE ANÁLISE DE CONJUNTURA - CONFERÊNCIA INAUGURAL 10 capitalista. E quais seriam estes fenômenos? Enumeraremos sinteticamente alguns deles: (i) Empreguismo e favoritismo na ocupação de cargos públicos. Assim como ocorre com outros partidos de esquerda que optaram predominantemente por integrar-se aos governos de países capitalistas e assumir responsabilidades governamentais (PRZEWORSKI, 1989), o partido pode tornarse um meio de ascensão social para boa parte dos dirigentes e militantes políticos, especialmente daqueles setores que, seja por sua origem social, seja pelo chamado “capital cultural” acumulado ao longo de sua trajetória, não logram fazer parte por seus próprios meios (ou seja, através dos recursos intelectuais herdados das famílias ou obtidos pelo esforço individual) da chamada “nobreza de Estado”, para utilizar a expressão empregada por Bourdieu para designar os altos funcionários públicos concursados e formados nas escolas de “elite” dos países capitalistas (BOURDIEU, 1999). Com efeito, estudos sobre recrutamento político têm detectado uma substancial variação patrimonial dos parlamentares e dirigentes do partido, após a ocupação de cargos burocráticos e eletivos, especialmente após a vitória do PT nos últimos pleitos eleitorais (RODRIGUES, 2006). Esse aspecto específico tem provocado uma forte resistência nos meios políticos conservadores, movidos em grande parte por uma série de preconceitos elitistas e algo ressentidos por verem um espaço políticoadministrativo antes reservado e praticamente monopolizado pela alta classe média com formação universitária, ser ocupado por novas elites dirigentes cujo principal “capital social” acumulado são as redes de relações formadas através da experiência organizativa obtida na militância em movimentos sociais da mais variada natureza, especialmente sindical13. 13 Infelizmente, ainda não foram disponibilizados dados sobre a evolução patrimonial dos dirigentes e militantes de esquerda (para não falar de outras correntes políticas) que ocupam cargos comissionados nas várias esferas de poder do governo Lula, embora alguns dirigentes petistas mais empolgados com a vitória eleitoral de 2002 houvessem prometido disponibilizar tais dados na internet, logo após a posse de Lula em seu primeiro mandato. Não houvesse essa “colonização” de certos ramos do aparelho de Estado por novas elites dirigentes de origem sindical provocado um evidente descolamento de renda e de status social dos dirigentes em relação à massa de militantes partidários, este fenômeno poderia inclusive ser apontado como um dos aspectos mais democráticos e igualitários da gestão petista. (ii) “Corrupção” eleitoral. O segundo fenômeno político relacionado à incorporação dos partidos de esquerda às “regras do jogo” da democracia capitalista é o que a mídia convencionou chamar de “corrupção eleitoral”, ou seja, a gestão intransparente dos fundos partidários e ao uso do chamado “Caixa 2” para ocultar a verdadeira origem dos recursos arrecadados pelos partidos, especialmente os utilizados durante a campanha eleitoral. Tal fato está estritamente associado à história do PT ao longo dos anos 90 e com a concepção predominante das cúpulas partidárias, especialmente na facção hegemônica nas instâncias dirigentes da agremiação, de engajarse numa estratégia de conquista a curto prazo do poder governamental através da vitória em eleições presidenciais, tendo por base os resultados de gestão apresentados (bem como a experiência acumulada na arrecadação de recursos) em unidades subnacionais de governo (SAMUELS, 2004). Trata-se de fenômeno até certo ponto comum de ocorrer em democracias avançadas, mesmo com partidos socialdemocratas extremamente estruturados do ponto de vista organizacional, e não de fenômeno especificamente brasileiro ou mesmo de economias periféricas, embora ocorra com graus variáveis de intensidade nos vários sistemas políticos. Isso decorre do fato de que, em uns como em outros, os partidos precisam de recursos financeiros de porte para serem eleitoralmente “competitivos” (ou seja, para financiar as grandes campanhas eleitorais e para ter acesso à grande mídia capitalista), o que termina abrindo brechas para a criação de esquemas “alternativos” e intransparentes de captação de recursos, tanto de origem privada quanto governamental, embora o contexto eleitoral brasileiro de voto personalizado com eleições de lista “aberta” e com partidos GAC - GRUPO DE ANÁLISE DE CONJUNTURA - CONFERÊNCIA INAUGURAL 11 “fracos” na arena eleitoral, tenda a agravar ainda mais o problema da intransparência da arrecadação e do uso de recursos por parte dos partidos políticos (SAMUELS, 2005). (iii) Perda do democratismo operário inicial. O partido passa a ser uma “organização burocrática” no sentido weberiano do termo, fora do controle estrito das classes trabalhadoras e sob a hegemonia de elites dirigentes que tendem a se reproduzir em seus cargos e a criar mecanismos que os subtraiam do controle político da massa de militantes partidários14. Esse democratismo passa apenas a fazer parte do passado e do estoque de experiências simbólicas construídas para formar a identidade da organização e dos dirigentes partidários15; (iv) Criação de uma nova clivagem política (ou seja, de um novo princípio de fracionamento) no seio das classes dominantes: determinados setores da classe dominante, diante da perspectiva de vitória eleitoral da esquerda, e tendo em vista as próprias políticas governamentais anunciadas pelos dirigentes de tais partidos visando a conquistar o apoio empresarial e burocrático para a “governabilidade”, aderem ao “governo dos trabalhadores”, inclusive participando diretamente das equipes governamentais16. Ou seja: a existência de um partido socialdemocrata com capacidade governativa 14 Esse fenômeno foi descrito de maneira pioneira na ciência política pelo trabalho clássico de Robert Michels, influenciado pela problemática das elites, um enfoque bastante diferente daquele derivado do conceito de burocratismo. A contraface propriamente econômica dessa assimilação de partidos socialdemocratas de origem trabalhista à lógica da gestão governamental capitalista, é sua adaptação à lógica propriamente econômica do Capitalismo (PRZEWORKI, 1989), embora ambos os processos estejam longe de ser simultâneos. Uma tentativa pioneira de sugerir alguns antídotos contra a suposta “lei de ferro” das oligarquias, do ponto de vista da sociologia das organizações, encontra-se no magnífico conjunto de ensaios de MERTON (1979: especialmente pp. 124-143). 15 Para uma descrição não-sociológica de qualidade literária bastante duvidosa de todo esse processo, cf. o recém-publicado livro de BETTO (2006). Deve-se observar entretanto que, devido ao contexto histórico de suas formação, o PT apresenta tais características com menos intensidade que outros partidos social-democratas, incorporando alguns mecanismos vigentes nas democracias parlamentares em suas instâncias internas de deliberação (SAMUELS, 2004). 16 Este processo é descrito de maneira meticulosa, para o caso brasileiro, nos trabalhos de DINIZ (2004; 2005). implica na criação de uma nova clivagem no seio das classes dominantes: surge um segmento burguês mais progressista que apóia as medidas distributivas dos futuros “social-democratas” no poder, integrando-se aos governos de esquerda. Todos esses fenômenos mais ou menos acompanharam ¾ em graus e a títulos diversos, deve-se sublinhar ¾ a integração de partidos social-democratas às regras do jogo da democracia parlamentar e da organização burocrática dos Estados capitalistas ao longo do século XX, e foram a contrapartida do ganho de “eficiência” (se avaliado pelos parâmetros social-democratas) de tais partidos na gestão da máquina governamental e da execução de políticas bem-sucedidas de redistribuição de renda e patrimônio em alguns países capitalistas, especialmente aqueles que foram bem-sucedidos em suas estratégias distributivas tendo por base o intervencionismo estatal centralizado. No caso brasileiro, deu-se, entretanto, que o candidato Lula não ganhou as eleições com a intenção explícita e declarada de implantar uma espécie de “Welfare State” periférico, mas sim uma visão até certo ponto conservadora de um modelo de desenvolvimento que vem sendo qualificado acertadamente por alguns autores como “socialliberal”, para empregar noutro contexto a expressão utilizada por Bresser Pereira (BRESSER-PEREIRA, 2005). Esse fato, ao menos numa primeira etapa, intensificou ainda mais o processo de aproximação de segmentos importantes do empresariado com o governo Lula, inclusive do setor financeiro, na medida em que este excluiu de suas propostas de governo qualquer “choque distributivo” que implicasse num confronto direito com determinados interesses corporativos empresariais de curto prazo, especialmente bancários. Ora, todo o problema reside justamente no fato do governo Lula ter arcado com os ônus da integração de um partido de esquerda num Estado Capitalista (ao se envolver na lógica eminentemente burocrática e intransparente dos sistemas políticos capitalistas) sem os significativos benefícios obtidos na qualidade de GAC - GRUPO DE ANÁLISE DE CONJUNTURA - CONFERÊNCIA INAUGURAL 12 vida e na politização das classes trabalhadoras pela social-democracia dos países capitalistas centrais. Ou seja: o governo Lula está longe de sinalizar a implantação um Estado de Bem- Estar no Brasil e instituir, para os diferentes segmentos das classes trabalhadoras organizadas, os substanciais ganhos políticos e econômicos obtidos pelos trabalhadores dos países centrais do sistema capitalista, especialmente naqueles onde existe uma poderosa social-democracia (PRZEWORSKI, 1989). A nosso ver, esse fato deve ser levado em conta para explicar a “decepção” que o governo Lula causou em amplos segmentos das classes trabalhadoras organizadas brasileiras e em certos setores da esquerda, especialmente da chamada “classe média democrática” e também devem ser relevados para uma avaliação do desempenho de seu primeiro governo. Ou seja: houve um ingrediente adicional na cena política brasileira recente além da mera pressão e do uso da tradicional “estratégia de bloqueio e desgaste” da oposição conservadora e de centro-direita a partidos situados à esquerda do espectro ideológico e ao enfrentamento da “herança maldita” dos anos FHC, que é o da passividade e falta de mobilização da chamada “militância” política, bem como o descolamento dos simpatizantes da órbita de influência do Partido dos Trabalhadores. Isso talvez possa ser explicado pelo desencanto, gerado em setores significativos da militância petista e de esquerda em geral, pela ausência de iniciativas substantivas visando a implantação de um Estado de Bem-estar no Brasil, ao menos no primeiro mandato Lula. B) Além disso, devemos chamar a atenção para aspectos específicos, relacionados à vitória eleitoral de um partido de esquerda no contexto atual brasileiro e a certas peculiaridades que o contexto socioeconômico e o quadro institucional democrático brasileiro imprimem a essa vitória. E aqui podemos destacar fenômenos políticos de natureza distinta, tais como: (i) O candidato Lula ganha as eleições num contexto em que boa parte dos partidos social-democratas do capitalismo central transforma-se em “social-liberais”, para usar a já citada expressão empregada por Bresser Pereira noutro contexto analítico (BRESSER PEREIRA, 2005)17. Além disso, vence o pleito após a crise de sucessivos governos neoliberais que implantaram estratégias sistemáticas e deliberadas de desmonte e fragilização financeira do Estado brasileiro, que tornaram a economia brasileira ainda mais vulnerável e dependente aos interesses do capital financeiro. Todos estes fatos fizeram com que houvesse uma progressiva aproximação de segmentos do grande empresariado brasileiro com o PT, especialmente durante o último biênio do segundo mandato FHC, quando se tornaram mais patentes os pesados efeitos negativos das políticas econômicas executadas em anos anteriores (DINIZ, 2005). Daí que o PT no poder tenha implantado não um programa social-democrata no sentido estrito do termo (ou ao menos tomado decisões que indicassem uma clara estratégia nesse sentido), mas uma espécie de terceira via periférica que fez com que ele se convertesse num partido de cunho mais “burguês”, representante de segmentos empresariais da chamada “burguesia interna” brasileira (inclusive bancária), preocupado com a “governabilidade” e com a estabilidade dos investimentos privados, do que propriamente trabalhista, voltado à defesa ferrenha dos interesses corporativos e para um aumento linear da qualidade de vida e de ampliação da cidadania social de segmentos organizados da classe trabalhadora que constituíam sua base política original. Como observado por vários analistas, esse fato provocou uma intensa aproximação de segmentos empresariais “desenvolvimentistas” e vinculados ao agrobussiness com o governo Lula, especialmente nos dois primeiros anos de governo, e o conseqüente afastamento do partido em relação às demandas de determinados setores que faziam parte de sua 17 Uma minuciosa enumeração das dificuldades colocadas à implementação de medidas efetivamente “social-democratas” por governos de centro-esquerda logo após a vitória eleitoral, especialmente em países da periferia do sistema capitalista com as características socioeconômicas e institucionais da formação social brasileira, na atual etapa de desenvolvimento capitalista, encontrase em REIS (2005). GAC - GRUPO DE ANÁLISE DE CONJUNTURA - CONFERÊNCIA INAUGURAL 13 base social de origem, mormente aqueles segmentos da classe média sindicalizada vinculados ao setor público (DINIZ, 2005; MARQUES, 2006). (ii) O segundo aspecto está relacionado às decisões estratégicas tomadas pela cúpula dirigente petista para resolver os “dilemas” do presidencialismo pluripartidário brasileiro18 e para gerenciar a coalizão governista, num contexto institucional onde raramente se formam “governos partidários” no sentido das democracias parlamentaristas européias. Como demonstram alguns analistas (PEREIRA, POWER & RAILE, 2006)19 a estratégia de gestão da coalizão do governo Lula seguiu um padrão diferente daquele adotado pelas cúpulas governantes durante a presidência FHC, especialmente em seu segundo mandato. No governo Lula, a presidência adotou “ferramentas” diferentes de gerenciamento da “coalizão” governista, organizando uma equipe governamental mais heterogênea do ponto de vista partidário e ideológico, com alto grau de concentração de petistas nos ministérios mais importantes (baixo grau de “coalescência”), e mantendo a disciplina partidária através da execução de emendas orçamentárias para partidos mais próximos ao núcleo dirigente petista, utilizando ainda meios não convencionais para cooptar 18 Devidos basicamente à coexistência entre as lógicas “majoritária” e “consocional” no sistema político brasileiro, o que faz com que os presidentes eleitos, especialmente aqueles com plataforma eleitoral de centro-esquerda, via de regra não obtenham maioria no Congresso. Isso impede a existência de governos rigorosamente partidários, nos moldes dos vigentes em algumas democracias parlamentaristas européias (AMORIN NETO, 2006) o que , embora não gere necessariamente crises de “paralisia decisória” (problemas de governabilidade no sentido forte do termo) como têm insistido alguns analistas (LIMONGI, 1999; 2006), é um dos principais obstáculos à institucionalização de partidos esquerda de massa no Brasil e à conseqüente sustentabilidade de longo prazo de políticas radicalmente distributivas, daí que isso afete a chamada “qualidade das políticas” ou a “governabilidade no sentido fraco”, da qual a crise de governo acima mencionada é um exemplo. Não é nosso objetivo adentrar, numa singela nota de rodapé, no profícuo debate acerca do quadro institucional brasileiro a partir da elaboração da constituição de 1988. Para uma visão das principias posições a respeito, cf. o texto básico de Vicente Palermo (PALERMO, 2000). 19 Cf. o sugestivo “paper” de Power et. al. (2006). Disponível em: http://200.186.31.123/ABCP/cadastro/atividade/arquivos/25_ 7_2006_12_19_34.pdf parlamentares mais distantes deste núcleo dirigente. Por sua vez, as causas dessa opção estratégica devem ser buscadas, a nosso ver, na maneira pela qual as novas elites dirigentes petistas resolveram os “dilemas” inseparáveis à gestão de governo no “presidencialismo de coalizão” brasileiro (ABRANCHES, 2003), especialmente o difícil trade-off entre fortalecimento e consolidação do partido do governo, e a distribuição de fatias de poder por ocasião da formação de equipes governamentais. Optou-se pela montagem de uma “coalizão fisiológica” de governo através da cooptação de parlamentares de partidos mais fisiológicos (PP, PTB, PL), e não na montagem de uma coalizão “programática” (ou seja, baseada na negociação de aspectos substantivos da agenda governamental) com o PMDB, conforme queriam alguns setores ligados ao chefe da Casa Civil, José Dirceu, no início do mandato, provavelmente devido ao receio dos impactos que essa transferência de fatias substantivas de poder ao PMDB ocasionaria na chamada militância petista e no interior do partido. O paradoxal dessa estratégia foi que ela foi implementada não para aplicar um programa social-democrata ou mesmo “neodesenvolvimentista”, como poderiam esperar, por exemplo, aqueles observadores que tomavam ao pé da letra a atuação dos parlamentares do partido no Congresso ¾ e não as estratégias e opções políticas efetivamente implementadas por aqueles que detinham o controle dos núcleos dirigentes da organização ¾, mas sim uma tímida (em comparação com as expectativas geradas em setores mais organizados das classes trabalhadoras quando da vitória presidencial) plataforma “social-liberal”. Outro elemento paradoxal foi o de que a crise da coalizão de governo e de sua base parlamentar tem sua origem remota justamente na decisão da cúpula petista de promover uma “guinada à esquerda”, com o patrocínio da candidatura de Luís Eduardo Greenhald para a presidência da Câmara dos Deputados, processo que, devido basicamente às divisões no PT após a derrota das eleições municipais de outubro de 2004 em GAC - GRUPO DE ANÁLISE DE CONJUNTURA - CONFERÊNCIA INAUGURAL 14 seu estado natal (que motivou o lançamento da candidatura de Virgílio Guimarães para a presidência da Câmara), redundou na eleição de Severino Cavalcanti para a presidência da Câmara dos Deputados e no subseqüente esfacelamento da base de apoio no Congresso. O frágil gerenciamento da base governista, já anteriormente evidenciado com a perda da presidência da Câmara, fortaleceuse ainda mais com as denúncias de Roberto Jefferson acerca do funcionamento do “mensalão”, ou seja, da compra pura e simples de votos e apoio parlamentar para a manutenção da base fisiológica na Câmara dos Deputados. A reação algo aloprada da cúpula dirigente petista e dos chamados “operadores” do governo às denúncias, renunciando em cadeia aos cargos antes de qualquer prova ou evidência tangível ter sido apresentada pelos acusadores, ao invés de apelar à militância política para reagir às chantagens da base corrompida, apenas reforçou o impacto e a credibilidade das denúncias assim como a crise interna do partido. E a questão da corrupção ou das acusações de corrupção no governo Lula relaciona-se justamente ao tipo de estratégia de gerenciamento da coalizão escolhida pela cúpula petista. Pois bem, foram justamente as implicações de todos estes fatores no partido e na base governista que abriram a possibilidade da emergência de uma terceira alternativa política, em conseqüência da crise de governo do PT: referirmo-nos ao surgimento de uma espécie de “proto-populismo socialdemocrata” de esquerda representado pela candidatura presidencial de Heloísa Helena, e pela organização do PSOL. Retomaremos esse ponto adiante. Por ora, nos basta sublinhar o fato da existência de uma “dissidência parlamentar social-democrata” dentro do seio de governos e partidos políticos de origem social-democrata, é um fato a nosso ver possibilitado pelas peculiaridades do contexto brasileiro, onde a crise política de governos “social-liberais” se dá por uma dinâmica interna própria, e não devido a fortes pressões políticas do campo conservador, em grande parte atraído para a órbita de influência do governo Lula. Podemos agora enunciar nossa segunda proposição. Segunda proposição básica: embora tenha vários pontos em comum com o governo FHC, especialmente no tocante à continuidade de alguns aspectos da política econômica, o governo Lula apresenta certas peculiaridades em relação a este governo ou a esta corrente política que, sob o aspecto estritamente político, justifica afirmarmos que houve uma reorganização do bloco no poder nesse período, ocasionada pela vitória de Lula nas eleições e pela subseqüente redistribuição de poder entre os diferentes ramos ou instituições do aparelho de Estado em seu governo, com a redefinição das posições relativas no interior do aparelho de Estado entre diversos segmentos dos grupos dirigentes “representativos” das diversas forças sociais em pugna, e os conseqüentes efeitos produzidos na implementação das políticas governamentais por tal redistribuição. Alguns analistas têm chamado a atenção para o fato de a configuração do bloco no poder no governo Lula não ser uma mera repetição do quadro observado durante o governo FHC (BOITO JR., 2005a, 2005b). Entretanto, a nosso ver não caracterizam adequadamente tal inflexão, nem extraem corretamente todas as implicações da mesma. Como já observamos, o governo Lula não é um governo “neoliberal associado” como os governos FHC, mas a expressão de um fenômeno político-ideológico mais profundo, que atinge a esquerda em âmbito internacional, que é a existência de uma orgânica corrente social-liberal (BRESSER PEREIRA, 2005), que adere aos valores do “livre mercado” com mais intensidade, e recua na ambição de suas políticas distributivas pela via do intervencionismo estatal centralizado. Uma das características dessa corrente reside na maior ênfase na “estabilidade” do desenvolvimento econômico capitalista (com respeito aos “contratos”, especialmente os firmados por governos anteriores com o sistema financeiro) e na implementação de políticas “compensatórias” para segmentos “excluídos”, GAC - GRUPO DE ANÁLISE DE CONJUNTURA - CONFERÊNCIA INAUGURAL 15 embora longe de instaurar um Welfare State. De resto, a natureza das políticas sociais do governo Lula explica em parte a desilusão causada por seu governo em correntes partidárias (especialmente vinculadas ao chamado “socialismo cristão” e ao funcionalismo público) que alimentavam a expectativa de que ele fosse instaurar um modelo radicalmente social-democrata (menos ajuste fiscal e mais gasto público para assegurar direitos sociais para setores da classe média e classe operária organizada), ou mesmo alguma variante do neodesenvolvimentismo nacionalista, como ocorre em algumas esferas subnacionais de governo, como é o caso de Roberto Requião no estado do Paraná20. Nesse momento da exposição podemos colocar a seguinte indagação: por que o governo Lula não implantou um Welfare State após a vitória eleitoral, ou pelo menos não emitiu claros sinais da intenção de implantar tal estratégia num futuro próximo, seguindo à risca seu programa partidário original? Penso que esse fenômeno se relaciona tanto aos fatores de ordem objetiva, relacionados à nova fase de desenvolvimento econômico e tecnológico das forças produtivas capitalistas em escala global, que levaram ao surgimento de uma orgânica e poderosa corrente “socialliberal” mesmo nos países capitalistas centrais21, assim como às características político-ideológicas da facção hegemônica no PT, ou seja, à chamada “articulação” e sua adesão aos valores da estabilidade e da “governabilidade” democráticas (abstratamente consideradas), metas estas 20 Como observa Diniz (2005: 12) a demissão de Carlos Lessa do BNDES, em novembro de 2004, marca a derrota irreversível destes setores “nacional-desenvolvimentistas”, potenciais “representantes” de uma eventual “burguesia nacional” no governo Lula. Por outro lado, a desilusão de segmentos da classe média com as políticas sociais do governo Lula foi tamanha que alguns analistas chegaram a qualificar de “neoliberais” propostas tais como a instauração de um sistema único de previdência social, que assegurasse direitos sociais equivalentes a trabalhadores dos setores público e privado. A esse respeito, cf. MARQUES (2006). 21 Série de fatores que foram lapidarmente sintetizados por um analista como conjuntura de “esfacelamento do Mito Burguês da inevitabilidade da intervenção crescente do Estado nas ‘sociedades industriais modernas’” (cf. SAES, 1998: p. 187). dificilmente compatíveis com a implementação de uma série de decisões articuladas (ou seja, uma estratégia) visando a implementação de um WS no Brasil logo após a vitória nas eleições presidenciais de outubro de 2002, mais um pleito de natureza “plebiscitária” e organizado em fracas bases partidárias conforme determinado pela regras institucionais que regulamentam as eleições no Brasil22. Ora, foi justamente esse fato, no nosso entender, que introduziu um ingrediente adicional na última conjuntura política brasileira, que fez com que o recente pleito eleitoral, ao menos no primeiro turno, não tenha sido uma mera reprodução da polarização entre “conservadores” e “social-democratas” (ou “social-liberais”), tal como ocorre nas democracias capitalistas (por ora) “consolidadas” dos países capitalistas centrais23. O fato de o primeiro governo de esquerda eleito no Brasil por um partido de massas não ter avançado na implantação de um WS, mas ter capitulado a setores das classes dominantes autóctones e às agências financeiras internacionais implantando um programa “social-liberal” conservador, faz com que se abrisse uma possibilidade adicional na última conjuntura eleitoral, na medida em que o alinhamento das políticas governamentais do 22 Como tem sido sublinhado por Oliveira em seus textos (OLIVEIRA, 2006a, 2006b), é provável que a causa sociológica mais imediata dessa mudança de comportamento das lideranças petistas seja sua integração (individual e coletiva) dentro de esquemas financeiros de acumulação de capital propiciados pelo capitalismo globalizado brasileiro, especialmente Fundos de Pensão e outras modalidades de gerenciamento de fundos financeiros, que deu origem a uma espécie de burguesia bancária de Estado de origem sindical (a “nova classe”), beneficiada pelos esquemas de acumulação financeira propiciados pelo endividamento interno do Estado brasileiro. Estaríamos assim diante de um espécime específico de um fenômeno mais genérico para o qual chamamos a atenção anteriormente: a mudança qualitativa de status de lideranças das classes trabalhadoras devido a sua integração na lógica do burocratismo burguês e o conseqüente acesso às redes de relações que tornam tal aparelho de Estado permeável aos interesses dos diversos subgrupos das classes dominantes. Para o conceito de “permeabilidade”, amplamente compatível com a problemática do burocratismo, conferir os sugestivos trabalhos de Marques (1999; 2002). 23 É importante observar aqui que, mesmo nos casos onde houve transformações de partidos originalmente social-democratas em “social-liberais”, diferenças substantivas entre estas correntes políticas e os “conservadores” ou burgueses-neoliberais continuam a existir, tanto em nível da representação partidária, quanto ao nível das múltiplas dimensões das gestões de governo. A esse respeito, cf. (BOIX, 1998. Apud. REIS, 2005: p. 8). GAC - GRUPO DE ANÁLISE DE CONJUNTURA - CONFERÊNCIA INAUGURAL 16 governo Lula com as diretrizes emanadas das várias frações da burguesia interna brasileira (grande capital bancário; grande capital industrial), sem formulação explícita de diretrizes partidárias anteriores nesse sentido, tornou possível o surgimento de uma nova alternativa política “orgânica” nesse pleito eleitoral, mas cujos efeitos e desdobramentos podem se fazer sentir em etapas futuras de desenvolvimento do sistema político brasileiro. E aqui chegamos ao terceiro ponto de nossa análise: as alternativas abertas aos eleitores na última conjuntura político-eleitoral brasileira. Proposição 3: Caso as proposições acima sejam plausíveis, podemos deduzir delas que estivemos diante de três alternativas políticas significativas no último pleito eleitoral, e que tais alternativas expressaram as forças sociais distintas que deram sustentação política e “organicidade” a cada uma das candidaturas. Alternativa 1: Inicialmente, tivemos um “neoliberalismo” de cunho mais conservador, que ocupou o espaço da centrodireita no espectro político brasileiro, representado pela candidatura da coligação PSDB-PFL e pelas forças sociais que lhe dão sustentação e que gravitam em torno desse núcleo dirigente. Os principais setores ou segmentos sociais que deram sustentação a essa candidatura, a nosso ver são os seguintes: a) o capital financeiro internacional, representado pelas autoridades financeiras mundiais mais importantes e/ou por aqueles economistas e técnicos ligados aos bancos e gerenciadores de aplicações financeiras vinculadas a essas agências; b) a maior parcela ou a fração majoritária das classes dominantes e da grande burguesia industrial “associadas” brasileiras, que desejam a retomada do modelo econômico anterior (forte retração do intervencionismo estatal, “ajuste fiscal”; desregulamentação do mercado de mão-deobra e maior abertura da economia ao capital estrangeiro), cuja implementação não se consumou devido à crise cambial e à crise da bancada governista na segunda metade do governo FHC; c) segmentos da classe média liberal-conservadora abastada subordinada ideológica e economicamente ao setor privado da economia, setores da “nobreza de estado”, grande mídia conservadora pró-imperialista e alinhada ao governo e ao modus vivendi norteamericanos, e um apoio difuso em setores da baixa classe média politicamente desorientados em virtude das contínuas denúncias de “corrupção” pela mídia (o chamado voto “volátil”, via de regra decisivo em disputas eleitorais equilibradas), assim como da “reação” dos dirigentes petistas a tais denúncias. Como tem sido sublinhado por vários observadores, um dado novo para a explicação do comportamento político desse bloco conservador, situado à direita do espectro político brasileiro, é que ele perdeu a base de sustentação entre os mais pobres devido à implementação e ao relativo sucesso de programas tais como o Bolsa Família, e também no seio de segmentos substanciais da própria classe dominante brasileira, devido à aproximação do governo Lula e dos petistas de uma maneira geral com as frações mais “desenvolvimentistas” e progressistas do empresariado. Observe-se de passagem que essa perda da base social das elites dirigentes neoliberais “associadas” é o que explica a nova forma de intervenção na cena política de alguns de seus representantes (ou, pelo menos, da área mais conservadora desse campo político), com insistentes denúncias de “corrupção” e um estilo político protogolpista já qualificado alhures de “neolacerdismo”. Também isso talvez explique o fato de que algumas destas lideranças declarem-se (ao menos publicamente e para fins eleitorais) adeptas de um “neodesenvolvimetismo” e de um “choque de gestão” para tornar mais eficiente a máquina governamental, e não de um pesado ajuste fiscal com um novo ciclo de privatizações e/ou maior abertura da economia ao capital estrangeiro, visando a transferência acionária de empresas nacionais (estatais e privadas) para setores vinculados ao capital financeiro internacional, medidas estas eventualmente capazes de alavancar um novo período de crescimento baseado na incorporação intensiva de capital e de tecnologia estrangeiros. GAC - GRUPO DE ANÁLISE DE CONJUNTURA - CONFERÊNCIA INAUGURAL 17 Não por acaso alguns analistas têm observado que, a permanecer nesse estilo de atuação, esta corrente política tende a converter-se numa nova “UDN”, mas com bases políticas mais sólidas, devido ao maior percentual do eleitorado urbano de alta classe média e às fortes bases políticas regionais de alguns dos principais partidos políticos que lhe dão sustentação, que integram os setores mais atrasados e arcaicos (do ponto de vista político) das oligarquias regionais brasileiras24. Alternativa 2: Por outro lado, tivemos a opção da continuidade do chamado “socialliberalismo” mezzo-populista de Lula, também sustentado por várias forças sociais, mas distintas do bloco político anterior, dentre as quais as principais são as seguintes: a) setores empresariais minoritários e mais nacionalistas, qualificados tradicionalmente pela literatura como “burguesia interna” ou “burguesia nacional-dependente” (BRESSER PEREIRA, 2005); b) setores das classes trabalhadoras organizadas orientados pela ideologia tradeunionista e alinhados com o governo Lula, e movimentos sociais que foram “cooptados” pelo aparelho de Estado ou alimentam a expectativa de uma “guinada à esquerda” do governo Lula num eventual segundo mandato; c) a imensa massa de trabalhadores pobres, sub-remunerados e (ainda) desorganizados, beneficiados pelo Bolsa Família e pelas políticas sociais do governo. E aqui, justamente, reside a faceta populista da candidatura Lula e de seu estilo de liderança, na medida em que ele não consegue transferir para o PT os votos e a simpatia política obtidos nessa parcela mais atrasada do eleitorado, ainda sob a influência de uma lógica de cunho mais clientelista, personalista e despolitizada (MARQUES, 2006)25; d) segmentos das oligarquias tradicionais de 24 Referimo-nos aos ACM, Jereissati, Maciel, Bornhausen e tutti quanti. 25 Talvez seja desnecessário acrescentar que o recurso e o estímulo a esse sistema personalizado e individualizado de identidade simbólica entre líder e eleitor pelo próprio staff petista, além dos desajustes gerados no próprio esforço de longo prazo de construção e consolidação partidárias, pode causar problemas para uma eventual continuidade do projeto petista no poder no processo sucessório em 2010. estados economicamente mais atrasados e, portanto, mais suscetíveis aos impactos das políticas de transferência de renda e de investimentos regionais implementadas pelo governo Lula; e) e, por fim mas não menos importante, amplos setores das classes médias democráticas e progressistas alocados no interior do aparelho de Estado e/ou que se beneficiam de transferências concentradas de recursos do poder central. Alternativa 3: Por fim, podemos mencionar o “proto-populismo socialdemocrata” da ex-senadora Heloísa Helena, que ocupou aquele espaço político-ideológico deixado vazio pela guinada ao centro do governo Lula, sustentado por forças sociais menos numerosas e influentes que os dois blocos anteriores, mas nem por isso inteiramente irrelevantes: a) segmentos da classe média democrática e “radicalizada” desencantados com o governo Lula; b) setores mais politizados e organizados do movimento popular, e um apoio difuso generalizado em várias camadas da população desorientadas politicamente com as denúncias de corrupção contra o governo Lula. Apesar do caráter “proto-populista” e moralista “pequeno-burguês” da candidatura Heloísa Helena e da coligação PSOL-PSTUPCB, revelada em suas aparições eleitorais26, a maior novidade do último processo eleitoral, a nosso ver, foi a de que a crise do PT abriu a perspectiva de um novo ciclo de organização partidária nas esquerdas que consideramos ser o ingrediente mais interessante da presente conjuntura, e que nos permite fazer uma leitura de certa forma “otimista” do atual momento histórico. E aqui chegamos ao último ponto da presente exposição que são os cenários mais prováveis e, também, as prescrições políticas que deles derivam. 26 Escrito em meados de agosto de 2006. As aparições subseqüentes da candidata na TV e no horário eleitoral, com uma campanha excessivamente personalista, com propostas políticas não muito articuladas e focadas predominantemente na personalidade da candidata, em detrimento dos programas do partidos que compunham a coalizão, confirmaram alguns dos prognósticos acima. GAC - GRUPO DE ANÁLISE DE CONJUNTURA - CONFERÊNCIA INAUGURAL 18 V) Cenários prováveis e possíveis desdobramentos. Pois bem. Tendo em vista as três alternativas abertas acima para o eleitorado brasileiro nas últimas eleições, podemos colocar as perguntas fatídicas que, como analistas de conjuntura, não podemos nos furtar a, pelo menos, formular de maneira explícita: E daí? O que fazer? Como dito acima, de nossa perspectiva o aspecto mais interessante do atual cenário é a abertura da possibilidade de um novo ciclo organizativo na esquerda brasileira, que redunde na criação de novas legendas partidárias que mantenham acesas a “utopia” da implantação de um Estado de Bem-Estar em países da periferia do capitalismo, projeto que parece ter sido definitivamente sepultado pelos petistas, mesmo como horizonte de longo prazo27. A partir desta constatação, podemos traçar alguns cenários possíveis de serem concretizados como conseqüência dos eventos ocorridos no último pleito eleitoral: Cenário 1: Volta da grande burguesia “associada” ao poder, ocasionada pela (pouco provável) vitória eleitoral de um candidato da coligação PSDB-PFL bem como das forças sociais que lhe dão apoio. Podemos considerar este um cenário pouco provável no curto prazo devido à força de penetração do Bolsa Família e do impacto que esta penetração gerou nas estratégias eleitorais do neoliberalismo “associado”, desgastando a antiga estratégia de jogar os pobres contra os remediados para dar um certo tom igualitário às chamadas “reformas pró-mercado”. Como foi dito acima, devido à perda da base de massas entre os setores mais pobres da população, o campo político conservador focou seu discurso eleitoral no combate à “corrupção” e em um pouco convincente (a lembrança dos anos FHC ainda está viva no eleitorado e em importantes setores empresariais) ensaio de retomada da 27 A expectativa é a de que os próximos Congressos do partido definam-se com mais clareza a respeito de todos estes pontos programáticos. plataforma “desenvolvimentista”, inclusive com tinturas nacionalistas (corrente Bresser/Nakano)28. Entretanto, deve ser considerado aqui como fator capaz de reverter essa tendência o amplo apoio dado ao campo neoliberal pela grande mídia conservadora e por alguns dos setores mais poderosos do empresariado brasileiro, sempre dispostos a alocar recursos para tentativas de desestabilização de governos de partidos de esquerda.29 Cenário 2: A organização de um novo (embora pequeno) partido de esquerda de massas. Outro cenário possível resultante das eleições de outubro de 2006 é a organização de um novo partido social-democrata de esquerda, que ocupe o espaço político deixado vazio pela guinada ao centro do governo Lula, e arregimente organizacionalmente setores desencantados da classe média democrática e do campo político democrático e popular de uma maneira geral. Entretanto, tal possibilidade se depara com vários obstáculos, dos quais devemos destacar os seguintes: (i) o “protopopulismo” da própria candidata Heloísa Helena, que “personalizou” a campanha eleitoral e adotou um estilo de liderança que não 28 Diga-se de passagem que, no segundo turno das eleições, os eleitores agiram racionalmente ao tratar tais propostas como “promessas pouco críveis”, credibilidade esta que só diminuía a cada “pronunciamento” de economistas peessedebistas mais ortodoxos, ao que parece ainda hegemônicos no interior do partido(Nota de outubro de 2006). Por outro lado, a consagradora vitória eleitoral do candidato Lula no segundo turno das eleições parece ter provocado uma reavaliação estratégica e um reposicionamento nesse campo político, com o enfraquecimento de seus setores mais conservadores, e o fortalecimento dos segmentos que preconizam a adoção de uma estratégia de “longo prazo” para as eleições em 2010, através do patrocínio de uma candidatura de perfil mais “desenvolvimentista”. (Nota de dezembro de 2006). 29 O caso da Venezuela pode ser tomado como uma advertência de que tentativas de golpe de Estado patrocinadas por setores do grande empresariado, associados ao imperialismo norte-americano, ainda são uma possibilidade bastante palpável nas democracias latino-americanas que, diga-se de passagem, só estão “consolidadas” para os espíritos de um otimismo quase panglossiano. Afinal, o teste definitivo para a “consolidação” das democracias capitalistas não é a mera subida ao poder de partidos de esquerda e a consagração do “princípio da alternância”, mas sim o término de gestões de esquerda que implementem políticas efetivamente redistributivas, contra as resistências inclusive de poderosos segmentos da classe dominante e da burocracia de Estado. Desde Lipset pelo menos sabemos que muito dificilmente há estabilidade e consolidação democráticas com a manutenção de desumanos níveis de desigualdade social tais como os atualmente vigentes nos países da América Latina. GAC - GRUPO DE ANÁLISE DE CONJUNTURA - CONFERÊNCIA INAUGURAL 19 contribui para esclarecer aos “eleitores” que a principal “tarefa” da esquerda no momento é organizar um partido com representação parlamentar que, ao manter acesa a “utopia” de instauração de um WS no Brasil, possa fazer uma crítica de esquerda consistente ao PT (muito diferente do chamado “apoio crítico” de agremiações atreladas ao governo Lula) e dinamizar a politização ou a chamada “consciência cívica” das classes trabalhadores; (ii) muitos setores que poderiam se constituir em base social para o PSOL se encontram devidamente “enquadrados” dentro no PT, em grande parte na expectativa de que o governo Lula dê uma “guinada à esquerda” em seu segundo mandato. Essa possibilidade de instauração de um pluralismo político partidário da esquerda reformista no Brasil atual, a meu ver, é o ingrediente mais interessante da presente conjuntura30. Cenário 3: Perspectivas do segundo mandato Lula. Indo direto ao ponto: poderá o governo Lula dar uma eventual “guinada à esquerda” em seu segundo mandato? Deve-se observar inicialmente que a organização do PSOL e de uma “oposição de esquerda” minimamente articulada, mesmo com todas as deficiências ideológicas e organizativas que poderiam ser apontadas sem dificuldades nesta agremiação, age como um elemento de pressão nesse sentido, na medida em que a mera existência e presença na cena política de mais uma organização independente de esquerda, embora frágil, competindo com o PT em nome de suas bandeiras programáticas “originárias” de instauração de um Estado de Bem-Estar, pode agir como fator de “dissuasão” para políticas mais conservadoras e de pressão para políticas econômicas e sociais mais “à esquerda” (i. e., que 30 Isso porque, de nosso ponto de vista, ainda não estão presentes, no atual estágio de desenvolvimento político capitalista da sociedade brasileira, as condições necessárias para a organização de Partidos Comunistas Democráticos de massa, que coloquem como meta de curto e médio prazos a implantação de um verdadeiro sistema social socialista, que não deve ser confundido, diga-se de passagem, com alguma das múltiplas variantes do capitalismo de Estado travestidas de “socialismo real” que foram implantadas em determinados países da periferia do Capitalismo ao longo do século XX. aprofundem a democracia e aumentem a universalização dos direitos e a qualidade de vida das classes trabalhadoras). Além disso, o surgimento de pelo menos duas candidaturas competitivas do campo político conservador à sucessão de Lula que preconizam de maneira mais explícita estratégias “desenvolvimentistas”, age como fator de pressão nesse sentido. Entretanto, a natureza dos compromissos assumidos durante a campanha eleitoral e a configuração futura do novo quadro partidário, fazem com que isso seja pouco provável. O mais provável é que o PT forme uma coalizão de “centro-esquerda” com o PMDB (este fortalecido na próxima legislatura) e outros partidos de centro, e continue a implantação de sua plataforma “social-liberal”, com reforma trabalhista, da previdência, ajuste fiscal (com manutenção das metas de superávit primário e de inflação), mas sem grandes cortes no gasto público da magnitude da proposta pela “burguesia associada” e de seus dirigentes políticos. O que abre espaço ¾ caso essa hipótese se concretize, ou seja, de aprofundamento da implantação de um programa “desenvolvimentista social-liberal” moderadamente redistributivo e mais sensível aos comandos do capital bancário brasileiro no segundo mandato Lula, que entre em confronto com interesses corporativos de setores organizados das classes trabalhadoras ¾ para novas cisões no PT e para a incorporação destes segmentos no PSOL (na hipótese desse partido apresentar uma proposta programática alternativa e consistente em seus próximos congressos, e não servir apenas de suporte eleitoral para candidaturas personalistas), processo este que pode gerar “feedbacks” na própria dinâmica interna do governo petista e do próprio partido. Tudo dependerá do perfil do novo governo Lula e aos comandos de quais forças sociais obedecerá a agenda a ser apresentada e implementada por tal governo. Assim, devemos aguardar o anúncio da nova equipe governamental e das primeiras medidas de política econômica e social do segundo mandato, para pronunciamentos mais GAC - GRUPO DE ANÁLISE DE CONJUNTURA - CONFERÊNCIA INAUGURAL 20 fundamentados sobre as diretrizes deste governo, bem como para uma avaliação dos impactos de tais diretrizes no sistema de posições relativas que hierarquiza os vários estratos sociais da sociedade brasileira. Uma inferência geral que talvez se possa fazer da análise acima é a de que os partidos de esquerda não podem se converter em meras “correias de transmissão” dos governos, pois isso tem impactos bastante negativos sobre a organização popular e a militância política (OLIVEIRA, 2006). A evidência mais palpável desses impactos talvez tenha sido o baixo grau de envolvimento e reduzida motivação da militância de esquerda (ou do que restou dela), inclusive do próprio PT, nas últimas eleições (especialmente no primeiro turno), com poucos adesivos no carro e fraca campanha eleitoral “militante” e boca-a-boca, fato que não deve ser imputado apenas à restritiva e casuística “Lei Bornhausen” que regulou o pleito eleitoral. Há duas formas de equacionar esses problemas, ou seja, da despolitização das classes trabalhadoras, do eleitorado, da militância e dos simpatizantes de uma maneira geral pelo fato dos partidos de esquerda, em nome da “governabilidade” e da “estabilidade” do sistema político democrático, se converterem em porta-vozes de políticas governamentais conservadoras implementadas por um Estado capitalista, e serem envolvidos pelas dimensões mais obscuras do funcionamento de uma democracia parlamentar capitalista: (i) dinamizar a luta interna dos partidos, evitando que os setores da agremiação que estão no governo controlem rigidamente ou tenham a hegemonia estrita da organização, obstaculizando a estratégia de longo prazo de fortalecimento partidário, coisa que ocorreu em raras ocasiões do governo petista, pois o partido tendeu a se converter num porta-voz do governo, exceto no tocante à reivindicação de cargos nos escalões superiores da administração; (ii) engajar-se num processo de organização partidária alternativa que possibilite que setores não-governamentais da esquerda capitalizem o descontentamento popular contra os próprios governos de esquerda. O exemplo recente da vitória eleitoral do Partido da Refundação Comunista na Itália, assim como de outras tentativas de organização partidária nos países capitalistas centrais, pode ser um indicador de que essa última alternativa ¾ ou seja, a possibilidade de um novo ciclo organizativo de esquerda nas sociedades “pósqueda do muro de Berlim” ¾ não seja tão inviável e “utópica” como pretendam as visões mais pessimistas sobre o futuro da organização de partidos de esquerda de massas no atual estágio do desenvolvimento político capitalista. Não pode ser também inteiramente descartada a hipótese de que, nas próximas décadas, tal ciclo organizativo se articule a processos bemsucedidos de implementação de modelos “nacional-democráticos” de desenvolvimento capitalista em países da periferia do Capitalismo, de preferência que redundem na implantação de “welfares states” sob a hegemonia de partidos de esquerda nessas formações sociais. A ver. Apêndice: nota sobre o segundo turno [opcional; pode ser suprimido] A respeito do segundo turno das eleições, gostaríamos apenas de destacar os seguintes aspectos: 1) Os resultados do primeiro turno das eleições presidenciais evidenciaram que as novas correntes de esquerda em estágio inicial de organização ainda têm muito a aprender sobre o uso estratégico das decisões de voto em eleições majoritárias de dois turnos nas democracias capitalistas dita "representativas". A literatura especializada tem chamado a atenção para o fato de que, falando de uma maneira geral, os sistemas majoritários (de um ou dois turnos) são bastante desfavoráveis para a organização de partidos de esquerda “radicais” (social-democratas de esquerda; socialistas; comunistas). Autores "liberais", tais como M. Duverger e Giovanni Sartori, consideram que tais modalidades de organização das GAC - GRUPO DE ANÁLISE DE CONJUNTURA - CONFERÊNCIA INAUGURAL 21 eleições são as mais desfavoráveis à esquerda, devido às concessões programáticas envolvidas nas negociações para a viabilização eleitoral dos partidos de esquerda num pleito majoritário de dois turnos, o que implica a descaracterização programática de tais partidos e sua assimilação enquanto “partidos da ordem”. Daí que defendam esse sistema eleitoral como forma mais eficaz de inibir a organização de "partidos anti-sistema". Apesar dos resultados eleitorais indicarem uma derrota dos setores mais combativos da esquerda nas recentes eleições parlamentares, não somos tão pessimistas. Estudos recentes (MELO, 2005) demonstram que, falando de uma maneira geral, os partidos que lançam sistematicamente candidatos em eleições majoritárias para a chefia do Executivo tendem a crescer mais rápido, e a obterem maiores ganhos políticos do processo eleitoral (devido à chamada "conexão com o Executivo"). Embora não tenha sido exatamente o que ocorreu nas últimas eleições (devido aos excelentes resultados eleitorais do PMDB para a Câmara dos Deputados que, como se sabe, não lançou candidato presidencial), isso não desmente necessariamente a regra geral. É importante frisar que o sistema eleitoral brasileiro apresenta características diferentes de sistemas de dois turnos como o francês, extremamente prejudicial aos partidos mais à esquerda, pois aqui, no Brasil, temos eleições majoritárias de dois turnos para a chefia do Executivo coexistindo com eleições proporcionais para o parlamento. Isso faz com que os partidos de esquerda possam lançar candidatos majoritários "puxadores" de voto para fortalecer os partidos em seus estágios iniciais de organização. O próprio PT dirceuzista utilizou muito bem tal estratégia, pelo menos até uma determinada etapa de seu desenvolvimento (Cf. SAMUELS, 2004). Entretanto, tal estratégia não funciona muito bem ou tem pouca eficácia em algumas circunstâncias, tais como: (i) quando os partidos não possuem fortes candidatos "puxadores de voto" às eleições majoritárias e conhecidos em toda a circunscrição eleitoral, daí que alguns deles optem sistematicamente por realizar coligações com outros partidos como estratégia para fortelecer a representação parlamentar de suas agremiações (na esquerda brasileira o caso clássico é o do PCdoB, por exemplo); (ii) os candidatos a cargo majoritário realizam campanhas eleitorais à moda protopopulista ou ao estilo do "bonapartismo soft" (para usar a expressão empregada pelo filósofo italiano Domenico Losurdo, 2005), personalizando o pleito eleitoral (estratégia empregada sistematicamente pelo PDT de Brizola, por exemplo), em detrimento da necessidade de uma "luta prolongada" para o fortalecimento do partido e de obtenção de uma poderosa e influente bancada parlamentar, além de maior institucionalização das instâncias deliberativas intermediárias dos partidos (Congressos, encontros etc.). Desta perspectiva, a candidata HH, apesar da significativa votação obtida, a nosso ver perdeu uma boa oportunidade de levar adiante uma estratégia diversa das anteriores no último pleito eleitoral, ao optar por propagar uma espécie de "populismo social-democrata" em sua campanha eleitoral, de tinturas moralistas despolitizantes ("nenhum compromisso”; uso da camisa branca para simbolizar a "pureza" etc.), que a levou inclusive a capitalizar votos do eleitorado mais conservador e sem identidade política substantiva com as propostas do PSOL. 2) Assim, no segundo turno das eleições, são as duas outras alternativas enumeradas acima que estiveram em disputa pelo poder governamental e pela gestão do poder de Estado nos próximos quatro anos. O surgimento desse novo quadro no segundo turno gerou, como poderia se esperar, um amplo debate no campo político de esquerda. Dessa perspectiva, ventilaram-se as seguintes opções para o atual momento político.31 a) Em primeiro lugar, a defesa do voto incondicional em Lula com todas as suas implicações: assinaturas de “manifestos”, 31 Estas informações foram extraídas do informativo site da Ação Popular Socialista: http://www.acaopopularsocialista.org.br/ GAC - GRUPO DE ANÁLISE DE CONJUNTURA - CONFERÊNCIA INAUGURAL 22 atribuir a Lula o status de "única alternativa possível" de esquerda etc. Tal posicionamento, expresso por movimentos sociais como o MST, lideranças tais com Stédile, partidos como o PCdoB e por alguns segmentos da esquerda que votaram em HH no primeiro turno, implica numa aceitação algo acrítica do "lulismo", ou seja, do mezzo-populismo social-liberal. b) Em segundo lugar, foi manifestada a proposta de "lavar as mãos" e de omitir-se quanto a qualquer declaração formal de voto. Trata-se da posição de Luciana Genro, da direção do PSOL e da própria HH. Também pouco contribui para a politização da esquerda e para o acúmulo de forças das "alternativas" (partidárias) de esquerda, pois optaram por permanecer inermes em relação ao processo e tendem a ser instrumentalizados pela direita. c) Voto Condicional. Postura do PCB e esquerda do PDT, ao menos num primeiro momento. Esses setores parecem alimentar a expectativa de que o governo Lula possa, de maneira espontânea, atender a algumas das reivindicações do campo democrático-popular e dar uma “guinada à esquerda” no segundo mandato, de certa forma legitimando a idéia de setores que optaram por ocupar cargos governamentais, segundo os quais o governo Lula seria um "governo em disputa", e de que possa mudar de rumo e atender a certas reivindicações substanciais dos trabalhadores sem pressão externa. d) Voto Nulo. PSTU. Duarte Pereira. A premissa (equivocada) comum a estas posições parece ser a de que as candidaturas Alckmin e Lula representaram forças basicamente idênticas, sem diferenças substanciais entre si. e) Voto Crítico. Consideram que, mesmo que o perfil do governo Lula se mantenha semelhante ao primeiro mandato, trata-se de uma alternativa mais progressista do que o retorno do campo político conservador ao comando do aparelho de Estado. Tal perspectiva impôs "condições" ao governo Lula, mas sem esperanças de serem de fato atendidas, apenas para marcar posição e pressionar manifestações públicas das lideranças petistas, sobre temas de sua agenda política. Preconiza também que, qualquer que seja o perfil do segundo governo Lula, deve-se permanecer no projeto de criar e/ou fortalecer organizações e partidos de esquerda, mais próximos aos movimentos sociais, sem colocar como meta primária de curto prazo a ocupação de cargos governamentais ou a vitória a qualquer preço em eleições majoritárias despolitizadas e organizadas em fracas bases partidárias. Em suma: de todas as opções enumeradas acima, é provável que esta última seja a opção logicamente mais consistente e que possibilitasse maiores ganhos políticos, do ponto de vista do campo político de esquerda como um todo (fora e dentro do governo), por motivos que talvez possam ser deduzidos pelo leitor atento das considerações feitas neste texto. Referências bibliográficas: ALTHUSSER, L. (1978). Sobre o trabalho teórico; dificuldades e recursos. Lisboa: Presença. ALVES, J. E. D.; FAVERSANI, F. (2002). Análises de conjuntura: globalização e o segundo governo FHC. 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