6 DA PRIMEIRA FASE: PROVA OBJETIVA
6.1 A Prova Objetiva, de caráter eliminatório, abrangerá as seguintes disciplinas: Português,
História do Brasil, História Mundial, Geografia, Política Internacional, Inglês, Noções de
Economia e Noções de Direito e Direito Internacional Público.
6.2 Data e horário: a Prova Objetiva será aplicada na data provável de 24 de janeiro de 2010,
em duas etapas: a primeira às 8 horas e 30 minutos (horário oficial de Brasília/DF), com
duração de 3 horas e trinta minutos; e a segunda às 15 horas (horário oficial de Brasília/DF),
também com duração de 3 horas e trinta minutos
9 DA SEGUNDA FASE: PROVA ESCRITA DE PORTUGUÊS
9.1 Data e horário: a prova escrita de Português será aplicada na data provável de 21 de
fevereiro de 2010, às 14 horas (horário oficial de Brasília/DF), nos locais determinados pelo
Edital de convocação a que se refere o item 7.8. Esta prova terá a duração de 5 horas.
9.2 Características: a prova de Português, de caráter eliminatório e classificatório, constará de
redação sobre tema de ordem geral, com a extensão de 600 a 650 palavras (valor: 60 pontos),
e de dois exercícios de interpretação, de análise ou de comentário de textos, com a extensão
de 100 a 150 palavras cada um (valor de cada exercício: 20 pontos). Os exercícios de
interpretação, de análise ou de comentário de textos terão por base extratos dos livros
indicados na bibliografia obrigatória constante do programa da prova de Português, que
integra o Anexo deste Edital.
10 DA TERCEIRA FASE: PROVAS ESCRITAS DE HISTÓRIA DO BRASIL, DE
GEOGRAFIA, DE POLÍTICA INTERNACIONAL, DE INGLÊS, DE NOÇÕES DE
ECONOMIA E DE NOÇÕES DE DIREITO E DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO.
10.1 A Terceira Fase constará de seis provas escritas, a serem realizadas de acordo com o
seguinte calendário:
- data provável de 24 de abril de 2010: História do Brasil;
- data provável de 25 de abril de 2010: Geografia;
- data provável de 1º de maio de 2010: Inglês;
- data provável de 2 de maio de 2010: Política Internacional;
- data provável de 8 de maio de 2010: Noções de Economia;
- data provável de 9 de maio de 2010: Noções de Direito e Direito Internacional Público.
10.2 As provas da Terceira Fase terão a duração de 4 horas cada uma, com início às 9 horas
(horário oficial de Brasília/DF).
10.3 Características referentes às provas da Terceira Fase:
10.3.1 As provas de História do Brasil, de Geografia, de Política Internacional, de Noções de
Economia e de Noções de Direito e Direito Internacional Público consistirão, cada uma, de
quatro questões discursivas, duas das quais com o valor de 30 (trinta) pontos cada uma e duas com o valor de 20 (vinte) pontos cada uma, totalizando, assim, 100 (cem) pontos para cada
prova.
10.3.1.1 Nas provas de História do Brasil, de Geografia e de Política Internacional, as
respostas às duas questões com o valor de 30 (trinta) pontos terão, cada uma, a extensão
máxima de 90 linhas, e as respostas às duas questões com o valor de 20 (vinte) pontos terão,
cada uma, a extensão máxima de 60 linhas.
10.3.1.2 Nas provas de Noções de Economia e de Noções de Direito e Direito Internacional
Público, as respostas às duas questões com o valor de 30 (trinta) pontos terão, cada uma, a
extensão máxima de 60 linhas, e as respostas às duas questões com o valor de 20 (vinte)
pontos terão, cada uma, a
extensão máxima de 40 linhas.
10.3.2 A prova de Inglês, com o valor máximo de 100 (cem) pontos, constará de tradução de
um texto do inglês para o português (valor 20 pontos); versão de um texto do português para o
inglês (valor 15 pontos); resumo de um texto (valor 15 pontos); e redação a respeito de tema
de ordem geral, com extensão de 350 a 450 palavras (valor 50 pontos).
10.3.2.1 Será apenada a redação que desobedecer à extensão mínima de palavras, deduzindose
0,20 ponto para cada palavra que faltar para atingir o mínimo exigido de 350. Será
atribuída nota 0 (zero) à redação, caso o candidato não se atenha ao tema proposto ou obtenha
pontuação 0 (zero) na avaliação da correção gramatical.
10.4 O candidato que não comparecer a uma das seis provas, ou entregar uma prova em
branco ou com qualquer forma de identificação diferente da permitida, estará eliminado e não
terá qualquer das provas corrigidas.
10.5 Aprovação: serão considerados aprovados na Terceira Fase do Concurso os candidatos
que tenham alcançado a nota mínima de 360 (trezentos e sessenta) pontos na soma das
pontuações obtidas nas seis provas desta fase.
11 DA QUARTA FASE: PROVAS ESCRITAS DE ESPANHOL E DE FRANCÊS
11.1 A Quarta Fase constará de provas escritas de Espanhol e de Francês, de caráter
exclusivamente classificatório, com o valor de 50 (cinquenta pontos) cada prova.
11.2 A prova de Espanhol será realizada na data provável 1º de maio de 2010, às 16 horas
(horário oficial de Brasília/DF), e terá a duração de 2 horas. A prova de Francês será realizada
na data provável de 9 de maio de 2010, às 16 horas (horário oficial de Brasília/DF), e terá
também a duração de 2 horas.
11.3 Todos os candidatos aprovados na Segunda Fase deverão fazer as provas da Quarta Fase.
11.3.1 Apenas os candidatos aprovados na Terceira Fase terão corrigidas suas provas da
Quarta Fase.
11.4 O candidato que não comparecer às provas da Quarta Fase, ou que as entregar em branco
ou com qualquer forma de identificação diferente da permitida, estará eliminado do Concurso.
11.5 A prova de Espanhol constará de dez questões relativas a textos em língua espanhola,
com o valor de 5 pontos por questão.
PROVA OBJETIVA
A prova objetiva, de caráter eliminatório, visa a testar, de modo amplo, a capacidade
de compreensão e a cultura dos candidatos, com base nos programas das provas discursivas
que constituem a segunda e a terceira fases do Concurso e no programa de História Mundial
estabelecido pelo edital reproduzido neste Guia de Estudos.
No Concurso de 2010, assim como no exame do ano anterior, a prova objetiva será
constituída de 80 questões objetivas de Português, de História do Brasil, de História Mundial,
de Geografia, de Política Internacional, de Inglês, de Noções de Economia e de Noções de
Direito e Direito Internacional Público. Em virtude do caráter interdisciplinar da prova, uma
questão poderá contemplar conhecimentos relativos a mais de uma disciplina.
PORTUGUÊS
A prova de Português, de caráter eliminatório e classificatório, constará de redação
sobre tema de ordem geral, com a extensão de 600 a 650 palavras (valor: 60 pontos), e de dois
exercícios de interpretação, de análise ou de comentário de textos, com a extensão de 100 a
150 palavras cada um (valor de cada exercício: 20 pontos). A redação e os exercícios de
interpretação textual terão por base textos extraídos da bibliografia obrigatória constante do
programa abaixo.
Programa (Primeira e Segunda Fases):
1. Língua Portuguesa: modalidade culta usada contemporaneamente no Brasil.
1.1 Sistema gráfico: ortografia, acentuação e pontuação; legibilidade.
1.2 Morfossintaxe.
1.3 Semântica.
1.4 Vocabulário.
2. Leitura e produção de textos.
2.1 Compreensão, interpretação e análise crítica de textos em língua portuguesa.
2.2 Conhecimentos de Linguística, Literatura e Estilística: funções da linguagem;
níveis de linguagem; variação linguística; gêneros e estilos textuais; textos literários e
não literários; denotação e conotação; figuras de linguagem; estrutura textual.
2.3 Redação de textos dissertativos dotados de fundamentação conceitual e factual,
consistência argumentativa, progressão temática e referencial, coerência, objetividade,
precisão, clareza, concisão, coesão textual e correção gramatical.
2.3.1 Defeitos de conteúdo: descontextualização, generalização, simplismo, obviedade,
paráfrase, cópia, tautologia, contradição.
2.3.2 Vícios de linguagem e estilo: ruptura de registro linguístico, coloquialismo,
barbarismo, anacronismo, rebuscamento, redundância e linguagem estereotipada.
Bibliografia obrigatória: ASSIS, Machado de. Esaú e Jacó. FREYRE, Gilberto. Casa
Grande & Senzala. FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. HOLANDA,
Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. ---.Visão do Paraíso. NABUCO, Joaquim. Minha
Formação.
Bibliografia sugerida:
ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa. 3. ed. Rio de Janeiro, 1999.
Atualizado em http://www.academia.org.br/vocabulario
BUARQUE DE HOLANDA FERREIRA, Aurélio. Novo dicionário Aurélio da língua
portuguesa. 3. ed. Rio de Janeiro: Positivo, 2004. (versão impressa e eletrônica).
CAMARA Jr., Joaquim Mattoso. Manual de expressão oral e escrita. 21. ed. Petrópolis:
Vozes, 2002.
CUNHA, Celso e CINTRA, L. F. Lindley. Nova gramática do português contemporâneo.
3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
FERNANDES, Francisco. Dicionário de regimes de substantivos e adjetivos. 25. ed. São
Paulo: Globo, 2000.
GUIA DE ESTUDOS PARA O CONCURSO DE ADMISSÃO À CARREIRA DE DIPLOMATA
24
______. Dicionário de verbos e regimes. 44. ed. São Paulo: Globo, 2001.
GARCIA, Othon M. Comunicação em prosa moderna: aprenda a escrever, aprendendo a
pensar. 21. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2002.
HOUAISS, Antonio. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. São Paulo: Editora
Objetiva, 2001.
______. Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa. Versão 1.0. Dez – 2001.
KOCH, Ingedore G. Villaça. Introdução à lingüística textual. São Paulo: Martins Fontes,
2004.
KURY, Adriano da Gama. Ortografia, pontuação e crase. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1999.
SAVIOLI, Francisco e FIORIN, José Luiz. Manual do Candidato – Português. 2. ed.
Brasília: FUNAG, 2001.
VANOYE, Francis. Usos da Linguagem. 12. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
WILSON, John. Pensar com conceitos. Trad. Waldéa Barcellos. São Paulo: Martins Fontes,
2001.
Orientação para a prova de Português
A prova de Português afere o domínio, por parte do candidato, da norma culta na
modalidade escrita da língua portuguesa, sua competência de leitura e análise críticas, bem
como a capacidade de síntese e de organização de idéias.
A prova apresenta textos curtos – extraídos da bibliografia obrigatória acima
reproduzida – , que servem de base para uma redação (com o valor de 60 pontos) sobre tema
suscitado pelos textos e para dois exercícios de interpretação (com o valor de 20 pontos cada
um). O apoio em textos propicia subsídios ao candidato, visando evitar que deixe de escrever
por falta de motivação ou informação acerca do objeto temático.
Produto do complexo processo de domínio da língua escrita, no nível exigido pelo
concurso, a redação deve revelar a maturidade intelectual do candidato. Este deverá
demonstrar pensamento crítico, proveniente da capacidade de incorporar e inter-relacionar
leituras prévias, sem afastar-se do tema proposto. Será avaliada a habilidade do candidato de
redigir dissertação coerente e coesa, que exponha – com fluência e adequação – informações e
argumentos fundamentados e logicamente encadeados. A aplicação de fórmulas prontas, fruto
de adestramento precário e simplista, é enfaticamente desaconselhada.
As questões de interpretação devem ser respondidas de forma direta e objetiva, o que
não desobriga o candidato de estruturar sua resposta, elaborando texto coerente, apoiado em
raciocínio sólido. São critérios de avaliação nessas questões a objetividade, a precisão, a
clareza e a concisão, além naturalmente do adequado uso da língua portuguesa.
O candidato deverá obedecer aos limites de extensão definidos nos comandos das
questões. Será apenada a redação que desobedecer à extensão mínima de palavras, deduzindose
0,2 pontos para cada palavra que faltar para atingir o total exigido de 600. Será atribuída
nota zero à redação, caso o candidato não se atenha ao tema proposto ou obtenha pontuação
zero na avaliação da correção gramatical.
GUIA DE ESTUDOS PARA O CONCURSO DE ADMISSÃO À CARREIRA DE DIPLOMATA
25
A legibilidade é condição indispensável para a correção da prova escrita de Português.
Prova de 2009
PARTE I – REDAÇÃO
[Natividade] Não atinou... Nem sempre as mães atinam. Não atinou que a frase do discurso
não era propriamente do filho; não era de ninguém. Alguém a proferiu um dia, em discurso ou
conversa, em gazeta ou em viagem de terra ou de mar. Outrem a repetiu, até que muita gente a
fez sua. Era nova, era enérgica, era expressiva, ficou sendo patrimônio comum.
Há frases assim felizes. Nascem modestamente, como a gente pobre; quando menos pensam,
estão governando o mundo, à semelhança das idéias. As próprias idéias nem sempre
conservam o nome do pai; muitas aparecem órfãs, nascidas de nada e de ninguém. Cada um
pega delas, verte-as como pode, e vai levá-las à feira, onde todos as têm por suas.
Machado de Assis. Esaú e Jacó. In: Obra completa. v. I. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985,
p. 993.
As ideias são “patrimônio comum”? Disserte sobre as implicações políticas desta questão,
tendo como ponto de partida a leitura dos dois parágrafos finais do capítulo XXXVII da obra
Esaú e Jacó, de Machado de Assis, acima reproduzidos.
Extensão: de 600 a 650 palavras
(valor: 60 pontos)
LOURENÇO FELIPE DREYER (52,75/60)
Como iniciar uma dissertação sobre idéias – isto é, não sobre uma ou outra idéia em
particular, mas sobre as idéias em geral? Não vejo outra maneira de fazê-lo senão
analisando, em primeiro lugar, o que são as idéias, por meio de um exercício de
metalinguagem. Só então será possível chegar ao ponto central da discussão a que esse texto
se propõe: até que ponto as idéias são coletivas e comuns, e até que ponto são privativas e
individuais.
Nietzsche, em seus escritos, afirma que o que temos de mais íntimo e individual é
sempre incomunicável, pois a linguagem – que se origina, justamente, na coletividade –
distorce e torna comum tudo aquilo que é individual e único. Essa seria, até certo ponto, uma
das próprias funções da linguagem: moldar a subjetividade do indivíduo de acordo com as
idéias e visões de mundo do grupo ao qual ele pertence, habilitando-o dessa forma para a
vida em sociedade.
Penso que nem mesmo Nietzsche saberia dizer, no entanto, exatamente até que ponto
desenvolvemos nossas próprias idéias e até que ponto simplesmente adotamos aquelas que a
sociedade nos oferece – pois é certo que, ao mesmo tempo em que a sociedade molda os
indivíduos, por meio da ação e do pensamento coletivos, os indivíduos também podem moldar
e transformar a sociedade por meio da ação e do pensamento individuais. Existe, portanto, a
possibilidade de o indivíduo e a sociedade sofrerem influências mútuas, de forma que nem a
subjetividade seja inteiramente determinada pela coletividade, nem a sociedade permaneça
presa a um conjunto estático e imutável de idéias. Aliás, é justamente isso – o fato de que
podemos individualmente influenciar e transformar a coletividade – o que nos torna
responsáveis pelas idéias que proferimos, sejam elas oriundas do nosso próprio pensamento
ou do conjunto de idéias coletivas mantido pela sociedade à qual pertencemos.
GUIA DE ESTUDOS PARA O CONCURSO DE ADMISSÃO À CARREIRA DE DIPLOMATA
26
Não seria perigoso, portanto, pensar que as idéias são uma espécie de patrimônio
comum? Se isso fosse mesmo verdade, então qualquer um poderia pegá-las para si, a
qualquer momento, usando-as e vestindo-as ao sabor do momento, sem nenhuma
responsabilidade por sua autoria nem por seu conteúdo. Infelizmente, é assim que muitos
candidatos a cargos políticos agem, em época de eleição: adotam idéias e frases de efeito
para criar uma fachada atraente para seus planos e propostas sem conteúdo. É comum que
políticos de direita adotem, sem nenhum escrúpulo filosófico, discursos e frases típicos da
esquerda – e vice-versa -, o que provoca uma grande indiferenciação entre as propostas dos
diversos partidos políticos brasileiros. Parece que já não existem mais ideologias e filosofias
específicas de esquerda ou de direita. Existe apenas um conjunto de idéias consagradas como
politicamente corretas e utilizadas por todos os políticos, como se fossem um “patrimônio
comum”. A inteligência do país é que mais sai perdendo, quando as idéias que nele circulam
sofrem esse tipo de abuso, sendo proferidas de forma inautêntica por tantas pessoas.
O uso irresponsável das idéias, no entanto, mão é uma exclusividade da época atual.
Machado de Assis, no romance Esaú e Jacó, publicado há mais de cem anos, expôs com
muita ironia as opções políticas dos gêmeos Pedro e Paulo. O tempo da narração transcorre
entre as últimas décadas do Império e os primeiros anos da República. Pedro, com sua
personalidade conservadora, define-se como monarquista. Paulo, dono de uma
personalidade mais transformadora, adota, por sua vez, uma ideologia republicana – cujas
idéias, em certos momentos, chocam sua mãe, Natividade, por irem de encontro ao sistema de
governo estabelecido. Machado de Assis, porém, expõe com ironia a preocupação de
Natividade com uma idéia subversiva que aparece em certo discurso de seu filho. Paulo,
sugere o irônico autor, não havia criado essa idéia: havia apenas repetido um pensamento,
ou uma frase, que já se tornara público e comum, e cujo próprio caráter revolucionário se
esvaziara ao passar de boca em boca. Não havia, portanto, motivos para acreditar que tal
idéia correspondesse às verdadeiras intenções do gêmeo Paulo.
Será correto agir assim? Será que estamos certos, ao adotar e divulgar como nossa
qualquer idéia que nos agrade, como se todas as idéias fossem um bem público à nossa
disposição? Acredito, pelo contrário, que, em uma sociedade que queira se desenvolver de
forma inteligente, um mínimo de responsabilidade e autenticidade no uso das idéias deve ser
estimulado e, no que diz respeito à política, exigido pelo povo de todos aqueles que o
representam.
PARTE II – EXERCÍCIO I
Comente o primeiro parágrafo do trecho a seguir, da obra Raízes do Brasil, à luz dos
conceitos apresentados no parágrafo seguinte, podendo seu comentário ser ilustrado com uma
referência histórica.
No Brasil, onde imperou, desde tempos remotos, o tipo primitivo da família patriarcal, o
desenvolvimento da urbanização — que não resulta unicamente do crescimento das cidades,
mas também do crescimento dos meios de comunicação, atraindo vastas áreas rurais para a
esfera de influência das cidades — ia acarretar um desequilíbrio social, cujos efeitos
permanecem vivos até hoje. Não era fácil aos detentores das posições públicas de
responsabilidade, formados em tal ambiente, compreenderem a distinção fundamental entre os
domínios do privado e do público.
GUIA DE ESTUDOS PARA O CONCURSO DE ADMISSÃO À CARREIRA DE DIPLOMATA
27
Sergio Buarque de Holanda. Raízes do Brasil. 26. ed. São Paulo: Companhia das Letras,
1995, p. 145.
Extensão: de 100 a 150 palavras
(valor: 20 pontos)
VINÍCIUS CHAGAS DIAS COELHO (18,75/20)
Em sua obra Raízes do Brasil, Sérgio Buarque de Holanda analisa o passado
brasileiro com o intuito de explicar a sociedade e a política do país. O Brasil foi, durante os
primeiros séculos de sua existência, organizado sob um modelo rural de estruturas políticas,
sociais e econômicas. A família patriarcal constituiu o cerne da organização sociopolítica
brasileira desde o início do período colonial.
Com o advento do processo de urbanização no Brasil, essa estrutura de poder
familiar foi desequilibrada. Os indivíduos, acostumados a lidar com assuntos públicos de
maneira personalista, têm dificuldades para compreender a separação entre o Estado e a
família. O nepotismo e o desvio de dinheiro público são conseqüências desse desequilíbrio
entre o passado, rural e patriarcalista, e o presente, urbano e impessoal. A organização
política e social do Brasil urbanizado ainda é, portanto, afetada pela permanência de vícios
oriundos da história rural do país.
PARTE II – EXERCÍCIO II
No conhecido Sermão da Sexagésima, pronunciado em 1655 na Capela Real, apresenta-nos
ele [Padre A. Vieira] um pregador a discorrer sobre a Paixão. Fala este sobre Cristo chegando
ao pretório de Pilatos, e como o fizeram rei de zombaria, com uma púrpura aos ombros: ouveo
o auditório muito atento. Diz que teceram uma coroa de espinhos e lhe pregaram na cabeça,
e todos continuam a ouvi-lo com a mesma atenção. Narra, um a um, tudo quanto se sabe dos
padecimentos do Senhor, e prossegue o mesmo silêncio, a mesma suspensão entre os
ouvintes. Nisto corre-se a cortina, aparece a imagem do Ecce Homo, e eis que todos
subitamente se prostram, todos entram a bater nos peitos, eis as lágrimas, eis os gritos, eis os
alaridos, eis as bofetadas.
Sergio Buarque de Holanda. Visão do Paraíso. 6. ed. São Paulo: Brasiliense, 1996, p. 234.
Nota: A frase latina Ecce Homo — que significa eis o homem — teria sido proferida por
Pilatos, ao apresentar Jesus Cristo coroado de espinhos ao povo.
Ao fazer a paráfrase do famoso Sermão da Sexagésima (1665), do Padre Vieira, o autor de
Visão do Paraíso destaca a súbita mudança de atitude do público. Interprete e explique tal
mudança.
Extensão: de 100 a 150 palavras
(valor: 20 pontos)
DANIELA OLIVEIRA GUERRA (18,50/20)
Em Visão do Paraíso, Sérgio Buarque de Holanda faz a paráfrase do Sermão da
Sexagésima, de Padre Vieira. Nessa obra, Padre Vieira relata a história de um pregador que
GUIA DE ESTUDOS PARA O CONCURSO DE ADMISSÃO À CARREIRA DE DIPLOMATA
28
narra a Paixão a uma platéia atenta, porém silenciosa. Nenhum dos sofrimentos de Cristo
comove o auditório. Este reagirá com emoção apenas ao ver uma imagem do Ecce Homo.
A mudança de atitude do público, destacada por Sérgio Buarque de Holanda, mostra
a força dos elementos imagéticos como meio de convencimento. A palavra, cuja compreensão
é mediada pela capacidade cognitiva do ouvinte, é um apelo à razão. Já a imagem, por poder
ser apreendida de forma imediata por qualquer pessoa, constitui um apelo à emoção.
***
HISTÓRIA DO BRASIL
A prova de História do Brasil consistirá de quatro questões discursivas, duas das
quais com o valor de 30 (trinta) pontos cada uma e duas com o valor de 20 (vinte) pontos cada
uma. As respostas às questões com o valor de 30 (trinta) pontos terão, cada uma, a extensão
máxima de 90 linhas; as respostas às questões com o valor de 20 (vinte) pontos terão, cada
uma, a extensão máxima de 60 linhas.
Programa (Primeira e Terceira Fases):
1. O período colonial. A Configuração Territorial da América Portuguesa. O Tratado de
Madri e Alexandre de Gusmão.
2. O processo de independência. Movimentos emancipacionistas. A situação política e
econômica européia. O Brasil sede do Estado monárquico português. A influência das idéias
liberais e sua recepção no Brasil. A política externa. O Constitucionalismo português e a
Independência do Brasil.
3. O Primeiro Reinado (1822-1831). A Constituição de 1824. Quadro político interno. Política
exterior do Primeiro Reinado.
4. A Regência (1831-1840). Centralização versus Descentralização: reformas institucionais.
(o Ato Adicional de 1834) e revoltas provinciais. A Dimensão Externa.
5. O Segundo Reinado (1840-1889). O Estado centralizado; mudanças institucionais; os
partidos políticos e o sistema eleitoral; a questão da unidade territorial. Política externa: as
relações com a Europa e Estados Unidos; questões com a Inglaterra; a Guerra do Paraguai. A
questão da escravidão. Crise do Estado Monárquico. As questões religiosa, militar e
abolicionista. Sociedade e Cultura: população, estrutura social, vida acadêmica, científica e
literária. Economia: a agroexportação; a expansão econômica e o trabalho assalariado; as
políticas econômico-financeiras; a política alfandegária e suas consequências.
6. A Primeira República (1889-1930). A proclamação da República e os governos militares. A
Constituição de 1891. O regime oligárquico: a “política dos estados”; coronelismo; sistema
eleitoral; sistema partidário; a hegemonia de São Paulo e Minas Gerais. A economia agroexportadora.
A crise dos anos 1920: tenentismo e revoltas. A Revolução de 1930. A política
externa: a obra de Rio Branco; o panamericanismo; a II Conferência de Paz da Haia (1907); o
Brasil e a Grande Guerra de 1914; o Brasil na Liga das Nações. Sociedade e cultura: o
Modernismo.
7. A Era Vargas (1930-1945). O processo político e o quadro econômico financeiro. A
Constituição de 1934. A Constituição de 1937: o Estado Novo. O contexto internacional dos
anos 1930 e 1940; o Brasil e a Segunda Guerra Mundial. Industrialização e legislação
trabalhista. Sociedade e cultura.
8. A República Liberal (1945-1964). A nova ordem política: os partidos políticos e eleições; a
Constituição de 1946. Industrialização e urbanização. Política externa: relações com os
GUIA DE ESTUDOS PARA O CONCURSO DE ADMISSÃO À CARREIRA DE DIPLOMATA
29
Estados Unidos; a Guerra Fria; a “Operação Panamericana”; a “política externa
independente”; o Brasil na ONU. Sociedade e cultura.
9. O Regime Militar (1964-1985). A Constituição de 1967 e as modificações de 1969. O
processo de transição política. A economia. Política externa: relações com os Estados Unidos;
o “pragmatismo responsável”; relações com a América Latina, relações com a África; o Brasil
na ONU. Sociedade e cultura.
10. O processo democrático a partir de 1985. A Constituição de 1988. Partidos políticos e
eleições. Transformações econômicas. Impactos da globalização. Mudanças sociais.
Manifestações culturais. Evolução da política externa. Mercosul. O Brasil na ONU.
Bibliografia sugerida:
ALMINO, João & CARDIM, Carlos Henrique (Orgs.). Rio Branco, a América do Sul e a
Modernização do Brasil. Rio de Janeiro: EMC Edições/FUNAG, 2002.
BARBOSA, Carlos Alberto Leite. Desafio Inacabado: A Política Externa de Jânio
Quadros. Rio de Janeiro: Atheneu, 2007.
CANDIDO, Antonio. Formação da Literatura Brasileira. Belo Horizonte: Editora Itatiaia,
1997.
CARONE, Edgar. A República Velha. São Paulo: DIFEL.
________. A Segunda República. São Paulo: DIFEL.
________. A República Nova (1930-1937). São Paulo: DIFEL. 1982.
________. A Terceira República (1937-1945). São Paulo: DIFEL. 1982.
CARVALHO, José Murilo de. A Construção da Ordem/Teatro de Sombras. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.
CERVO, Amado; BUENO, Clodoaldo. História da Política Exterior do Brasil. Brasília:
Editora UnB, 2002.
COSTA, Emília Viotti da. Da Monarquia à República: momentos decisivos. São Paulo:
UNESP, 1999.
DORATIOTO, Francisco. Maldita Guerra: nova história da Guerra do Paraguai. São
Paulo: Companhia das Letras, 2002.
FAORO, Raymundo. Os Donos do Poder: Formação do Patronato Político Brasileiro. São
Paulo: Globo/Publifolha, 2001. 2 v.
FAUSTO, Boris. História Concisa do Brasil. São Paulo: EDUSP/Imprensa Oficial, 2002.
FLORES, Moacyr. Dicionário de História do Brasil. Porto Alegre: Edipucrs, 2001.
FREYRE, Gilberto. Casa Grande & Senzala. Rio de Janeiro: Global, 2003.
FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. 32. ed. São Paulo: Nacional, 2003.
GARCIA, Eugênio Vargas. Cronologia das Relações Internacionais do Brasil. Rio de
Janeiro: Contraponto Editora, 2006.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. Rio de Janeiro: Cia das Letras, 1995.
IGLESIAS, Francisco. Trajetória Política do Brasil. São Paulo: Cia. das Letras, 2000.
GUIA DE ESTUDOS PARA O CONCURSO DE ADMISSÃO À CARREIRA DE DIPLOMATA
30
LINHARES, Maria Yedda (Org.). História Geral do Brasil. Rio de Janeiro: Editora Campus,
1996.
LINS, Álvaro. Rio Branco (Barão do Rio Branco): biografia pessoal e história política.
São Paulo: Editora Alfa Ômega, 1996.
MONIZ BANDEIRA, Luiz Alberto. Brasil, Argentina e Estados Unidos: Da Tríplice
Aliança ao Mercosul (1870-2003). Rio de Janeiro: Revan, 2003.
PENNA, Lincoln de Abreu. República Brasileira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.
PRADO JUNIOR, Caio. História Econômica do Brasil. 42. ed. São Paulo: Brasiliense,
1995.
________. A Formação do Brasil Contemporâneo. São Paulo: Publifolha, 2000.
Prova de 2009
Questão 1
A transição do regime militar (1964-1985) para a chamada Nova República foi marcada por
iniciativas que visavam à democratização política e eram promovidas por movimentos de
oposição e por integrantes do próprio sistema de poder.
A esse respeito, comente:
- o sentido da expressão “abertura lenta, gradual e segura”;
- *o peso da eleição de governadores do partido de oposição em 1974; e
*OBS: o segundo item desta questão foi anulado em razão de erro de revisão.
- a formação de forças sociopolíticas que passaram a demandar o fim do regime militar.
Extensão máxima: 90 linhas
(valor: 30 pontos)
PAULA RASSI BRASIL (28/30)
A transição do regime civil-militar instalado em 1964 para a Nova República, em
1985, apresentou avanços e recuos, sendo marcada por fases de maior abertura e outras de
considerável autoritarismo. Ainda que os dez últimos anos do regime tenham sido pontuados
por significativos movimentos de oposição, percebe-se que continuavam existindo forças
contrárias à volta aos quartéis. A luta pela redemocratização do país - por meio da sociedade
civil organizada e de parte dos militares, como o grupo castelista – foi, ao final, suficiente
para modificar a estrutura política do Brasil.
Geisel e Golbery cunharam a expressão “abertura lenta, gradual e segura” para
denominar a forma de governar o país entre os anos 1974 e 1979. A vitória da candidatura
de Geisel representou, por si só, a volta dos castelistas ao poder e o início de significativa
distensão na política interna. Em termos de corporação militar, faz-se mister notar que os
anos Médici haviam assistido à autonomização do aparelho repressivo do Estado e a
conseqüente quebra de hierarquia na execução de tortura. Tal cenário criou desafios para o
presidente subsequente, bem como exacerbou a insatisfação popular. Neste mesmo sentido,
os choques do petróleo e o fim do milagre econômico tornavam o regime militar mais frágil à
críticas, comprometendo a “legitimação pela eficácia”, expressão do Ministro Roberto
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Campos que serviu como técnica utilizada pelos generais-presidentes para justificar a
supressão de liberdades.
Ser lenta, gradual e segura significava que a abertura deveria acomodar os interesses
divergentes que existiam na sociedade e no governo, promovendo uma transição sem “acerto
de contas”. Para tanto, equilíbrio delicado entre, por um lado sinalizações de abertura e, por
outro pressões por fechamento (linha-dura) pode ser observado durante todo o período. A
demissão do ministro Sílvio Frota, por exemplo, explicita que mortes por tortura, como a do
jornalista Vladimir Herzog não mais seriam toleradas. Além disso, estava claro que não se
pretendia instalar comissões de verdade para apurar os abusos do regime militar brasileiro –
o que impossibilitava o surgimento de uma versão nacional do processo de solução interna
construído na Espanha (Pacto de Moncloa). Assim, o gradualismo marcou a transição, ainda
que os movimentos sociais cumprissem seu papel de acelerar tal ritmo.
A eleição de 1974 demonstrou a força da insatisfação nacional com os rumos da
política. Desde 13 de dezembro de 1968 o país encontrava-se sob o manto do AI-5 e as
guerrilhas urbanas e rurais já não existiam. A forma encontrada para exteriorizar opiniões
dava-se, por conseguinte, pelos votos na oposição (MDB) e por meio de gestos cotidianos de
protesto, como a compra de jornais perseguidos, como o “Pasquim”. A vitória do MDB em
vários Estados importantes teve impacto no governo que, não pretendendo retirar-se
imediatamente da cena política, lançou a Lei Falcão e, posteriormente, o Pacote de Abril. A
primeira legislação primava por impedir propaganda falada na televisão, dentre outras
restrições, enquanto o Pacote de Abril, de 1977, criava senadores biônicos escolhidos
indiretamente. Em conjunto, nota-se que por mais que o slogan oficial fosse em favor da
abertura, essa sempre seria, na medida do possível, controlada.
Paralelamente às movimentações políticas propriamente ditas, ocorria a ascensão de
forças sociopolíticas com fortes demandas pelo fim do regime. Ao lado de figuras como
Golbery do Couto e Silva e de sua tentativa de restabelecer o controle sob o Sistema
Nacional de Informações (SNI), havia organizações civis e religiosas lutando pela
redemocratização, ainda que muitas vezes na ilegalidade. Percebe-se a crescente atuação da
Pastoral da Terra e da Juventude Universitária Católica, assim como da União Nacional dos
Estudantes. Com o passar dos anos, o fim do regime torna-se uma aspiração de boa parte da
sociedade, visto que a opção pelo uso da força, em 1964, ocorrera para se evitar a
“catástrofe comunista” – não constituindo cessão de mandato ad infinitum aos militares. A
falta de clareza inicial sobre o tempo que o restabelecimento da ordem levaria conferiu
fôlego ao regime, mas não era suficiente para garantir sua manutenção perpétua.
Neste sentido, o movimento da Anistia, de 1979, representou momento de união
popular em prol da abertura, a qual foi instrumentalizada, inclusive para preservar os
militares em relação às suas atitudes enquanto fora dos quartéis. A Anistia foi concedida a
todos, de esquerda e de direita, civis e militares – impedindo soluções mais apuradas em
termos de justiça. Neste mesmo ano, o Presidente suspendeu a execução do AI-5, sinalizando
que o processo de abertura era sem retorno, apesar das resistências de alguns grupos
militares que faziam parte do governo. A Campanha das “Diretas Já”, já no ocaso do
governo Figueiredo, também contou com ampla participação popular, apesar do malogro
parlamentar da Emenda Dante de Oliveira.
Os vinte anos de regime militar não eram inicialmente esperados pela maior parte de
seus executores e base de apoio, tendo transcorrido sem um plano acordado e discutido de
forma clara e pública. A presença militar na política ocorreu no Brasil em período análogo
às experiências no resto da América Latina, Espanha e Portugal. Os motivos para a extensão
do regime brasileiro, contudo, são variados, mas pode-se perceber que houve resistência ao
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projeto desde seus primeiros momentos – tendo aumentado progressivamente ao longo da
segunda metade do regime.
A busca por uma abertura lenta, gradual e segura foi o mecanismo encontrado para
uma transição sem revolução, ainda que existissem forças terminantemente contrárias ao
prolongamento do regime. O papel da sociedade civil e o esforço de representantes do grupo
castelista foram, assim, complementares para a abertura, ainda que em lados opostos do
espectro: o primeiro grupo buscando aumentar o ritmo de abertura enquanto o segundo
precisava dosar a extensão das mudanças, de modo a manter seu controle e evitar as
pressões e retrocessos da linha-dura. Tendo sido a volta aos quartéis decidida, restava
gerenciar o seu ritmo e garantir as menores conseqüências para tal atitude.
Questão 2
Os antecedentes da formação do espaço territorial brasileiro encontram-se, em grande parte,
no período da colonização portuguesa. Para definir as soberanias territoriais das potências
colonizadoras na América do Sul, Portugal assinou, naquele período, tratados diplomáticos
com a França e a Espanha.
Nesse contexto, comente:
- a importância dos Tratados de Utrecht;
- o resultado das negociações entre 1750 e 1801; e
- a ação de D. João VI no período em que esteve no Brasil (1808-1821).
Extensão máxima: 90 linhas
(valor: 30 pontos)
RODRIGO DE OLIVEIRA MORAIS (30/30)
Ainda no século XV, na condição de potências marítimas, Portugal e Espanha por
duas vezes dividiram o mundo entre si: primeiro pela Bula Inter Coetera, depois pelo Tratado
de Tordesilhas. Esse último estabeleceu um meridiano que dividiria o continente sulamericano
entre as nações ibéricas: a Leste para Portugal, a Oeste para a Espanha. Ao
longo dos séculos posteriores ao tratado e à descoberta, ou “achamento”, do Brasil, o
meridiano de Tordesilhas seria seguidamente ignorado por ambos os países. Ao mesmo
tempo, outras potências, insatisfeitas com aquela divisão, reclamavam sua parte na “herança
de Adão”. Desse modo, as questões de limites, a conquista e a manutenção das possessões
ibéricas na América foram objeto de uma série de acordos.
Os dois tratados de Utrecht (1713 e 1715) tiveram importância para Portugal, no
contexto da América do Sul, ao reconhecerem, respectivamente, a legitimidade da posse
portuguesa sobre os territórios da margem norte do Amazonas e da Colônia do Santíssimo
Sacramento. Conseqüência da conclusão de guerras européias em que Portugal esteve ao
lado da Inglaterra e a Espanha aliada à França, ambos beneficiaram a Coroa portuguesa.
No norte, a presença francesa datava pelo menos do século XVII, quando da fundação de São
Luís, com a instalação da França Equinocial, empresa que desagradava aos ingleses. No Sul,
a Colônia de Sacramento foi permanente pomo de discórdia entre portugueses e espanhóis na
disputa pelo controle do Prata.
Em 1750 seria concluído entre Portugal e Espanha o Tratado de Madrid, idealizado
pelo santista Alexandre de Gusmão. Ao estabelecer um tratado geral de fronteiras, dividindo
o continente entre as duas potências, esse acordo fixou aqueles que viriam a ser os limites do
Brasil moderno. Nas palavras de Synésio Sampaio Goes Filho, o Tratado de Madrid
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concretizou o desenho do território brasileiro de acordo com o mito da Ilha Brasil. Foi, sem
dúvida, o mais importante tratado de limites entre Portugal e Espanha, cujo legado
permanece, ainda hoje, vivo. Nele foram estabelecidos paradigmas jurídicos que
preservariam sua validade em decisões posteriores.
A obra magna de Alexandre de Gusmão foi edificada em contexto de iminente guerra
sistêmica entre Inglaterra e França, uma vez mais. Como secretário do rei Dom João V e
integrante do Conselho Ultramarino, Alexandre negociou secretamente com a Espanha os
limites sul-americanos, tendo como contraparte espanhola Dom José de Carvajal y
Lancaster. As negociações começaram em 1746 e foram concluídas de acordo com as
diretrizes traçadas pelo santista. Dois aspectos são essenciais para a compreensão do
Tratado de Madrid: o conceito de fronteiras naturais e o de uti possidetis. O primeiro visava
a dar referências concretas para os limites, usando cursos fluviais e elevações topográficas.
Evitar-se-ia, assim, o estabelecimento de fronteiras abstratas, “indemarcáveis”, como as de
Tordesilhas. O segundo, recuperado por Gusmão do direito privado romano, matéria em que
se doutorara, garantiria a posse da terra para aquele que a ocupasse de fato. Em que pese o
consentimento espanhol, ambos os critérios revelaram-se favoráveis a Portugal.
Deve-se ressaltar que o Tratado de Madrid representou uma compensação global
entre Portugal e Espanha, na qual essa reconheceu como legítimo o avanço português além-
Tordesilhas no Norte, no Oeste e no Sul do continente sul-americano. De sua parte, Portugal
legitimava o avanço espanhol no Pacífico sobre as Ilhas Filipinas e as Molucas. Ademais,
ambas as potências concordavam em não alterar suas fronteiras na América do Sul como
resultado de guerras entre países europeus, com o que tentavam afastar ingleses e franceses
de suas possessões. No Sul, Alexandre de Gusmão teve a sensibilidade necessária para abrir
mão de Sacramento, entendendo que era inviável mantê-la e que a Espanha a valorizava
sobremaneira. Em troca, garantiu para Portugal a Bacia Amazônica (ocupada legitimamente
durante a União Ibérica), o Mato Grosso (atingido após a descoberta de metais preciosos) e
o Rio Grande do Sul (fronteira estratégica no contexto platino).
Grande parte do sucesso português se deve ao conhecimento cartográfico acumulado
previamente. Sem o mesmo arsenal, a Espanha não teve como questionar, por exemplo, o
Mapa das Cortes. Contava-se, ainda, com a influência de Dona Maria Bárbara e com a
percepção espanhola de que o avanço português era irreversível e um tratado evitaria novas
perdas.
A morte de Dom João V, porém, resultou na ascensão de forças contrárias ao tratado,
também malvisto entre os espanhóis. Sebastião de Carvalho e Melo, particularmente, era
contra a cessão de Sacramento por Sete Povos. Em 1761, o Tratado de El Pardo anulou o de
Madrid, cujos limites, observe-se, não chegaram a ser demarcados. Em 1777, o Tratado de
Santo Ildefonso praticamente restabeleceu Madrid, exceto no Sul, onde havia novas perdas
portuguesas. Ildefonso, entretanto, permaneceu preliminar, jamais sendo efetivado. No
contexto da Guerra das Laranjas, assinou-se o Tratado de Badajoz, que não validava
qualquer acordo anterior.
Transmigrada a Corte Bragantina para o Brasil, Dom João denunciou o Tratado de
Badajoz. Deu início, então, a uma política expansionista contra os territórios dos países que
haviam forçado a sua saída de Portugal: franceses ao Norte e espanhóis ao Sul. A
importância geopolítica dessas regiões consistia no controle da foz do Amazonas e do Prata.
Nessa região, tentou anexar a Banda Oriental em 1816, sendo impedido pelos ingleses.
Finalmente, em 1821, atingiria seu objetivo, incorporando a Província Cisplatina, que
continuaria a ser objeto de disputa no Império, entre brasileiros e argentinos, até 1828,
quando se tornou independente, com o apoio de Ponsonby.
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De modo geral, é possível afirmar que, apesar das marchas e contramarchas, o
Tratado de Madrid foi o grande paradigma para o estabelecimento das fronteiras terrestres
brasileiras. O predomínio das fronteiras naturais e o uso do uti possidetis de facto por
Duarte da Ponte Ribeiro, contra as pretensões hispano-americanas pelo uti possidetis de
jure, demonstram toda a sua força, tendo sido validado por quase todos os vizinhos
brasileiros, exceção feita à Colômbia e à Argentina. Aceitaram-no, portanto, Peru (1851),
Bolívia (1867), Uruguai (1851), Venezuela (1859) e Paraguai (1872). O território do Acre,
outra exceção, foi obtido pelo Tratado de Petrópolis, em 1903. Assim, é válida a afirmação
segundo a qual, apesar de sua anulação, o Tratado de Madrid desenhou o corpo da pátria.
Questão 3
Entre 1862 e 1868, o Império do Brasil viu a instalação de seis Gabinetes, formados
sucessivamente, em razão de lutas internas.
Discorra a respeito da evolução dessa conjuntura e de sua repercussão sobre a ação externa
brasileira, em particular quanto às questões da região platina.
Extensão máxima: 60 linhas
(valor: 20 pontos)
HUGO DE OLIVEIRA LOPES BARBOSA PEREIRA PINTO (17/20)
Durante os anos de 1862 a 1868, esteve no poder, no Brasil, a chamada “Liga
Progressista”, considerada liberal. Os muitos gabinetes formados pela Liga refletem os
problemas intestinos a ela e sua tentativa de legitimar-se no poder. No período, a política
brasileira intervencionista na região do Prata continuou, como ocorria desde 1848, quando o
gabinete conservador de então implantou o que Amado Luiz Cervo chama de “grande
política americanista”, após anos de imobilismo. Como forma de angariar apoio interno, o
Império, sob governo do gabinete da Liga, perpetrou a invasão do Uruguai, o rompimento de
relações diplomáticas com a Inglaterra e a Guerra do Paraguai.
A Liga Progressista, formada por liberais e conservadores moderados, ascendeu ao
gabinete em 1862. Liderada por Zacarias de Góes e Nabuco de Araújo, a Liga era uma
tentativa de segregar os liberais e conservadores mais radicais, mantendo uma forma de
conciliação. Os problemas enfrentados pela Liga, no entanto, ensejaram inúmeras mudanças
de gabinete e certa instabilidade. Como forma de conseguir apoio interno, a Liga valeu-se da
política externa intervencionista no Prata, aos moldes da que foi perpetrada durante os anos
de gabinete daqueles que Ilmar Mattos chama de “trindade saquarema”, os conservadores
radicais, entre 1848 e 1852. A tentativa de parecer mais assertivo em suas ações fez, ainda,
com que o gabinete rompesse as relações brasileiras com a Inglaterra, com a Questão
Christie.
Em 1864, os blancos uruguaios estavam no poder naquele país, antes com Berro e
depois com Aguirre. Aliado dos colorados, os oposicionistas de então, o Império ressentia-se
do aumento de impostos para o gado gaúcho na região e da renitência dos blancos em
estender a vigência dos tratados assinados com o Brasil em 1851, amplamente favoráveis ao
Império. Sob pretexto de proteger interesses de brasileiros naquele país, o Império invade o
Uruguai, derrubando os blancos. Tentava-se, ademais, com isso, conseguir apoio dos
gaúchos ao gabinete de então. Antes, a Questão Christie, ensejada pela prepotência do
representante inglês no Rio de Janeiro após o naufrágio de um navio inglês e a prisão de dois
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marinheiros daquele país, fez com que o Império expulsasse o representante inglês e
rompesse relações com a Inglaterra, em tentativa de parecer mais firme em suas posições.
Com a invasão do Uruguai, o ditador do Paraguai, Solano López, imagina que seu
país poderia ser o próximo alvo da política intervencionista nacional. Ao invadir o Mato
Grosso e o Rio Grande do Sul, passando, sem permissão, por território argentino, López faz
com que Brasil, Argentina e Uruguai formem a Tríplice Aliança em oposição ao Paraguai,
como em uma profecia auto-realizável. A Guerra do Paraguai, que se inicia então, pode ser
considerada mais um exemplo de intervencionismo imperial, embora a historiografia recente,
de Francisco Doratioto a Ricardo Salles, dê relevo ao processo de formação dos Estados
nacionais na região, não ao intervencionismo estrito e sem justificativa.
A Guerra do Paraguai é o mote para o fim da Liga Progressista e da volta dos
conservadores ao poder, em 1868, terminando o período de sucessão de gabinetes.
Economicamente, a guerra devastou as finanças nacionais, retirando parte do poder de ação
do gabinete. Militarmente, o país sofria reveses significativos, como a incapacidade de tomar
Humaitá, que faziam com que novo comandante para as tropas devesse ser designado,
especialmente após o abandono do comando das tropas por Mitre, presidente argentino que,
então, se via com problemas internos em seu país. A escolha, para o comando, do Duque de
Caxias, conservador, faz com que seja inevitável um gabinete conservador, mesmo porque o
gabinete da Liga perdia seu apoio interno. A queda do gabinete de Zacarias de Góes ocorreu,
portanto, em 1868, quando Caxias assumiu o comando das tropas da Tríplice Aliança na
guerra, vencida, posteriormente, pela própria Aliança.
Enfatiza-se, pois, a importância da política interna para a execução da política
externa do país. Entre 1862 e 1868, o fator interno foi determinante, em especial para a
política imperial na região do Prata. Não se separa, de maneira estrita, a conjuntura interna
do país de sua atuação internacional, ambas inter-relacionando-se. O exemplo do período
1862-1868 é marcante dessa característica. Após 1868, já sob gabinete conservador, o
Império continuaria a guerra e a ocupação do Paraguai, encerrando, na década de 1870, sua
“grande política americanista”. A política interna e a política externa, no entanto,
continuariam a se influenciar mutuamente.
Questão 4
Nas décadas seguintes à Segunda Guerra Mundial, o Brasil promoveu processo de inserção
internacional marcado por crescente participação no sistema multilateral.
Nesse âmbito, disserte a respeito do papel do Brasil:
- na construção de regras para o comércio internacional; e
- nos trabalhos da ONU voltados para o tema da descolonização da África.
Extensão máxima: 60 linhas
(valor: 20 pontos)
LEONARDO WESTER DOS SANTOS RIBEIRO (19/20)
O período posterior à Segunda Guerra Mundial foi marcado pelo início da Guerra Fria, que
se caracterizou pelo conflito ideológico entre o capitalismo e o comunismo. Nesse contexto, a
atuação internacional de países como o Brasil, que buscavam recursos para viabilizar seu
desenvolvimento interno, estava limitada por aquele conflito. A solução encontrada pela
diplomacia brasileira foi participar, de maneira ativa, das discussões em foros multilaterais
de comércio, de modo a garantir a formação de regras internacionais que beneficiassem
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países em desenvolvimento, bem como em instâncias políticas que assegurassem o princípio
da autodeterminação dos povos.
Em 1944, antes mesmo do fim da Segunda Guerra Mundial, o Brasil participou
ativamente das reuniões de Bretton Woods, que criariam órgãos multilaterais para a
regulação dos sistemas econômico e financeiro internacionais. Em 1947, também foi atuante
nas negociações que resultaram no acordo do GATT, diante do fracasso em instituir-se a
Organização Internacional do Comércio. Esse período coincide com o projeto
desenvolvimentista brasileiro, inaugurado no período Vargas e conduzido pelos governos
seguintes, em maior ou menor grau. Para isso, era fundamental que o Brasil se engajasse nas
negociações multilaterais de comércio.
Na década de 1950, começa a ganhar força no Brasil a tese cepalina de deterioração
dos termos de troca, pela qual os produtos agrícolas, produzidos por países em
desenvolvimento, tenderiam a ter seus preços depreciados em comparação aos produtos
manufaturados exportados por países desenvolvidos. Não obstante, o Brasil tinha por
objetivo garantir a redução tarifária de produtos agrícolas, especialmente o café, para que
pudesse aumentar suas exportações e, consequentemente, viabilizar seu projeto
desenvolvimentista, por meio da geração de receitas.
Essa aparente contradição entre a teoria cepalina e o projeto de aumento das
exportações brasileiras teve repercussão nas negociações comerciais internacionais das
quais o Brasil participou. A atuação da diplomacia brasileira foi importante para o sucesso
das diversas rodadas de negociação do GATT, que contribuíram, de fato, para reduzir as
tarifas que restringiam o comércio internacional. Ao mesmo tempo, o Brasil uniu-se a outros
países em desenvolvimento, para reivindicar acesso a mercado nos países desenvolvidos,
como ficou demonstrado pela atuação no âmbito da UNCTAD, na Organização das Nações
Unidas (ONU). Foi neste órgão que a diplomacia brasileira atuou de maneira destacada,
com o objetivo de reduzir as assimetrias entre países desenvolvidos e aqueles em
desenvolvimento.
No que tange a participação brasileira nos trabalhos da ONU para a descolonização
africana, sua atuação foi crescente, uma vez superado o relativo afastamento da diplomacia
brasileira nessas discussões. Como forma de participar de suas reuniões, o Brasil ingressou
no Conselho de Tutela da ONU, que era o órgão responsável pelo tema da descolonização. O
Brasil passou a apoiar os processos de independência afro-asiáticas, tendo como base o
princípio de autodeterminação dos povos, especialmente após a formulação da Política
Externa Independente (PEI), durante o governo de Jânio Quadros. Nesse momento, no
entanto, ainda havia certa contradição quanto à descolonização de colônias portuguesas na
África, em decorrência dos fortes laços que uniam o Brasil à sua ex-metrópole. O apoio
incondicional à descolonização africana viria apenas durante o regime militar, especialmente
com o “pragmatismo responsável e ecumênico” do governo Geisel, quando o Brasil foi o
primeiro país a reconhecer o governo do MPLA, em Angola. Essa atuação demonstra o
caráter pragmático da política externa brasileira, que precisava de apoio de países afroasiáticos
em temas multilaterais, especialmente aqueles relacionados ao comércio
internacional.
O contexto da Guerra Fria, portanto, levou a diplomacia brasileira a engajar-se de
forma autônoma nas discussões multilaterais de comércio e de descolonização, especialmente
na África. Em questões comerciais, o Brasil participou ativamente das reuniões do GATT,
além de ter sido membro-fundador de diversas organizações comerciais temáticas, como a
Organização Internacional do Café, durante a década de 1950. Já em questões de
descolonização, houve evolução do papel da diplomacia brasileira, desde o fim da Segunda
Guerra Mundial até o reconhecimento da independência de Angola, no governo Geisel.
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Ambos são exemplos de que há aprofundamento e continuidade da política externa brasileira
ao longo do tempo, independentemente do regime político em vigor no país.
HISTÓRIA MUNDIAL (Prova Objetiva)
Programa (Primeira Fase):
1. Estruturas e idéias econômicas. Da Revolução Industrial ao capitalismo organizado: séculos
XVIII a XX. Características gerais e principais fases do desenvolvimento capitalista (desde
aproximadamente 1780). Principais idéias econômicas: da fisiocracia ao liberalismo.
Marxismo. As crises e os mecanismos anti-crise: a Crise de 1929 e o “New Deal”. A
prosperidade no segundo pós-guerra. O “Welfare State” e sua crise. O Pós-Fordismo e a
acumulação flexível.
2. Revoluções. As revoluções burguesas. Processos de independência na América. Conceitos
e características gerais das revoluções contemporâneas. Movimentos operários: luditas,
cartistas e “Trade Unions”. Anarquismo. Socialismo. Revoluções no século XX: Rússia e
China. Revoluções na América Latina: os casos do México e de Cuba.
3. As Relações Internacionais.Modelos e interpretações. O Concerto Europeu e sua crise
(1815-1918): do Congresso de Viena à Santa Aliança e à Quádrupla Aliança, os pontos de
ruptura, os sistemas de Bismarck, as Alianças e a diplomacia secreta. As rivalidades coloniais.
A Questão Balcânica (incluindo antecedentes e desenvolvimento recente). Causas da Primeira
Guerra Mundial. Os 14 pontos de Wilson. A Paz de Versalhes e a ordem mundial resultante
(1919-1939). A Liga das Nações. A “teoria dos dois campos” e a coexistência pacífica. As
causas da Segunda Guerra Mundial. As conferências de Moscou, Teerã, Ialta, Potsdam e São
Francisco e a ordem mundial decorrente. Bretton Woods. O Plano Marshall. A Organização
das Nações Unidas. A Guerra Fria: a noção de bipolaridade (de Truman a Nixon). Os
conflitos localizados. A “détente”. A “segunda Guerra Fria” (Reagan-Bush). A crise e a
desagregação do bloco soviético.
4. Colonialismo, imperialismo, políticas de dominação. O fim do colonialismo do Antigo
Regime. A nova expansão européia. Os debates acerca da natureza do Imperialismo. A
partilha da África e da Ásia. O processo de dominação e a reação na Índia, China e Japão. A
descolonização. A Conferência de Bandung. O Não Alinhamento. O conceito de Terceiro
Mundo.
5. A evolução política e econômica nas Américas. A expansão territorial nos EUA. A Guerra
de Secessão. A constituição das identidades nacionais e dos Estados na América Latina. A
doutrina Monroe e sua aplicação. A política externa dos EUA na América Latina. O Pan-
Americanismo. A OEA e o Tratado do Rio de Janeiro. As experiências de integração nas
Américas.
6. Idéias e regimes políticos. Grandes correntes ideológicas da política no século XIX:
liberalismo e nacionalismo. A construção dos Estados nacionais: a Alemanha e a Itália.
Grandes correntes ideológicas da política no século XX: democracia, fascismo, comunismo.
Ditaduras e regimes fascistas. O novo nacionalismo e a questão do fundamentalismo
contemporâneo. O liberalismo no século XX.
7. A vida cultural. O movimento romântico. A cultura do imperialismo. As vanguardas
européias. O modernismo. A pós-modernidade.
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Bibliografia sugerida:
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***
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GEOGRAFIA
A prova de Geografia consistirá de quatro questões discursivas, duas das quais com o
valor de 30 (trinta) pontos cada uma e duas com o valor de 20 (vinte) pontos cada uma. As
respostas às questões com o valor de 30 (trinta) pontos terão, cada uma, a extensão máxima de
90 linhas; as respostas às questões com o valor de 20 (vinte) pontos terão, cada uma, a
extensão máxima de 60 linhas.
Programa (Primeira e Terceira Fases):
1. História da Geografia:
1.1 Expansão colonial e pensamento geográfico.
1.2 A Geografia moderna e a questão nacional na Europa.
1.3 As principais correntes metodológicas da Geografia.
2. A Geografia da População.
2.1 Distribuição espacial da população no Brasil e no mundo.
2.2 Os grandes movimentos migratórios internacionais e intra-nacionais.
2.3.Dinâmica populacional e indicadores da qualidade de vida das populações.
3. Geografia Econômica.
3.1 Globalização e divisão internacional do trabalho.
3.2 Formação e estrutura dos blocos econômicos internacionais.
3.3. Energia, logística e re-ordenamento territorial pós-fordista.
3.4. Disparidades regionais e planejamento no Brasil.
4. Geografia Agrária.
4.1 Distribuição geográfica da agricultura e pecuária mundiais.
4.2 Estruturação e funcionamento do agro-negócio no Brasil e no mundo.
4.3. Estrutura fundiária, uso da terra e relações de produção no campo brasileiro.
5. Geografia Urbana.
5.1. Processo de urbanização e formação de redes de cidades.
5.2. Conurbação, metropolização e cidades-mundiais.
5.3.Dinâmica intra-urbana das metrópoles brasileiras.
5.4. O papel das cidades-médias na modernização do Brasil.
6. Geografia Política.
6.1. Teorias geopolíticas e poder mundial.
6.2.Temas clássicos da Geografia Política: as fronteiras e as formas de apropriação
política do espaço.
6.3. Relações Estado e território.
6.4. Formação territorial do Brasil.
7. Geografia e gestão ambiental.
7.1. O meio ambiente nas relações internacionais: avanços conceituais e institucionais
7.2. Macro-divisão natural do espaço brasileiro: biomas, domínios e ecossistemas
7.3. Política e gestão ambiental no Brasil.
Bibliografia sugerida:
BENKO, George. Economia, Espaço e Globalização. 2.ed. São Paulo: Hucitec, 1999.
BECKER, Bertha & EGLER, Claudio. Brasil: Uma nova potência regional na economiamundo.
2. ed. Rio de Janeiro: Bertrand, 1994.
GUIA DE ESTUDOS PARA O CONCURSO DE ADMISSÃO À CARREIRA DE DIPLOMATA
40
GREGORY, Derek et alli. Geografia Humana. Sociedade, Espaço e Ciência Social. Rio de
Janeiro: Zahar, 1996.
MORAES, Antonio Carlos Robert. Território e História no Brasil. 2. ed. São Paulo:
Annablume, 2005.
RIBEIRO, Wagner Costa (org.) Patrimônio Natural Brasileiro. São Paulo: EDUSP/Imprensa
Oficial, 2004.
SANTOS, Milton. Por uma outra Globalização. Rio de Janeiro:Record, 2000.
________ & SILVEIRA, Maria Laura. Brasil. Território e Sociedade no Limiar do Século
XXI. Rio de Janeiro:Record, 2001.
SILVEIRA, Maria Laura (org.). Continente em Chamas. Globalização e território na
América Latina. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005.
THÉRY, Hervé & MELLO, Neli Aparecida. Atlas do Brasil. Disparidades e dinâmicas do
território. São Paulo: EDUSP, 2005.
A título de orientação, para os candidatos que desejarem aprofundar o estudo da
matéria, sugerem-se as seguintes leituras adicionais:
BECKER, Bertha et alli. Geografia e meio ambiente no Brasil. 2.ed. São Paulo:Hucitec.1995.
CASTRO, Iná Elias et alli. Explorações geográficas. Rio de Janeiro: Bertrand, 1997.
LENCIONE, Sandra. Região e geografia. São Paulo: EDUSP, 2003.
MAGNOLI, Demétrio. O corpo da pátria. São Paulo: Moderna/EDUNESP, 1997.
MORAES, Antonio Carlos Robert. Bases da formação territorial do Brasil. São
Paulo:Hucitec, 2000.
MORAES, Antonio Carlos Robert. Contribuição para a gestão da zona costeira do Brasil.
São Paulo: HUCITEC/EDUSP, 1999.
RIBEIRO, Wagner Costa. A ordem ambiental internacional. São Paulo: Contexto, 2001.
SOUZA, Maria Adelia Aparecida (org.). Território brasileiro: usos e abusos. Campinas:
Territorial, 2003.
Prova de 2009
Questão 1
O Brasil é um dos maiores produtores de alimentos do mundo e apresenta taxas anuais de
crescimento da produção bem superiores à média mundial. Apesar disso, a área destinada à
agricultura ainda é pequena, se comparada à de outros grandes produtores mundiais, como a
China e os Estados Unidos da América (EUA). Indique o percentual aproximado do território
brasileiro destinado à produção agrícola e identifique os principais entraves existentes hoje
para a expansão das terras agricultáveis.
Extensão máxima: 90 linhas
(valor: 30 pontos)
GUIA DE ESTUDOS PARA O CONCURSO DE ADMISSÃO À CARREIRA DE DIPLOMATA
41
MARIANA MACIEL FONSECA (30/30)
O Brasil é considerado “celeiro agrícola” do mundo, muito embora a área destinada
à agricultura no país seja ainda pequena, relativamente a países como China e Estados
Unidos. Não mais do que 20% do território brasileiro destina-se à produção agrícola, mas as
taxas anuais de crescimento da produção superam a média mundial. A agroindústria
brasileira, altamente intensiva, mecanizada e competitiva no mercado global, esbarra em
entraves existentes para a expansão das terras agricultáveis.
Desde a Colônia, o Brasil caracteriza-se por ser país agroexportador. Sem encontrar
minerais preciosos, os portugueses introduziram a cultura da cana-de-açúcar para povoar a
terra. Estabelecida nas franjas litorâneas, a cultura perduraria até depois da independência
e dos ciclos do ouro e do café, embora com menor importância na pauta exportadora. O café,
no Vale do Ribeira e depois no Oeste Paulista, adentrou um pouco mais o território. O
algodão no Maranhão, o cacau no sul da Bahia e a borracha na Amazônia eram núcleos do
arquipélago territorial de então. As características de equatoriedade e de tropicalidade do
Brasil, com alta incidência solar e abundância de recursos hídricos, além da presença de
terras férteis, como os latossolos massapé e terra roxa, favoreceram a agricultura brasileira,
que servia a lógica “alienígena” e “extrovertida” (Milton Santos).
Hodiernamente, a pauta exportadora brasileira também apresenta produtos agrícolas
no topo, como a soja, embora a agricultura componha hoje parcela bem menor do PIB
brasileiro. A economia do país é mais diversificada e o Brasil exporta produtos de alto valor
agregado, como aviões da Embraer. Os produtos agrícolas continuam a ser produzidos em
grande parte do Brasil. Na atualidade, contudo, as técnicas evoluíram muito.
Desde os anos da década de 1940, a Revolução Verde melhorou os maquinários e
fertilizantes, a montante da cadeia de produção agrícola. Nos anos de 1970, surgem os
complexos agroindustriais no Brasil, como define Francisco Graziano: a indústria a
montante do processo agrícola e a jusante, de beneficiamento dos produtos. A agroindústria
pôde acelerar os tempos da natureza e introduzir o meio técnico-científico-informacional no
campo. No Brasil, a criação da EMBRAPA, em 1972, evidencia esse fenômeno. A soja, por
exemplo, passou a ser cultivada nos ácidos solos do Centro Oeste por meio do método
conhecido como calagem. Essas tecnologias permitiram que a agricultura brasileira se
tornasse altamente intensiva e ocupasse áreas mais exíguas, embora subsista agricultura
familiar no Sul e no Nordeste baseada em técnicas mais simples – há “acumulação desigual
de tempos” no espaço, de acordo com Milton Santos.
Um dos entraves atuais para expansão de terras agrícolas, contudo, é a existência de
grandes latifúndios improdutivos. Muitas vezes, a produção de alimentos concentra-se em
uma pequena parte dessas terras e destina-se à exportação, ao contrário da produção
familiar nordestina (mandioca, feijão) e sulina, que abastecem o mercado interno. A
especulação fundiária prejudica a expansão da agroindústria e a reforma agrária constitui
questão de difícil dirimição política no Brasil.
Outro empecilho para a expansão das terras agricultáveis é a pecuária altamente
extensiva no Brasil. O gado criado solto em largas pastagens pode ser uma vantagem
comparativa, pois evita problemas como o da “vaca louca”, mas também devasta vegetações
e ocupa grandes espaços que poderiam ser utilizados para expandir terras agricultáveis.
Um terceiro quesito que dificulta a expansão de terras agricultáveis é a prudente
política de conservação ambiental. Em 2000, o SNUC – Sistema Nacional de Unidades de
Conservação – estabeleceu no Brasil áreas preservacionistas, como estações ecológicas, e
áreas conservacionistas, como as florestas nacionais (flonas), a fim de conter problemas de
devastação ambiental, como o desmatamento. O bioma biodiverso da Amazônia é ameaçado
GUIA DE ESTUDOS PARA O CONCURSO DE ADMISSÃO À CARREIRA DE DIPLOMATA
42
ao longo da BR-364, “rodovia da soja”, onde observa-se o desmatamento “espinha de
peixe”. Ao longo da BR-163, o gado pasta livremente no sul do Pará, estado que emite muito
CO2 devido ao desmatamento.
Os parques nacionais podem conter essa devastação, como bem exemplifica o Parque
Indígena do Xingu, no norte do Mato Grosso, uma mancha verde em meio a região devastada
pelo cultivo mecanizado da soja. Cabe diferenciar parques preservacionistas, como o Xingu,
de áreas conservacionistas, como as flonas, em que atividades econômicas de
desenvolvimento sustentável são permitidas.
Dessa feita, latifúndios improdutivos, pecuária extensiva e a questão ambiental são
exemplos de entraves para a expansão de terras agricultáveis no Brasil. No entanto, mesmo
assim as taxas anuais de crescimento da produção de alimentos são elevadas, porque a
agroindústria brasileira é altamente produtiva e competitiva no mercado de commodities
globais, caracterizado por subsídios de nações desenvolvidas, do qual a PAC- Política
Agrícola Comum – européia é exemplo. Há produção familiar com técnicas arcaicas, mas a
produção de soja no Mato Grosso, de cana-de-açúcar em São Paulo, de manga e de melão no
Rio Grande do Norte e de café em Minas Gerais evidenciam quão intensiva e mecanizada
pode ser a agricultura brasileira.
Questão 2
No contexto da atual geografia econômica, a África apresenta-se como a nova fronteira de
recursos minerais do planeta, em razão das imensas jazidas existentes em algumas regiões
daquele continente. Discorra a respeito das perspectivas da exploração de tais recursos,
indicando os principais atores envolvidos no processo e explicando as implicações
econômicas e políticas dele decorrentes.
Extensão máxima: 90 linhas
(valor: 30 pontos)
MARCELO SANTA CRUZ DE FREITAS FERRAZ (30/30)
A África é uma região rica em recursos naturais. Desde o século XVI, potências
estrangeiras encontravam-se na região, a fim de explorar os recursos naturais dos países
africanos. A crescente demanda internacional por matérias-primas reativa a corrida pelos
recursos africanos. Os atores econômicos que atuam na região alteram-se, com a adição de
atores provenientes de países emergentes. A lógica de acumulação, contudo, permanece a
mesma. A pacificação de alguns dos conflitos internos reduziu o risco da operação de
empresas em alguns países, o que colocou essas nações no mapa de exploração de empresas
transnacionais.
O crescimento econômico de países de antes economia pouco relevante no contexto
internacional aumentou a demanda por matérias primas. China e Índia, principalmente,
aumentaram suas demandas de recursos naturais necessários para o crescimento de suas
indústrias. Os processos energointensivos das indústrias chinesas engendraram o aumento da
demanda por energia importada. Essa energia é proveniente, sobretudo, de fontes fósseis não
renováveis como o carvão, abundante em território chinês, e o petróleo, escasso nos
territórios chinês e indiano. O desenvolvimento industrial de China e de Índia passa também
pela indústria de base, que tem na siderurgia sua pedra fundamental e demanda minério de
ferro em profusão.
GUIA DE ESTUDOS PARA O CONCURSO DE ADMISSÃO À CARREIRA DE DIPLOMATA
43
Historicamente, as potências europeias exploram materiais nobres na África. Ouro e
diamante são minerais explorados pelas transnacionais europeias há séculos. Esses atores
têm sua presença mantida nas economias africanas e seus imnpactos são sentidos somente
fora da África.
A adição de países antes periféricos na economia mundial tem consequências nas
economias e na política da África. O cenário internacional não é o mesmo do século XIX.
Países em desenvolvimento querem, agora, seu quinhão dos recursos naturais africanos.
O petróleo é o recurso natural mais relevante no norte da África e de alguns países da
África subsaariana. Os atores econômicos que atuam nesses países são, predominantemente,
transnacionais. A Nigéria é um dos países com as maiores reservas petrolíferas do mundo.
Empresas transnacionais como as Sete Irmãs exploram os ricos recursos petrolíferos do país,
principalmente na região do delta do rio Níger. Os recursos ali explorados, contudo, não são
repassados às populções locais, que se encontram insurretas em relação ao governo central.
Aquele lugar é, portanto, subordinado à capital nigeriana, cujas decisões a respeito do
petróleo estão subordinada aos centros de decisão das transnacionais. A riqueza natural
encontra-se, desse modo, nas mãos das elites nigerianas em Abuja e nas mãos dos acionistas
das empresas transnacionais que exploram o petróleo. Angola é outro país rico em petróleo.
O fim da guerra civil possibilitou a prospecção de recursos em território angolano por
empresas transnacionais. Nesse país, destaca-se a persença de uma transnacional de um país
emergente: a Petrobrás. A Petrobrás explora petróleo em Angola, e a similiaridade da
plataforma continental angolana em relação à brasileira indica que existe a possbilidade de
haver petróleo na camada pré-sal angolana. O rápido crescimento da indústria petroleira
nesse páis tornou Luanda uma das capitais mais caras do mundo. O benefício, contudo, não
atinge o interior do país. Expatriados e funcionários de transnacionais movem a economia de
Luanda, que importa quase todos os produtos ali consumidos. O Sudão é outro país em que a
produção de petróleo decola. Transnacionais chinesas como a SINOPEC atuam no território
sudanês, avessas às violações de direitos humanos perpetradas pelo governo de Cartum. A
China leva ao Sudão a tecnologia, os materiais e até mesmo a mão-de-obra empregada no
país. Como nos casos anteriores, o Sudão tem as rendas auferidas pelo petróleo concentradas
nas elites árabes do norte do país, enquanto o restante do país mantém-se na pobreza. A
exploração petrolífera na África, portanto, não proporciona a industrialização desses países,
e as rendas petrolíferas não atingem todas as sociedades. Do mesmo modo, a avidez de
países como a China por energia defende elites violadoras de Direitos Humanos nos países
ricos em petróleo. Empresas, como a Petrobrás, contudo, podem ainda explorar recursos em
locais como Angola, que saiu há poucos anos de uma guerra civil fratricida.
O fim da guerra civil em Moçambique possibilitou a exploração de metais não
ferrosos no país. As vastas jazidas de bauxita e a presença de uma grande hidrelétrica na
região permitem que o país possa produzir alumínio. Contudo, o país carece de quadros
técnicos e de tecnologia que tornem possível a exploração das riquezas naturais do país. O
porto de Beira é um importante fixo que permite a Moçambique estabelecer fluxos de
escoamento do alumínio no mercado internacional. Os laços culturais entre Brasil e
Moçambique tornam mais fáceis a instalação de empresas como a Vale em território
moçambicano. Ao contrário do petróleo, a fabricação de alumínio em Moçambique é
atividade que impulsionaria outras atividades econômicas nesse país.
O diamante é um recurso presente em países da costa oeste da África. Costa do
Marfim, Libéria e outros países exportam diamantes para o mundo. A exploração, contudo,
não requer alta tecnologia e está a cargo de grupos políticos que controlam esses Estados
por meio da força. Os “diamantes de sangue” entram no mercado mundial, apesar das
violações de direitos humanos ocorridas durante a exploração. A produção na África do Sul e
GUIA DE ESTUDOS PARA O CONCURSO DE ADMISSÃO À CARREIRA DE DIPLOMATA
44
em Botsuana utiliza outro modelo. A transacional De Beers usa técnicas modernas de
exploração de diamantes nesses países. A profundidade em que as gemas se encontram
requer a tecnologia de que pequenas empresas não dispõem. A exploração nessas áreas,
contudo, leva as riquezas para fora desses países, para os grupos belgas que controlam a
empresa monopolista. África do Sul é um país rico, também, em ouro. A exploração se dá por
empresas de grande porte, no mesmo modelo da exploração de diamantes.
A exploração de recursos minerais na África é uma oportunidade para empresas
brasileiras como a Vale e a Petrobrás. A exploração, contudo, não trouxe, historicamente,
impactos econômicos positivos aos países que receberam investimentos transnacionais, como
o Sudão e a Nigéria. A riqueza mineral trouxe, também, tensões políticas nesses países, em
que grupos políticos disputam, ainda hoje, os recursos oriundos dessa exploração. A entrada
de novos atores na África, como a China, cujos valores diferem dos ocidentais, reduzirá a
influência ocidental na região.
Questão 3
Em 2007, o IBGE elaborou estudo acerca das regiões de influência das cidades, em que se
configurou uma hierarquia formada por uma grande metrópole nacional e centros
metropolitanos secundários. Descreva o processo econômico-social que tem condicionado a
evolução da rede urbana brasileira.
Extensão máxima: 60 linhas
(valor: 20 pontos)
MARINA DE ALMEIDA PRADO PENHA BRASIL (20/20)
O processo de urbanização brasileiro, devido à especificidade de formação de uma
Região Concentrada, tem que ser dividido, pois diferentes partes do território sofrem
processos diversos. Dessa forma, na Região Concentrada, nota-se a formação de uma
Grande Metrópole Nacional, São Paulo, duas metrópoles nacionais, Rio de Janeiro e
Brasília, e, de forma geral, uma tendência à desmetropolização, com formação de cidades
médias. Fora da Região Concentrada, há duas outras formas de urbanização, a que
caracteriza o Centro Oeste brasileiro e a que acarreta o processo de metropolização no
Norte e no Nordeste do país.
A Região Concentrada corresponde à área de desenvolvimento tradicional da
indústria, motivada por razões como proximidade do maior mercado consumidor. Essa
industrialização foi capitaneada pela região metropolitana de São Paulo e do Rio de Janeiro,
gerando rápido processo de urbanização e metropolização. No entanto, recentemente, houve
um processo de desconcentração concentrada das indústrias, que, por razões como incentivos
fiscais, terrenos mais baratos, sem distanciamento em demasia do mercado consumidor,
adentraram o interior e passaram para os estados mais diretamente influenciados pelo
Sudeste, qual seja, os do Sul. São exemplos dessa desconcentração concentrada as fábricas
automobilísticas da Renault e da Nissan que optaram por Curitiba, da Fiat em Betim e da
Toyota em Indaiatuba, respectivamente no Paraná, em Minas Gerais e no interior de São
Paulo. Essa desconcentração somada a uma opção por maior qualidade de vida gerou o
crescimento de cidades médias na Região Concentrada, que unem benefícios da urbanização,
sem as externalidades negativas das metrópoles.
O crescimento das metrópoles, em especial de São Paulo, que se distanciou das
demais, deve-se a concentração de valor dos serviços e, portanto, ao processo de
GUIA DE ESTUDOS PARA O CONCURSO DE ADMISSÃO À CARREIRA DE DIPLOMATA
45
terceirização. No Rio de Janeiro, a concentração de valor liga-se aos serviços relacionados
ao petróleo, e, em Brasília, aos serviços públicos e aos voltados para o consumo, com
destaque para a homogênea classe de bem-remunerados funcionários públicos que trabalham
no Distrito Federal.
A urbanização do Centro Oeste, por outro lado, explica-se pela expansão da fronteira
agrícola sob domínio do complexo agroindustrial, em que se destacam as indústrias à jusante
e os serviços para a agroindústria, como os financeiros. Nesse sentido, houve um crescimento
de cidades médias que concentram esses serviços e indústrias de processamento, bem como
servem de residência para aqueles que trabalham no campo, caracterizando o meio técnicocientífico-
informacional no campo, pois devido aos fluxos de informações permite-se a
separação entre o local de residência e o de trabalho.
No Norte e Nordeste do país, por seu turno, o Estado capitaneou o processo de
urbanização dos estados, e as indústrias surgiram por meio de pólos, como a Zona Franca
em Manaus e o pólo petrolífero de Camaçari na Bahia. Outros incentivos como o Projeto
Grande Carajás, os portos de Pecém, no Ceará, e Suape, em Pernambuco, bem como a
refinaria de Abreu e Lima auxiliam a intensificar a importância desses pólos e das grandes
cidades que estão perto deles. Dessa forma, ao contrário da tendência nacional de
desmetropolização, há nessas regiões um processo de metropolização, com destaque para
Manaus e Belém, no Norte, e para Fortaleza, Recife e Salvador, no Nordeste.
Questão 4
A proposta de criação do Estado da Palestina — retomada recentemente pelo presidente dos
EUA, Barack Obama — esbarra na questão dos refugiados e do “direito ao retorno”. De que
forma a demografia palestina se apresenta como óbice para a consecução dessa proposta?
Extensão máxima: 60 linhas
(valor: 20 pontos)
EDEN CLABUCHAR MARTINGO (20/20)
A Questão Palestina é dos temais mais complexos das relações internacionais atuais,
porque entrelaça aspectos econômicos, políticos, culturais e religiosos. Dentre as diferentes
condicionantes do problema, um dos mais sensíveis é o do direito de retorno dos refugiados
palestinos e seus descendentes. Durante a gestão Clinton nos EUA, chegou-se a avançar
bastante no projeto de criação do Estado Palestino, mas a recusa de Yasser Arafat em aceitar
e extinção do direito de retorno, condição exigida pelos israelenses, entravou as negociações.
Atualmente, a retomada das negociações em um quadro internacional tenso soma-se
às dificuldades materiais de se chegar a um acordo. As duas regiões palestinas, a Faixa de
Gaza e a Cisjordânia, são áreas altamente povoadas, também porque foram destino de
refugiados do território israelense nas duas grandes diásporas palestinas, após a criação do
Estado de Israel, em 1948, e após a Guerra dos Seis Dias, em 1967. Se, por um lado, o
retorno dos milhões de refugiados não poderia ser revertido para os territórios atualmente
controlados por palestinos, o retorno aos territórios originalmente ocupados por Israel, onde
assentamentos e colônias foram implantados, e que é o que os palestinos reivindicam, suporia
uma pressão demográfica sobre os recursos naturais e uma disputa pelas parcas terras
agriculturáveis tendentes a levar a graves conflitos.
Tal retorno maciço exacerbaria, ainda, a disputa por recursos hídricos que já ocorre
no Estado de Israel, em que as populações palestinas acusam o Estado de desviar volumes
GUIA DE ESTUDOS PARA O CONCURSO DE ADMISSÃO À CARREIRA DE DIPLOMATA
46
desproporcionais de águas da região, especialmente do Rio Jordão, para os modernos
projetos de agricultura irrigada israelenses, resultando em disparidade no consumo entre
palestinos e israelenses, com grave prejuízo para os primeiros. Tal disputa, em caso de
pressão demográfica ainda maior sobre os recursos, levaria à tentativa de tomada do
controle das fontes, hoje israelense, ensejando sérias consequências.
Há ainda outra questão relacionada à demografia palestina, mas de ordem política.
Com um crescimento vegetativo muito inferior ao das populações palestinas, o povo judeu já
pressente o crescente protagonismo dos palestinos com cidadania israelense e direito a voto
na vida política do país. O retorno dos refugiados, que só faria sentido em caso de concessão
de direitos civis, políticos e sociais equivalentes, criaria uma súbita mudança na correlação
de forças eleitorais do país. Há o medo da polarização brusca que seria causada e da enorme
mudança no sistema político; se minorias tornarem-se maiorias, o próprio sentido de um
“Estado para o povo judeu”, que motivou sua criação, ficaria comprometido.
O povo israelense tem um direito histórico de retorno às terras de que saíram,
semelhante ao reivindicado pelos sionistas quando da criação de Israel, mas muito mais
recente. No entanto, no atual quadro de polarização e mesmo de ódio entre os dois povos, o
exercício desse direito em bases completas causaria seríssimos conflitos. O entendimento
prévio sobre questões relativas a disputas econômicas e políticas decorrentes da enorme
pressão demográfica resultante seria imperativo, assim como o tratamento realista de
quantos, e para onde, refugiados poderiam voltar.
***
POLÍTICA INTERNACIONAL
A prova de Política Internacional consistirá de quatro questões discursivas, duas das
quais com o valor de 30 (trinta) pontos cada uma e duas com o valor de 20 (vinte) pontos cada
uma. As respostas às questões com o valor de 30 (trinta) pontos terão, cada uma, a extensão
máxima de 90 linhas; as respostas às questões com o valor de 20 (vinte) pontos terão, cada
uma, a extensão máxima de 60 linhas.
Programa (Primeira e Terceira Fases):
1. Relações internacionais: conceitos básicos, atores, processos, instituições e principais
paradigmas teóricos.
2. A política externa brasileira: evolução desde 1945, principais vertentes e linhas de ação.
3. O Brasil e a América do Sul. Mercosul.
4. A política externa argentina. A Argentina e o Brasil.
5. A política externa norte-americana e relações com o Brasil.
6. Relações do Brasil com os demais países do hemisfério.
7. Política externa francesa e relações com o Brasil.
8. Política externa inglesa e relações com o Brasil.
9. Política externa alemã e relações com o Brasil.
10. A União Européia e o Brasil.
11. Política externa russa e relações com o Brasil
12. A África e o Brasil.
13. A política externa da China, da Índia e do Japão; relações com o Brasil.
GUIA DE ESTUDOS PARA O CONCURSO DE ADMISSÃO À CARREIRA DE DIPLOMATA
47
14. Oriente Médio: a questão palestina; Iraque; Irã.
15. A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.
16. A agenda internacional e o Brasil:
16.1 Desenvolvimento;
16.2 Pobreza e ações de combate à fome;
16.3 Meio ambiente;
16.4 Direitos Humanos;
16.5 Comércio internacional e Organização Mundial do Comércio (OMC);
16.6 Sistema financeiro internacional;
16.7 Desarmamento e não proliferação;
16.8 Terrorismo;
16.9 Narcotráfico;
16.10 A reforma das Nações Unidas.
Bibliografia sugerida:
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VAZ, Alcides Costa. Cooperação, Integração e Processo Negociador: A Construção do
Mercosul. Brasília: Instituto Brasileiro de Relações Internacionais, 2002.
VIZENTINI, Paulo Fagundes. A Política Externa do Regime Militar Brasileiro:
Multilateralização, Desenvolvimento e a Construção de uma Potência Média (1964-
1985). Porto Alegre: Editora da Universidade/UFRGS, 1998.
VIZENTINI, P. F.; WIESEBRON, Marianne (Orgs.). Neohegemonia americana ou
multipolaridade? Pólos de poder e sistema internacional. Porto Alegre: Editora da
Universidade/UFRGS, 2006.
Os candidatos poderão servir-se também de periódicos especializados, tais como
Revista Brasileira de Política Internacional (www.ibri-rbpi.org.br), Política Externa
(www.politicaexterna.com.br), Foreign Affairs (www.foreignaffairs.org) e Foreign Policy
(www.foreignpolicy.com), bem como das páginas eletrônicas do Ministério das Relações
Exteriores (www.mre.gov.br) e da Rede Brasileira de Relações Internacionais
(www.relnet.com.br).
Publicações adicionais que podem auxiliar a preparação dos candidatos estão
disponíveis na FUNAG – Fundação Alexandre de Gusmão, tais como toda a série de Manuais
do Candidato e a série Teses do CAE:
GUIA DE ESTUDOS PARA O CONCURSO DE ADMISSÃO À CARREIRA DE DIPLOMATA
49
site na Internet – www.funag.gov.br
e-mail: funag@mre.gov.br
e-mail do Setor de Publicações: publicacoes@funag.gov.br
Brasília
Ministério das Relações Exteriores
Esplanada dos Ministérios, Bloco H
ANEXO II, TÉRREO, SALA 1
70170-900 Brasília - DF
Telefones: (061) 3411-6033/6034/6847/6857
Fax: (061) 3322-2931, 3322-2188
Rio de Janeiro
Palácio Itamaraty
Avenida Marechal Floriano, 196 - Centro
520080-002 Rio de Janeiro - RJ
Telefax: (021) 2233-2318/2079
Prova de 2009
Questão 1
Considerando o atual momento de crise econômica internacional, discorra acerca do papel que
o Brasil e outros países emergentes podem desempenhar, no âmbito do chamado G20
Financeiro, na conformação de uma nova arquitetura financeira global e na reforma das
instituições multilaterais de crédito.
Extensão máxima: 90 linhas
(valor: 30 pontos)
NATASHA PINHEIRO AGOSTINI (30/30)
A crise econômica intensa que atingiu o mundo em 2008 tem uma característica que a
distingue das anteriores, é a primeira a surgir no coração do sistema capitalista, expandindose
desde os países centrais para os países em desenvolvimento e menos desenvolvidos.
Diferentemente do que ocorreu com o padrão-ouro, no século XIX e no início do século XX, e
com o sistema de Bretton Woods, no pós II Guerra Mundial, no momento atual não existe
uma potência hegemônica que possa assegurar a estabilidade da nova arquitetura financeira
e econômica que se faz necessária. A ascensão das economias emergentes nos últimos anos
reforça o caráter multipolar da estrutura internacional, tornando indispensável a
participação desses países na construção das novas regras e instituições.
Um marco dessa renovada importância foi o protagonismo do G-20 Financeiro no
concerto internacional de ações de combate à crise. Desde a falência da paridade dólar-ouro
e da arquitetura de Bretton Woods, as decisões em matéria econômica e financeira
concentravam-se no G-7 + Rússia, o grupo das grandes economias desenvolvidas. O próprio
G-20F havia sido criado, em 1999, na esteira das crises que assolaram países como México,
Brasil, Rússia e o Leste Asiático, para que os países desenvolvidos pudessem oferecer
diretrizes e orientações às grandes economias em desenvolvimento, no nível de Ministros de
Finanças e Presidentes de Bancos Centrais.
GUIA DE ESTUDOS PARA O CONCURSO DE ADMISSÃO À CARREIRA DE DIPLOMATA
50
Ocorreu, portanto, uma espetacular inversão de papéis nesse foro internacional, uma
vez que os países emergentes tomaram precauções para garantir o crescimento econômico
com estabilidade nos últimos anos e, nesse momento, têm melhores condições para enfrentar
os impactos da crise mundial do que os países desenvolvidos. Na atual conjuntura, o peso
econômico e as garantias de estabilidade transformam os países emergentes em atores
centrais na determinação das reformas que devem ser feitas, privilegiando a redução das
assimetrias e visando a um sistema internacional mais justo e igualitário, com instituições
mais representativas.
Em 2008, durante a presidência brasileira no G-20F, o organismo teve uma reunião
no nível de Ministros de Finanças, realizada em São Paulo, e sua primeira reunião de
cúpula, realizada em Washington. Os países em desenvolvimento tiveram especial influência
nesse protagonismo do G-20F, pois articularam posições conjuntas a respeito da necessidade
de sua inclusão nas principais decisões para o combate a uma crise sobre a qual não tinham
responsabilidade, mas que os estava afetando diretamente. Participam do G-20F países como
África do Sul, Argentina, Brasil, China, Índia e México, que, com o sucesso na consolidação
desse mecanismo de concertação, passaram a ter poder decisório proporcional a seu poderio
econômico.
Nova cúpula foi realizada em abril de 2009, em Londres, da qual saiu um importante
plano de ação para a mitigação dos efeitos da crise e para a reorganização do sistema
financeiro internacional. As decisões tomadas incluíram planos de expansão fiscal e de
expansão monetária (como medidas anticíclicas), o aumento da regulação para instituições
financeiras e agências de rating e uma condenação ao regime adotado nos paraísos fiscais,
que terá de ser modificado. Além disso, o acordo incluiu diversos itens em benefício dos
países em desenvolvimento, como linhas de crédito flexível no FMI - mais capitalizado,
também por decisão do G-20F -, que não estão vinculadas a adoção de políticas
macroeconômicas específicas e créditos para aumento da liquidez e manutenção da
capacidade de comércio internacional nesses países. O plano de ação inclui, ainda, decisão
para investimento em tecnologias limpas, para a não adoção de políticas protecionistas e
para conclusão da Rodada Doha da OMC, ponto caro ao Brasil, que geraria incremento
calculado em 150 bilhões nos fluxos de comércio internacional.
A concertação mais relevante e de maior impacto estrutural foi aquela sobre a
reforma das instituições financeiras internacionais, nomeadamente o FMI e o Banco
Mundial, há muito reivindicada pelos países em desenvolvimento. Os países do G-20F
comprometeram-se a realizar as reformas que permitirão que os emergentes tenham voz
compatível com o seu peso econômico no sistema internacional. Até o momento, as sete
grandes economias desenvolvidas detêm peso elevado nas votações, dominando as decisões e
ditando as linhas de ação dessas instituições.
Os países em desenvolvimento aceitaram contribuir mais para estabilização da
economia internacional, mas pedem como contrapartida que seja revisado o sistema de
formação das cotas de participação, para que tenham força política nesses órgãos
comparável a sua importância econômica. A distribuição do poder de decisão vigente não
corresponde à distribuição real de poder e limita a representatividade das decisões das duas
instituições, o que, por sua vez, reduz a legitimidade que elas têm sobre o conjunto da
comunidade internacional.
A continuação dessas reformas - pequenas alterações já haviam sido realizadas nos
últimos anos em favor da representação de economias emergentes - possibilitará que as
instituições que fornecem liquidez e crédito para países em dificuldades financeiras - no caso
do FMI - ou investimentos de longo prazo - no caso do Banco Mundial - tenham maior foco
na promoção do desenvolvimento, redução das assimetrias e manutenção da estabilidade,
GUIA DE ESTUDOS PARA O CONCURSO DE ADMISSÃO À CARREIRA DE DIPLOMATA
51
perdendo o estigma de serem instituições de último recurso, por terem atrelados aos seus
benefícios uma série de exigências feitas pelos países desenvolvidos.
O México já foi beneficiado por uma linha de crédito flexível, uma vitória para os
países em desenvolvimento. Foi aprovada, ainda, a reforma na eleição dos altos cargos das
duas instituições, incluindo a escolha mais democrática de seus presidentes, que
tradicionalmente foram sempre de um europeu - para o FMI - e um americano - para o BM.
O sucesso dos países emergentes do G-20F na construção de uma nova arquitetura
financeira e econômica internacional não esteve restrito a esse foro. Em diversas outras
oportunidades, como na reunião dos Ministros de Relações Exteriores dos BRICs (Brasil,
Rússia, Índia e China) ou do IBAS (Índia, Brasil e África do Sul) foram articuladas posições
comuns no enfrentamento da crise e o compromisso com mudanças estruturais para
organização das decisões internacionais para temas econômicos em bases mais democráticas
e representativas. Ocorreram ainda declarações conjuntas nos foros de cooperação sul-sul
visando a que as maiores economias em desenvolvimento levassem a posição do todo dos
países em desenvolvimento ao G-20F, como aconteceu na Cúpula América do Sul - Países
Árabes e na reunião de Cúpula da América Latina e Caribe.
A consolidação do G-20F como foro de concertação preferencial para enfrentar as
dificuldades do sistema econômico e financeiro reflete a fundamental importância que os
países em desenvolvimento conquistaram no plano internacional e proporciona as bases para
a transformação desse sistema em direção a maior democracia e representatividade.
Questão 2
Disserte a respeito da evolução histórica do MERCOSUL e da UNASUL e avalie, do ponto
de vista da política externabrasileira atual, os elementos de complementaridade entre as duas
iniciativas.
Extensão máxima: 90 linhas
(valor: 30 pontos)
MARCELO KOITI HASUNUMA (27/30)
A América do Sul sempre foi considerada prioritária para a política externa
brasileira, uma vez que ela é a base para nossa inserção internacional competitiva e a
circunstância geográfica a que o país está adstrito. Desde a época do Barão do Rio Branco a
cooperação regional é tida como fator importante para o desenvolvimento e a estabilidade do
Brasil, apesar de, por muito tempo, no século XX, ter-se falado mais da integração em termos
de pan-americanismo e de latino-americanismo. A década de 1980, condicionada pela crise
econômica e pela redemocratização do Brasil e da Argentina, possibilitou a materialização
do plano cooperativo no Cone Sul, por meio da dissipação das desconfianças mútuas e da
substituição da rivalidade pela união. Por serem países simétricos, Brasil e Argentina, os
grandes pólos da integração regional, puderam estabelecer uma relação em eixo, no conceito
de Moniz Bandeira, baseados na vontade de potência e no objetivo do desenvolvimento.
A partir da concertação entre Brasil e Argentina (representados por diversos Acordos
de Integração, como o PICE, e de declarações presidenciais externando o bom
relacionamento mútuo), nasceu o Mercosul, em 1991, por meio do Tratado de Assunção, que
agregou também o Paraguai e o Uruguai. O Mercosul, personalidade jurídica de direito
internacional desde o Protocolo de Ouro Preto (1994), é resultado não apenas do
amadurecimento das relações entre seus sócios, mas também do contexto de regionalização
mundial, com o surgimento de grandes blocos econômicos como o NAFTA e a União
Européia. O abandono de projetos latino-americanistas (que abrangeriam, também, países
GUIA DE ESTUDOS PARA O CONCURSO DE ADMISSÃO À CARREIRA DE DIPLOMATA
52
como o México e os da América Central) explica-se pela atração destes à órbita norteamericana
e pelo fracasso de iniciativas integradoras anteriores como a ALALC e a ALADI.
Por outro lado, o fortalecimento de uma identidade sul-americana seria fortalecida com o
Mercosul (e a Comunidade Andina de Nações), o que acarretaria, mais tarde, no surgimento
da CASA e da UNASUL (a substituta desta última).
Inicialmente, o Mercosul apresentou forte crescimento do comércio intra-bloco (de
1991 a 1998), gerando grande entusiasmo tanto interna (nos países membros) quanto
externamente (na Europa, principalmente). A pouca institucionalização do bloco era vista
como uma das causas de sua eficiência, visto que os membros poderiam ter flexibilidade para
adaptar-se à nova situação e resolver os eventuais problemas de forma amigável, nãocontenciosa
(o que explicaria, portanto, a ausência de tribunais permanentes e o requisito de
que todas as decisões importantes seriam tomadas por consenso). Nesse período inicial,
estima-se que o comércio tenha quadruplicado de cerca de US$5 bilhões para cerca de
US$21 bilhões, com grandes déficits comerciais para o Brasil (que então praticava política
de âncora cambial contra a inflação, no contexto do Plano Real). A abertura das economias
locais, marco da década de 1990, impulsionava o crescimento do comércio internacional e a
renovação da matriz industrial da região (principalmente no Brasil), o que garantiu
competitividade sistêmica a alguns setores.
As crises financeiras do Leste Asiático e da Rússia afetaram profundamente a
dinâmica do Mercosul, uma vez que forçaram medidas contracionistas (aumento dos juros) e
o abandono das âncoras cambiais no Brasil (em 1999) e na Argentina (em 2001/2002). No
Brasil, a crise cambial de 1999 forçou o governo a abandonar o sistema de bandas cambiais
e a adotar o tripé econômico de metas de inflação, câmbio flutuante (ainda que com
intervenções do BACEN) e superávit fiscal, o que levou a balança comercial deficitária (que
beneficiava a Argentina) a se tornar superavitária. Essa situação aprofundou as contradições
da economia argentina e levou ao colapso econômico portenho em 2001 e 2002,
escancarando a crise do Mercosul por meio da explícita violação de suas regras (com a nãoobservância
da Tarifa Externa Comum, a imposição de barreiras tarifárias a produtos
brasileiros, etc). O bloco já estava em crise, na verdade, desde 1999, quando essas medidas
protecionistas e pouco amigáveis começaram a ser adotadas; porém, a crise argentina de
2001 revelou a urgência de seu relançamento.
Para evitar o colapso do Mercosul, com a defecção do Paraguai e do Uruguai
(atraídos pela ALCA e insatisfeitos com as assimetrias do bloco) e com a constante violação
de suas regras pela Argentina, o governo brasileiro procurou adotar diversas medidas, tais
como a criação do Fundo de Convergência Estrutural do Mercosul – FOCEM, para diminuir
as assimetrias do bloco e beneficiar os dois sócios menores; a institucionalização da
organização, o que criaria “lastros de permanência”, por meio da criação de um Tribunal
Permanente de Revisão, pelo Protocolo de Olivos, e de um Parlamento do Mercosul; a
aceitação, pelo Brasil, dos custos da liderança do bloco, por meio da não-antagonização com
a Argentina, então em profunda crise econômica, quando do surgimento de contenciosos
comerciais; nesse mesmo sentido, com a criação do Mecanismo de Adaptação Competitiva
(MAC), entre Brasil e Argentina, e que evitaria que esta última simplesmente violasse
unilateralmente as regras mercosulinas; o estímulo à entrada de novos membros, em caráter
de sócio pleno ou de parceiro associado (com a associação do Chile, Bolívia, Peru,
Venezuela, Colômbia e Equador); etc. Essas medidas “relançaram” o Mercosul e lhe
garantiram nova identidade regional, baseada na solidariedade e na cooperação.
O fortalecimento do Mercosul e da identidade sul-americana entre os países da região
acabou por levar, em 2004, a um novo aprofundamento da integração regional, baseada na
cooperação e em valores comuns, tais como a busca pelo desenvolvimento, o respeito aos
GUIA DE ESTUDOS PARA O CONCURSO DE ADMISSÃO À CARREIRA DE DIPLOMATA
53
princípios da soberania, da não-intervenção e da solidariedade regional. O lançamento, em
Cuzco, da Comunidade das Nações Sul-Americanas configurou, portanto, marco da
integração regional que uniria o Mercosul, a Comunidade Andina de Nações (CAN), o Chile,
a Guiana e o Suriname em um projeto que privilegia a união política, cultural e social, além
da econômica.
Em 2007, ante à percepção da relativa estagnação do processo integrativo, como
manifestado pelo presidente da Venezuela, o projeto da CASA foi relançado, com seu
rebatizamento de União das Nações Sul-Americanas (UNASUL). A UNASUL,
institucionalizada em 2008, é representativa da identidade sul-americana que está se
consolidando aos poucos, e busca redefinir a inserção internacional do sub-continente, como
demonstrado na V Cúpula das Américas, ocorrida em Trinidad e Tobago, em 2009, na qual
houve encontro oficial entre o organismo e os Estados Unidos. O lançamento de instituições
como o Conselho de Defesa Sul-Americano e o Conselho de Saúde, no âmbito da UNASUL,
comprova a intenção de se conferir maior autonomia ao subcontinente, afastando, dessa
forma, ingerências externas na região em assuntos de tão vital importância como a
segurança e a saúde pública.
Alguns críticos apontam o risco de a pluralidade de organismos regionais acabar por
gerar a perda de efetividade de todos, pois os encontros acabariam servindo para poucas
decisões efetivas. Nesse sentido, esses críticos apontam a redundância da criação da
UNASUL em um subcontinente já servido por instrumentos como a Organização dos Estados
Americanos, o Grupo do Rio, e mesmos os blocos Mercosul e CAN e instrumentos de
integração como a ALADI. Esta perspectiva, no entanto, peca pela superficialidade de sua
análise, por não perceber a importância da existência de pluralidade de fóruns regionais
(que estimulam o contato e a harmonização de idéias) e por tentar homogeneizar organismos
de composição e finalidades tão distintos.
É possível se afirmar, assim, que o Mercosul continua sendo (e sempre foi) a
prioridade máxima da política externa brasileira, tanto pelos benefícios econômicos e
comerciais que gera ao país, quanto pela sua perspectiva de fortalecer a legitimidade política
do Brasil e de seus parceiros nos foros multilaterais (e nas negociações bilaterais) existentes.
A consolidação do Mercosul passa, atualmente, pelo fortalecimento das economias de todos
os países da região, principalmente na atualidade, em que a internacionalização das
empresas brasileiras (favorecidas pelo que Amado Cervo denominou de Estado logístico) se
aprofundou na região (ex. grande presença da Inbev na Argentina; Petrobrás na Bolívia;
Odebrecht na Venezuela). Um Brasil economicamente forte requer uma América do Sul
economicamente forte e estável, o que pode ser garantido pelo aprofundamento da integração
regional, como a UNASUL (complementar, como visto, ao Mercosul) e a IIRSA demonstram.
Questão 3
Considerando que o sistema bipolar tal como existiu durante o período da Guerra Fria — com
os Estados Unidos da América e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas em polos
opostos — já não prevalece nos dias de hoje, analise os elementos de unipolaridade e de
multipolaridade do atual sistema internacional.
Extensão máxima: 60 linhas
(valor: 20 pontos)
GUIA DE ESTUDOS PARA O CONCURSO DE ADMISSÃO À CARREIRA DE DIPLOMATA
54
WILLIAM SILVA DOS SANTOS (20/20)
A queda do Muro de Berlim deu ensejo a interpretações que julgavam inexoráveis a
supremacia de alguns preceitos ligados ao liberalismo e à democracia, como a ideia de “fim
da história” de Francis Fukuyama, e ao reforço dos Estados Unidos como única
superpotência mundial, configurando-se um mundo eminentemente unipolar. Atualmente,
alguns desses preceitos vêm sendo contestados pela realidade, conforme a crise econômica
mundial enfraquece a defesa plena do neoliberalismo e traz oportunidade para o reforço do
multilateralismo, reflexo institucional de um mundo crescentemente multipolar.
Elemento claro de multipolaridade no mundo atual é a ascensão dos países
emergentes ao protagonismo nas decisões mundiais, logrando fortalecer a agenda dos países
em desenvolvimento perante aquela dos países desenvolvidos. Talvez o primeiro sinal dessa
ascensão tenha sido a formação do G-20 no âmbito da OMC, articulado com o objetivo claro
de redução das assimetrias em nível internacional, logrando elevar a discussão sobre
agricultura ao cerne das negociações da Rodada Doha. Confirmação dessa ascensão,
entretanto, é o reconhecimento do G-20 financeiro como foro privilegiado de discussão e
deliberação acerca das ações para combater a crise e regular a economia mundial,
agregando um número muito maior de países do ocorria anteriormente no G-8, que,
entretanto, ainda existe.
A formação de blocos regionais de integração, como a União Europeia, o Mercosul, a
SACU e a SADC (no continente africano) e a ASEAN (no sudeste asiático) demonstra
iniciativas locais em prol da multipolarização do mundo, progressivamente organizado em
torno de grupos de articulação para atuação concertada em âmbito internacional. Isso se
reforça com a crescente articulação entre os blocos, como atestam as negociações entre
Mercosul e União Europeia, bem como os acordos de comércio preferencial Mercosul-SACU
e Mercosul-Índia, da mesma forma que as articulações políticas entre alguns dos principais
países emergentes, como o fórum IBAS (entre Índia, Brasil e África do Sul) e a crescente
coordenação dos BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China). Tudo isso leva à percepção da
necessidade de reforma dos principais foros de decisão mundial, como o Conselho de
Segurança da ONU e as instituições de Bretton Woods, incapazes de acompanhar de forma
ágil esse processo de multipolarização mundial.
Entretanto, os foros multilaterais de decisão, que devem ser reforçados em prol da
nova ordem multipolar, ainda não são capazes de eliminar elementos de unipolaridade no
sistema internacional. Um exemplo é a existência de cotas de participação no FMI, em
número tão grande sob posse dos Estados Unidos que se confere a esse país poder informal
de veto nas decisões do Fundo. Da mesma forma, o Conselho de Segurança ainda não tem
plena capacidade de evitar que decisões unilaterais levem a conflitos, como atestam a
invasão norte-americana ao Iraque, em 2003, e a invasão russa à Geórgia no ano passado,
em apoio a regiões separatistas.
Atos unilaterais também são percebidos no mundo em desenvolvimento, como o
recente teste nuclear por parte da Coreia do Norte, apesar das pressões da comunidade
internacional; da mesma forma, podem ser elencados os massacres cometidos pelo Sudão na
região do Darfur, em flagrante desrespeito ao Direito Internacional e aos Direitos Humanos.
Entretanto, é dentre os países em desenvolvimento que se percebem alguns dos principais
esforços em prol do reforço do multilateralismo, para a consolidação de um mundo
multipolar.
Parte importante desses esforços diz respeito ao Brasil. Ciente de sua crescente
importância no cenário internacional, tem o país buscado articular-se com os principais
países emergentes do mundo em prol da democratização do sistema internacional, atentando
também à sua crescente responsabilidade com relação aos destinos de países mais pobres,
GUIA DE ESTUDOS PARA O CONCURSO DE ADMISSÃO À CARREIRA DE DIPLOMATA
55
justificando-se sua atitude de não-indiferença. Da mesma forma, as articulações no âmbito
americano lideradas pelo Brasil lograram tamanho êxito a ponto de enfraquecer o poder de
decisão de agenda da principal potência, os EUA, quanto aos destinos do hemisfério, como
atesta o recente cancelamento da suspensão de Cuba na OEA.
Dessa forma, a disputa entre uma ordem unipolar, liderada pelos EUA, e uma
multipolar, em que prevalece o reforço das instâncias multilaterais de decisão, tem-se
encaminhado, apesar de alguns vestígios de unipolaridade, em direção à segunda, com
importante perspectiva de redução das assimetrias de poder em âmbito internacional.
Questão 4
A crescente projeção internacional do Brasil envolve a participação ativa em esforços e
iniciativas regionais e globais no plano da segurança internacional, sendo o enfrentamento ao
narcotráfico questão de particular interesse para o país. Discorra acerca da participação
brasileira na cooperação internacional frente ao narcotráfico, considerando instâncias e
iniciativas nos planos regional e global.
Extensão máxima: 60 linhas
(valor: 20 pontos)
EDEN CLABUCHAR MARTINGO (18/20)
O Brasil é um país que, não obstante não sofrer ameaças de outros atores estatais,
sofre com a segurança interna, principalmente no que concerne ao narcotráfico. Essas
organizações criminosas trabalham em redes, sem limites fronteiriços ou de nacionalidade.
Da mesma forma, seus vultosos recursos atravessam o sistema financeiro internacional,
proporcionando flexibilidade e capacidade de mobilização inaudita. Para enfrentar esses
desafios, cabe ao Estado territorial articular-se internacionalmente, única forma de se
combater, efetivamente, essa ameaça. Para o Brasil, país segundo maior consumidor de
cocaína do mundo, cercado de grandes produtores de droga e parte da “rota do tráfico”
entre América e Europa, essa necessidade é premente.
No plano global, destaca-se a participação na Convenção de Palermo, de 2004, que
busca implementar marcos de cooperação jurídica e política no combate conjunto ao
narcotráfico, bem como medidas mais completas. Ressalte-se ainda o trabalho de cooperação
realizado com a Interpol que levou, no Brasil, à prisão do georgiano Boris Berezovsky,
acusado de trabalhar na lavagem de dinheiro que, entre outros negócios ilícitos, beneficia o
narcotráfico. A questão dos fluxos financeiros é fundamental para o combate ao narcotráfico,
conforme salienta a divisão de ilícitos internacionais do Itamaraty (COCIT), que faz parte do
Sistema Brasileiro de Inteligência. O combate aos paraísos fiscais, propugnado pelo
presidente Lula na seara financeira, é passo fundamental para mitigar o extraordinário
poderio econômico dos cartéis internacionais. Perdendo seus santuários financeiros, tornarse-
iam muito mais vuneráveis às investidas internacionais.
No âmbito regional, o principal destaque a ser dado às ações internacionais é a
cooperação nas regiões sensíveis de fronteira. A cooperação policial assumiu proporções
significativas na região da Tríplice Fronteira, com autoridades tanto de Paraguai quanto de
Argentina. As operações nessa região reprimem não apenas os narcotraficantes, como
também os doleiros que ficam a seu serviço. Outras regiões sensíveis são as da fronteira
noroeste do Brasil, desde a Bolívia até a Guiana Francesa. As chamadas “cidades gêmeas”
são focos de ação das redes internacionais de tráfico de drogas, e a cooperação bilateral em
regiões como Tabatinga-Abapóris e no Oiapoque são a única maneira de repressão eficaz do
crime. Especialmente com a França o Brasil tem instituído ações conjuntas, devido ao
GUIA DE ESTUDOS PARA O CONCURSO DE ADMISSÃO À CARREIRA DE DIPLOMATA
56
incremento do trânsito na região de fronteira, consubstanciada na nova ponte sobre o rio
Oiapoque.
No plano regional mais amplo, a iniciativa americana do Plano Colômbia é vista com
reticência pelas autoridades brasileiras, que não o apoiaram, o que não impede a
cooperação no que toca a pontos específicos. Para o Brasil, a estratégia americanocolombiana
não é eficiente, pois só modificaria as áreas de produção e traria riscos às
fronteiras e ao meio ambiente (até mesmo o uso do agente-laranja foi cogitado no Plano). Em
relação a outras regiões, destaca-se a necessidade cada vez mais urgente de cooperação
internacional com a Europa, em virtude da peculiar “complementaridade” da indústria da
droga nas duas regiões. As chamadas “mulas” levam cocaína de Bolívia e Colômbia, que
entra pela fronteira seca, para a Europa e trazem de volta drogas sintéticas oriundas
especialmente de Holanda e Espanha. A cooperação com a Interpol e com a Europol tem sido
fundamental para a repressão a esse trânsito.
Devido à forma como se organizam, desafiando a lógica territorial dos Estados, as
redes de narcotráfico exigem novas formas de cooperação política, policial e informacional
entre os países, sob pena de ineficiência.
***
INGLÊS
A prova de Inglês, com o valor máximo de 100 (cem) pontos, constará de quatro
partes: tradução de um texto do inglês para o português (valor 20 pontos); versão de um texto
do português para o inglês (valor 15 pontos); resumo de um texto (valor 15 pontos); e redação
a respeito de tema de ordem geral, com extensão de 350 a 450 palavras (valor 50 pontos).
Será apenada a redação que desobedecer à extensão mínima de palavras, deduzindo-se
0,20 ponto para cada palavra que faltar para atingir o mínimo exigido de 350. Será atribuída
nota 0 (zero) à redação, caso o candidato não se atenha ao tema proposto ou obtenha
pontuação 0 (zero) na avaliação da correção gramatical.
A legibilidade é condição essencial para a correção da prova.
Programa (Primeira e Terceira Fases):
Primeira Fase:
1. Compreensão de textos escritos em língua inglesa.
2. Itens gramaticais relevantes para compreensão dos conteúdos semânticos.
Terceira Fase:
1. Redação em língua inglesa: expressão em nível avançado; domínio da gramática; qualidade
e propriedade no emprego da linguagem; organização e desenvolvimento de idéias.
2. Versão do Português para o Inglês: fidelidade ao texto-fonte; respeito à qualidade e ao
registro do texto-fonte; correção morfossintática e lexical.
3. Tradução do Inglês para o Português: fidelidade ao texto-fonte; respeito à qualidade e ao
registro do texto-fonte; correção morfossintática e lexical.
GUIA DE ESTUDOS PARA O CONCURSO DE ADMISSÃO À CARREIRA DE DIPLOMATA
57
4. Resumo: capacidade de síntese e de reelaboração em Inglês correto.
Orientação para estudo
1. Tradução – Translation, Part A (20 pontos)
A tradução do Inglês para o Português deve ser feita de forma fidedigna, respeitando a
qualidade e o registro do texto original. Subtrai-se 1 (um) ponto para cada um dos seguintes
erros: falta de correspondência ao(s) texto(s)-fonte, erros gramaticais, escolhas errôneas de
palavras e estilo inadequado. Erros de pontuação ou de ortografia serão apenados em 0,5
(meio) ponto.
2.Versão – Translation, Part B (15 pontos)
A versão do Português para o Inglês deve ser feita de forma fidedigna, respeitando a
qualidade e o registro do texto original. Subtrai-se 1 (um) ponto para cada um dos seguintes
erros: falta de correspondência ao(s) texto(s)-fonte, erros gramaticais, escolhas errôneas de
palavras e estilo inadequado. Erros de pontuação ou de ortografia serão apenados em 0,5
(meio) ponto.
3. Resumo – Summary (15 pontos)
O candidato deve apresentar capacidade de reelaborar, de forma concisa e coerente, o texto
proposto. São critérios de avaliação a objetividade, a precisão, a clareza e a concisão do texto,
além naturalmente da correção e propriedade no uso da língua inglesa.
4. Redação - Compostition (50 pontos)
Os candidatos devem demonstrar conhecimento avançado de Inglês e capacidade de
usá-lo em redação bem estruturada. A distribuição dos 45 pontos faz-se da seguinte maneira:
• Correção gramatical (20 pontos)
Avaliam-se a correção e a propriedade no emprego da linguagem. Deduz-se 1 (um)
ponto para cada erro, com exceção das falhas de pontuação ou de ortografia, às quais
corresponde dedução de 0,5 (meio) ponto por ocorrência. A atribuição de nota zero no quesito
“correção gramatical” implica, automaticamente, nota zero para a redação como um todo. Do
mesmo modo, será atribuída nota zero às redações que demonstrarem baixo padrão de
conhecimento da língua inglesa.
• Organização e desenvolvimento de idéias (20 pontos)
Serão considerados, principalmente, os itens a seguir:
a) capacidade de raciocínio e de expressão clara em Inglês;
b) pertinência das idéias e da eventual exemplificação em relação ao tema;
c) adequada organização formal da redação, com adequada paragrafação.
Os candidatos devem esforçar-se para apresentar redação interessante. A originalidade
não será exigida, mas será avaliada positivamente, da mesma forma que o uso adequado de
exemplos. Serão severamente punidas as redações decoradas e simplesmente adaptadas ao
tema proposto. A redação que fugir a esse tema será punida com nota zero.
• Qualidade de linguagem (10 pontos)
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58
Atribuem-se pontos ao candidato pelo correto uso de Inglês idiomático, por
construções variadas e pelo emprego de vocabulário amplo e preciso.
Os candidatos que usarem construções de cunho meramente elementar na redação
receberão nota zero no quesito, em especial quando esse recurso for utilizado para evitar
erros.
Bibliografia sugerida:
Jornais e revistas
A Internet permite o acesso a vasto número de publicações em língua inglesa. Para
preparar-se para o concurso, é útil a leitura de publicações do padrão do The Times de
Londres, The New York Times, The Washington Post e Guardian, The International Herald
Tribune, The Financial Times, The Economist e Newsweek. Pode-se encontrar a versão
impressa de muitas dessas publicações em livrarias e bancas de revistas das principais cidades
do País.
Dicionários de inglês
Collins Cobuild English Language Dictionary. Londres: Collins.
Language Activator. Londres: Longman.
The Longman Dictionary of Contemporary English. Londres: Longman.
The Oxford Advanced Learner's Dictionary of Current English. Oxford: University
Press.
Oxford English Dictionary. Oxford: Oxford University Press.
The Random House College Dictionary. New York: Random House.
The Random House Dictionary of the English Language. New York: Random House.
Roget´s Thesaurus. Londres: Longman.
Webster´s Collegiate Dictionary. New York: BD&L.
Webster´s Third International Dictionary. New York: BD&L.
Dicionários inglês-português e português-inglês
Cambridge Word Routes-Inglês/Português: Dicionário temático do inglês
contemporâneo. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
Dicionário Português-Inglês, Inglês-Português. Porto: Porto Editora.
Novo Michaelis: Português-Inglês, Inglês-Português. São Paulo: Melhoramentos.
Taylor, J. L. Portuguese-English Dictionary. Rio de Janeiro: Record.
Gramáticas
BENSON, M. et alii.. The BBI Combinatory Dictionary of English: A guide to word
combinations. Amsterdã/Filadélfia: John Benjamins.
Collins Cobuild English Usage. Londres: Harper Collins.
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59
Comprehensive Grammar of the English Language. Londres: Longman.
CUTTS, M. The Plain English Guide. Oxford, Oxford University Press.
FRANK, M. Modern English. Englewood-Cliffs: Prentice-Hall.
LEECH, G.; SVARTVIK, J. A Communicative Grammar of English. Londres: Longman.
HILL, J.; LEWIS, M. (Orgs.) LTP Dictionary of Selected Collocations. Hove: Language
Teaching Publications.
SANTOS, Agenor. Guia Prático de Tradução Inglesa. São Paulo: Cultrix.
SWAN, M. A Practical English Usage. Oxford: Oxford University Press.
THOMPSON, A. J.; MARTINET, A.V. A Practical English Grammar. Oxford: Oxford
University Press.
Outras fontes
WALKER, S. B. Candidate´s Handbook: English. Brasília: FUNAG, 2000.
Internet: Há numerosos dicionários e glossários disponíveis em linha, bem como variadas
fontes de informações e de consulta. Duas referências iniciais, a título meramente indicativo:
http://www.yourdictionary.com;
http://www.bbc.co.uk
Prova de 2009
TRANSLATION (Total: 35 marks)
PART A (20 marks)
Translate into Portuguese the following excerpt adapted from Edward Said’s 1993 Reith
Lecture “Intellectual exile: expatriates and marginals. What is the proper role of the
intellectual in today’s society?”
Exile means being neither entirely at one with the new setting, nor fully disencumbered of the
old; beset with half-involvements and half-detachments; nostalgic and sentimental yet equally
a consummate mimic or secret outcast. Being adept at survival becomes the imperative, with
the dangers of getting too comfortable and secure constituting a threat constantly to be
guarded against. Salim, the main character of V.S. Naipaul’s novel “A Bend in the River,” is
an affecting instance of the modern intellectual in exile: an East African Muslim of Indian
origin, he has left the coast and journeyed into the interior, where he survives precariously in
a new state modelled on Mobutu's Zaire. Naipaul portrays Salim’s life at a 'bend in the river’
as a no-man’s-land, to which hail the European intellectual advisers (who succeed the
idealistic missionaries of colonial times), as well as the assorted mercenaries, profiteers, and
other Third World drifters in whose ambience Salim is forced to live, gradually forfeiting his
property and integrity in the mounting confusion. As the novel unravels, the natives
themselves have become exiles in their own country, so preposterous and erratic are the
whims of the ruler, Big Man, a symbol of all post-colonial regimes.
GUIA DE ESTUDOS PARA O CONCURSO DE ADMISSÃO À CARREIRA DE DIPLOMATA
60
GUILHERME FITZGIBBON ALVES PEREIRA (19/20)
Exílio significa estar nem integrado por completo ao novo ambiente, tampouco
totalmente desprendido do antigo; acometido de semi-envolvimentos e semi-destacamentos;
nostálgico e sentimental, mas em igual medida um mímico contumaz ou um excluído secreto.
A maestria na sobrevivência torna-se um imperativo, os perigos de acomodar-se e de tornarse
seguro demais constituindo uma ameaça contra a qual deve-se proteger constantemente.
Salim, o personagem principal do romance Uma curva no rio, de V. S. Naipaul, é um
exemplo tocante do intelectual exilado moderno: muçulmano de origem indiana do leste
africano, ele deixou o litoral e rumou ao interior, onde sobrevive precariamente em um
Estado baseado no Zaire de Mobutu. Naipaul retrata a vida de Salim em uma “curva no rio”
como uma terra de ninguém, para onde dirigem-se os conselheiros intelectuais europeus
(sucessores dos missionários idealistas de épocas coloniais), bem como diversos
mercenários, gananciosos e outros golpistas terceiro-mundistas em cuja companhia Salim é
forçado a viver, gradualmente renunciando a suas propriedades e sua integridade no
ambiente de crescente agitação.
Conforme o romance se desenvolve, os próprios nativos tornam-se exilados em seu
próprio país, tão absurdos e erráticos são os desmandos do governante, Grande Homem, um
símbolo de todos os regimes políticos pós-coloniais.
PART B (15 marks)
Translate into English the following excerpt adapted from a special Folha de São Paulo report
on Sri Lanka by Roberto Candelori published 18th May 2009:
O Sri Lanka vê-se diante de um conflito que já dura um quarto de século. Com uma
população dividida entre cingaleses budistas (74%) e tâmeis de orientação hindu (18%), o
antigo Ceilão tornou-se um "banho de sangue", segundo a ONU. O país conquistou a
independência dos britânicos em 1948, quando começou a implantação de políticas
discriminatórias contra a minoria tâmil, que tivera lugar de destaque na administração
colonial. Sucessivos governos baixaram leis que cercearam os direitos dos tâmeis ao imporlhes
o cingalês como língua oficial e restringir-lhes o acesso à educação superior e a cargos
públicos. Revoltados, os tâmeis passaram a reagir, exigindo a igualdade linguística, social e
religiosa. Em 25 anos de conflito, estima-se que tenham ocorrido até 100 mil mortes, e o
futuro parece não menos assustador. Mais de 250 mil tâmeis encontram-se agora sob a mira
dos fuzis e sob o silêncio da comunidade internacional. A ordem é atirar.
JOSÉ ROBERTO HALL BRUM DE BARROS (13,5/15)
Sri Lanka faces a conflict that has already been going on for a quarter of a century.
With a population divided between Buddhist Singalis (74%) and Hindu Tamils (18%), former
Ceylan has become a “blood bath”, according to the UN.
The country achieved its independence from the British in 1948, when it started the
implementation of discriminatory measures against the Tamil minority which had occupied
key positions in the colonial administration. Successive governments passed laws that
curtailed Tamils' rights, by imposing Singali on them as an official language and denying
them access to higher education and public offices.
The Tamils, outraged, began to fight back, demanding linguistic, social, and religious
equality.
In 25 years of conflict, one hundred thousand deaths have been estimated, and the
future seems no less dreadful. Over 250 thousand Tamils are now under guns' sights and
under the silence of international society. The order is to shoot.
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61
SUMMARY (Total: 15 marks)
Write a summary in your own words not over 200 words in length of the following excerpt
adapted from “Open up,”an Economist special report on migration published 3rd January
2008.
Enoch Powell had a point. The radical British Conservative politician warned, nearly
four decades ago, that immigrants were causing such strife that “like the Roman, I seem to see
the River Tiber foaming with much blood.” That proved to be nonsense, as did his advice that
migrants should be encouraged to leave. Had they done so, Britain and other rich countries
that depend heavily on foreign labour would be in a dreadful state. One prediction he made
was spot on, however: that by about now, one in ten people in Britain would be migrants. At
the last count in 2005, the foreign-born made up 9.7% of the British population.
By historical standards, that is high but consistent with that in other rich economies. In
America the proportion is now about 13%, not far off the 15% peak reached shortly before
World War I. What is particularly striking in Europe is that countries which had hitherto
known only emigration, e.g. Ireland or Greece, now have an influx typical of countries like
Australia and the U.S.
This special report argues that both emigration and immigration countries, as well as
the migrants themselves, have been coping remarkably well with this new force reshaping our
world. Yet ominous signs are emerging of a shrill backlash against immigration on both sides
of the Atlantic.
Politicians may tinker with migration policies. They will certainly, under public
pressure, pump extra resources and energy into building more fences and walls to keep
foreigners out. By linking immigration to terrorism, they may even make their societies more
fiercely policed. The basic forces driving migration, though, are unlikely to ebb.
Migrants move mainly for economic reasons. Most appear to do so legally. The
number of illegal migrants is by definition hard to ascertain, but likely to be smaller than the
legal sort. They probably comprise the bulk of those seen floating on rafts in the
Mediterranean or scrabbling over the fence from Mexico to America. Others do not risk the
high seas or physical borders, entering instead under some other guise, perhaps as tourists,
and then staying on.
Lastly, there are refugees and asylum-seekers, strictly defined as those escaping
persecution but often including anybody forced to flee, for example from a war. According to
the UN's refugee agency, at the close of 2006 some 10m people fell under this category.
The number of migrants worldwide has been reckoned at 200m. That sounds a lot, but
actually adds up to only 3% of the world's population, so there is ample potential for growth.
Migration has proved a successful ploy for the world's poor to improve their lot. Nor is it the
very poorest who travel, for money is required to travel overseas.
In the 100 years to 1920, brighter prospects encouraged some 60m Europeans to
uproot and move to the New World. A European crossing the Atlantic could expect to double
his income. Today the incentives are even more enticing. Those moving from a poor country
to a rich one can expect to see their income rise fivefold. As long as such differentials persist,
the draw will continue.
Demography too plays a big part. Not every migrant is bound for America or Europe:
two in every five head for another poor or middle-income destination. Those aiming for the
richest parts of the world, however, do their inhabitants a favour. Without them, the greying
and increasingly choosy populations across the rich world would already be on the decline.
GUIA DE ESTUDOS PARA O CONCURSO DE ADMISSÃO À CARREIRA DE DIPLOMATA
62
That is paramount for their fast-changing economies, which consistently demand either highly
skilled workers or those willing to do unpleasant and tiring jobs.
One reason why much of the world has enjoyed a sustained economic boom with low
inflation in the past decade is that the effective global workforce is expanding apace. The IMF
estimates it has quadrupled since 1980. In all likelihood it will continue to grow, though at a
slower rate, with a 40% increase in the world's working-age population forecast by 2050.
According to the UN, the global stock of migrants has more than doubled in four decades. Not
enough young natives have the skills or motivation, so the rich must hope outsiders will keep
coming.
And they will. Luckily for Europe and America, there are huge pools of workers eager
to jump on the next plane, train or leaking raft to work abroad. This can prove beneficial for
their countries of origin as well.
If exporting brawn generally makes sense for a poor country, letting its better brains
drain away may not. Most poor and middle-income countries grapple with chronic shortages
of skilled labour. Professionals in demand abroad are the hardest to keep at home. In fact, if
the lure is strong enough, it is virtually impossible to block the exit of the highly skilled.
Rich countries are taking in more highly skilled migrants than ever before. Yet
emigration of skilled workers may be a consequence rather than a cause of problems in the
sending country. For example, nurses may be emigrating because their salaries are not being
paid or because hospitals are crumbling; entrepreneurs may be relocating because the local
business climate is wretched. Halting emigration - even if that were feasible - would not solve
these problems. Nurses might still quit their jobs, would-be entrepreneurs might sit on their
hands.
Indeed, some argue that emigration can actually enhance the stock of brainpower.
Migrants spend longer studying, pick up more skills and experience, and may then return
home. Remittances are often used to fund schooling. Moreover, the prospect of emigration
and prosperity abroad may induce others to get an education. All this suggests that the
consequences of emigration, albeit not negligible, are tricky to measure. Governments should
thus endeavour to tackle the factors pushing their skilled professionals out. If émigrés can be
enticed back home, even for short spells, so much the better.
Unfettered movement of capital and goods has made the world a far richer place while
greater human mobility has not only created wealth but also helped share it out more evenly.
The billions in remittances repatriated each year eloquently testify to that. The cost of keeping
people out would be steep.
Nasty surprises are constantly sprung on us. Wars can suddenly displace millions, who
may start out as refugees but frequently end up as migrants. Some claim that climate change
may forcibly relocate tens of millions of people in the space of decades. Misguided policies, a
backlash over terrorism or a failure to integrate migrants could all pose serious problems.
Nonetheless, 40 years on, it seems clear that Mr Powell was utterly amiss in everything save
his sums.
THOMAZ ALEXANDRE MAYER NAPOLEÃO (14/15)
THOMAZ ALEXANDRE MAYER NAPOLEÃO (14/15)
As Conservative politician Enoch Powell once predicted, migrants constitute
nowadays one tenth of the entire British population, a rate comparable to that of other
developed societies. Contrary to his expectations, however, violence has not ensued. Instead,
migration has brought positive overall results to the persons and countries involved,
GUIA DE ESTUDOS PARA O CONCURSO DE ADMISSÃO À CARREIRA DE DIPLOMATA
63
including those formerly used to emigration which are now in the receiving end, such as
Greece and Ireland.
While governments may adopt harsh migration policies, the phenomenon is too
vigorous to be stopped. Migrants are mostly legal, though clandestine flows exist. They
constitute roughly 200 million people, 10 million of whom are refugees or asylum-seekers.
Income inequalty and demographic growth are key factors. Migrants may earn five
times as much when abroad; around 60% of them head to wealthy countries, thus helping
overcome the trends towards populational decrease in these parts. This could be a problem
for developing nations, but may turn out to be a blessing instead, since successful migrants
may return home or repatriate their earnings.
It would be unwise to curtail migration, as it fosters global prosperity. Nevertheless,
since unexpected tragedies may occur, it is crucial to promote sound integration measures.
COMPOSITION (Total: 50 marks)
At the beginning of the 21st century, migration continues to loom large as a subject of media
interest, of community preoccupation and of political controversy. Nevertheless, the discourse
has evolved significantly in recent years, both in terms of substance and tone, and is now
conducted with noticeably less acrimony than before and with much reduced levels of distrust
between developed and developing countries. For instance, at [several recent high-level
international conferences] participants were, in general, disposed to agree that migration holds
considerable potential for economic and social development. At the same time, however, it
was apparent that there is much more to be done before agreement can be reached on
appropriate management strategies to be put in place, both nationally and on the international
level, for that promise to be realized. The task of formulating a workable global approach to
the management of international migration remains a formidable challenge, and one that will
require both time and effort over the coming years.
An extract from the Introduction to World Migration 2008: managing labour mobility in the evolving global
economy. Geneva: International Organization for Migration, 2008, p. 1.
Taking into account the points made above, discuss the main issues involved in the
contemporary political debate on migration.
(Length: 350-400 words)
THOMAZ ALEXANDRE MAYER NAPOLEÃO (40,5/50)
Due to the persistent gap between industrialized and underdeveloped countries,
migration remains a vital issue in contemporary world politics. As humanity evolves towards
a near-consensus on the inevitability of this phenomenon and its potential to generate global
progress, the topic gradually becomes less controversial. Notwithstanding this trend,
numerous disagreements regarding migration policy still exist. The debate concerns three
complex subjects above all others: the economic consequences of human mobility, the risks
involved in terms of trafficking and terrorism, and the impact of migration upon national
cultures and identities.
The economic side of migration, if examined through the lenses of sheer and cold
rationality, would seen to be utterly simple: while some countries have a diminishing
workforce, others can barely feed their ever-expanding population, so it would be logical to
GUIA DE ESTUDOS PARA O CONCURSO DE ADMISSÃO À CARREIRA DE DIPLOMATA
64
encourage human flows from the latter group of nations to the former. Unsurprisingly, the
issue is not that straightforward. Not all developing states are willing to cede their best and
brightest citizens, as they fear the impact of an unequal flux of skilled workers, the so-called
brain drain. Conversely, some industrial countries do not feel they can accommodate every
potential migrant. Hence, limits and quotas are often established.
Secondly, the security threats possibly linked to the increasing migration flows are
manifold. As the United States painfully learned on September 11th, 2001, not all foreigners
legally settled are harmless. Beyond terrorism, other risks may be ushered by the
uncontrolled movement of humans, namely drug trafficking and the clandestine trade of arms
and other goods. Even diseases, such as the swine flu from Mexico, can be transmitted freely
through migration.
Last but not least, it is evident that the cultural features of some countries, such as
their language, religion and habits, will be partially under pressure if and when large inflows
of migrants arrive. This is a delicate issue in Europe, where it often leads to prejudice and
even xenophobia. Two opposite sets of policies claim to offer the best solution in this sense:
the British usually allow foreigners to gather and form their own separate communities,
whereas the French prefer to assimilate all migrants by imposing the so-called “Republican
values” upon them.
Whether we study it from the economic perspective, the security angle, or the cultural
point of view, migration continues to raise concerns and generate opportunities. One thing is
clear, though: no country or society will be able to design and implement sound migration
policies without paying the utmost attention to the quintessential human values of tolerance,
respect, and cooperation.
Exemplos de temas para redação em anos anteriores:
2008
“Nationalism – Internationalism. These abstract words, so often abused, so often
misunderstood, cover high ideals and strong emotions, reflect modes of thought and action
that shape our world. We often see the word ‘nationalism’ used in a derogatory sense. The
same is true of the word ‘internationalism’. When nationalism connotes, for example, a ‘go-italone’
isolationism, and internationalism an outlook that belittles the significance of national
life and of nations as centres of political action and spiritual tradition, the words become
contradictory and the attitudes they describe irreconcilable. From such interpretations of the
words comes the tendency to think of nationalism as in fundamental conflict with an
internationalist attitude.”
Discuss the above statement, adapted from an address by then United Nations
Secretary-General Dag Hammarskjöld at Stanford University in 1955, in the light of current
international political events.
2007
Write a composition on the following quotation from Albert Einstein:
“The unleashed power of the atom has changed everything save our modes of thinking
and we thus drift toward unparalleled catastrophe.”
GUIA DE ESTUDOS PARA O CONCURSO DE ADMISSÃO À CARREIRA DE DIPLOMATA
65
2006
Awareness that change is a constant feature of human life is as old as civilisation.
However, more recently, technological development has greatly enhanced both the prospects
for rapid change and the range of its social, political, and cultural impact.
Bearing this in mind, comment on Berman’s contention (in Muqtedar Khan’s text
“Radical Islam, Liberal Islam” in section 2 above) that “those motivated by aversion for
liberalism will continue to seek the downfall of the West as long as its culture continues
to influence the world, the Muslim World in particular”.
2005
Read the following editorial from the Washington Post, 20th March, 2005, and in the light of it
and of the text by Richard Gott in section 2, comment on the geopolitical, social, and
economic issues raised as they affect South American integration.
A Threat to Latin Democracy
Another Latin American democracy is on the verge of crumbling under pressure from
leftist populism. The trouble comes this time in Bolivia, where a democratic president and
Congress face a paralyzing mix of strikes and roadblocks by a radical movement opposed to
foreign investment and free-market capitalism. The insurgents, who claim to represent the
country's indigenous population, drove one democratically elected president from office 18
months ago; now they are working on his successor, Carlos Mesa, who has searched valiantly
but unsuccessfully for compromise. The populists ride a leftist wave of momentum in Latin
America and have the rhetorical, and possibly material, support of the region's self-styled
"Bolivarian" revolutionary, Venezuelan President Hugo Chavez. The democrats could use
some outside help, from their neighbors and the United States.
Accounts of political crises in Andean countries such as Bolivia sometimes portray a
poor and disenfranchised indigenous majority pitted against an ethnically European and
mestizo elite. The facts tell a different story in Bolivia. Mr. Mesa, polls show, has the support
of two-thirds of his compatriots, while the party leading the protests, the Movement Toward
Socialism, has never received more than 21 percent of the vote in an election. Nor is it the
case that Bolivia's experiment with free-market policies in the 1990s failed to help the poor.
Per capita incomes rose by 20 percent in the second half of the decade. Thanks to private
foreign investment, significantly more Bolivians gained access to water, sewage systems and
electricity.
The populist minority, led by former coca farmer Evo Morales, is bent on using force
to reverse that progress. Already it has effectively blocked natural gas exports to the United
States. Its current strikes are aimed at stopping further foreign investment in that industry
through confiscatory taxes and reversing the privatization of other industries. Mr. Mesa,
swearing off the use of force to break up the roadblocks, has countered with democratic
political tactics: first a national referendum on a compromise gas policy, then an accord with
Congress on political and economic reforms. Last week, in desperation, he proposed that his
own term as president be cut short and new elections be held in August; Congress rejected the
proposal, and Mr. Mesa later announced he would stay on. But the opposition still threatens to
renew a blockade that is devastating one of the hemisphere's poorest economies and
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66
prompting talk of secession in Bolivia's relatively prosperous and pro-capitalist eastern
provinces.
All of this is good news for Mr. Chavez, who along with Cuba's Fidel Castro dreams
of a new bloc of Latin "socialist" (i.e., undemocratic) regimes that will join with like-minded
states such as Iran, Libya and China to oppose the United States. Bolivia's neighbors,
including Brazil, Argentina and Chile, ought to be alarmed by this trend; but though their own
leftist governments have expressed support for Mr. Mesa they have refrained from more
concerted action -- such as demanding that Mr. Chavez cease his meddling. The State
Department issued a statement last week expressing "support for the people of Bolivia and a
peaceful democratic process." If there is a deeper U.S. policy to head off the breakdown of
democracy in Latin America, there isn't much sign of it.
***
NOÇÕES DE ECONOMIA
A prova de Noções de Economia consistirá de quatro questões discursivas, duas das
quais com o valor de 30 (trinta) pontos cada uma e duas com o valor de 20 (vinte) pontos cada
uma. As respostas às questões com o valor de 30 (trinta) pontos terão, cada uma, a extensão
máxima de 60 linhas; as respostas às questões com o valor de 20 (vinte) pontos terão, cada
uma, a extensão máxima de 40 linhas.
Programa (Primeira e Terceira Fases):
1. Microeconomia.
1.1. Demanda do Consumidor. Preferências. Curvas de indiferença. Restrição
orçamentária. Equilíbrio do consumidor. Mudanças de equilíbrio, efeito-preço, efeitorenda
e efeito-substituição. Taxa marginal de substituição. Curva de demanda.
Deslocamento da curva e ao longo da curva. Elasticidade-preço e elasticidade-renda.
Classificação de bens. Excedente do consumidor.
1.2. Oferta do Produtor. Fatores de produção. Função de produção. Isoquantas.
Elasticidade-preço da oferta. Rendimentos de fator. Rendimentos de escala. Custos de
produção. Excedente do produtor.
1.3. Concorrência Perfeita, Monopólio, Concorrência Monopolística e Oligopólio.
Comportamento das empresas. Determinação de preços e quantidades de equilíbrio.
2. Macroeconomia.
2.1. Contabilidade Nacional. Os conceitos de Produto e Renda Interna, Produto e
Renda Nacional, Renda Disponível Bruta, Poupança Bruta Doméstica e capacidade ou
necessidade de Financiamento Externo. Conceitos e cálculo do Déficit Público. A
Conta de Balanço de Pagamentos: estrutura e cálculo do resultado do Balanço.
Números Índices. Deflator Implícito e Índices de Preço ao Consumidor.
2.2. Evolução do pensamento macroeconômico. Keynesianismo, monetarismo e
escolas posteriores.
2.3. Mercado de trabalho. Determinação do nível de emprego.
2.4. Funções da moeda. Criação e distribuição de moeda. Oferta da moeda e
mecanismos de controle. Procura da moeda. Papel do Banco Central. Moeda e preços
no longo prazo.
2.5. Poupança e investimento. Sistema financeiro.
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67
2.6. Flutuações econômicas no curto prazo. Oferta e demanda agregadas. Papel das
políticas monetária e fiscal. Inflação e desemprego.
3. Economia internacional.
3.1. Política comercial. Efeitos de tarifas, quotas e outros instrumentos de política
governamental.
3.2. Teorias clássicas do comércio. Vantagens absolutas e comparativas. Pensamento
neoclássico e liberalismo comercial. 3.3. A crítica de Prebisch e da Cepal. 3.4. Noções
de macroeconomia aberta. Os fluxos internacionais de bens e capital. Regimes de
câmbio. Taxa de câmbio nominal e real.
4. Economia Brasileira.
4.1. A economia brasileira no Século XIX.
4.2. Políticas econômicas e evolução da economia brasileira na Primeira República.
4.3. A crise de 1929 e a industrialização brasileira na década dos trinta. O impacto da
Segunda Guerra sobre a economia brasileira e os desdobramentos subsequentes.
4.4. A Nova Fase de Industrialização. O Plano de Metas.
4.5. O Período 1962-1967. A desaceleração no crescimento. Reformas no sistema
fiscal e financeiro. Políticas antiinflacionárias. Política salarial.
4.6. A Retomada do Crescimento 1968-1973. A desaceleração e o segundo PND.
4.7. A crise dos anos oitenta. A interrupção do financiamento externo e as políticas de
ajuste. Aceleração inflacionária e os planos de combate à inflação.
4.8. Os anos noventa. Abertura comercial e financeira. A industria, a inflação e o
balanço de pagamentos.
4.9. Pensamento econômico e desenvolvimentismo no Brasil.
Bibliografia sugerida:
ABREU, Marcelo P. A. Ordem do Progresso: Cem Anos de Política Econômica
Republicana 1889-1989. Rio de Janeiro: Campus, 1992.
BANCO CENTRAL DO BRASIL. Notas Metodológicas do Balanço de Pagamentos.
Notas Técnicas do Banco Central do Brasil. Nº 1, junho, 2001. (texto disponível na página:
http://www.bcb.gov.br)
BIELSCHOWSKY, Ricardo. Pensamento Econômico Brasileiro. (Capítulos 2, 9, 10 e 11).
4ª Edição. Rio de Janeiro: Contraponto, 2000.
FEIJÓ, Carmem A. et al. Contabilidade Social: a Nova Referência das Contas Nacionais
do Brasil. (Capítulos 3 e 5). 3ª edição. Rio de Janeiro: Campus/Elsevier, 2007.
FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. São Paulo: Nacional, 2003.
GAMBIAGI, Fabio; VILLELLA, A.; BARROS DE CASTRO, L; HERMMAN, J. Economia
Brasileira e Contemporânea (1945-2004). Editora Elsivier/Campus, 2005.
LACERDA, Antonio Corrêa de. Crise e oportunidade: o Brasil e o cenário internacional.
São Paulo: Lazuli Editora, 2006.
LESSA, Carlos. Quinze anos de política econômica. São Paulo: Brasiliense, 1983.
MAGALHÃES, João Paulo de Almeida. Nova estratégia de desenvolvimento para o
Brasil: um enfoque de longo prazo. São Paulo: Paz e Terra, 2005
MANKIW, N. G. Introdução à Economia: Princípios de Micro e Macroeconomia. 3ª
Edição. Rio de Janeiro: Pioneira Thomson, 2006.
GUIA DE ESTUDOS PARA O CONCURSO DE ADMISSÃO À CARREIRA DE DIPLOMATA
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PINHO, Diva B.; VASCONCELOS, M. A. S. (orgs.). Manual de economia. 5ª Edição. São
Paulo: Saraiva, 2006.
SAMUELSON, Paul A.; NORDHAUS, W. D. Economia. 17ª Edição: McGraw-Hill
Interamericana do Brasil, 2004.
TAVARES, Maria da Conceição. “Auge e Declínio do Processo de Substituição de
Importações no Brasil” in M. C. TAVARES (1979): Da Substituição de Importações ao
Capitalismo Financeiro. 8ª Edição. Rio de Janeiro: Zahar.
VERSIANI, F. R. e MENDONÇA DE BARROS, J. R. (orgs.). Formação Econômica do
Brasil: a Experiência da Industrialização. Série de Leituras ANPEC. São Paulo: Saraiva,
1979.
Prova de 2009
Questão 1
Em Formação Econômica do Brasil, Celso Furtado defende a seguinte tese:
É [...] perfeitamente claro que a recuperação da economia brasileira, que se manifesta a partir
de 1933, não se deve a nenhum fator externo e sim à política de fomento seguida
inconscientemente no país e que era um subproduto da defesa dos interesses cafeeiros.
Celso Furtado. Formação Econômica do Brasil. 22. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1987, p. 193.
Assim, Furtado atribui, em última instância, às políticas de proteção ao setor cafeeiro um
papel importante na determinação da trajetória do PIB nos anos trinta. Apresente os
argumentos de Furtado que fundamentam sua tese quanto aos seguintes aspectos:
a) os efeitos da crise de 1929 sobre os preços do café;
b) as principais causas da desvalorização cambial nos anos trinta; e
c) os fatores que propiciaram a recuperação da economia brasileira a partir de 1933.
Extensão máxima: 60 linhas
(valor: 30 pontos; 10 pontos para cada item)
NATASHA PINHEIRO AGOSTINI (30/30)
O principal produto de exportação do Brasil durante longo período foi o café. Essa
mercadoria contava com baixa elasticidade-preço e baixa elasticidade-renda, o que
significava que, no longo prazo, a expansão da oferta levaria à queda nos preços. Durante o
período Imperial, o preço se manteve viável para os produtores, porque o café estava
atingindo novos mercados. Na República, as quedas de preços em conseqüência do excesso
de oferta começaram a ocorrer, e o governo adotou medidas de sustentação dos preços
internacionais do produto por meio da compra e da estocagem das safras, visando a
controlar a oferta. Essa política foi financiada, na sua maior parte, por empréstimos
externos.
Em 1929, com o início da crise mundial, a demanda pelo produto se reduziu, ao
mesmo tempo em que a produção crescia (o tempo de maturação de um pé de café é de cinco
anos, tornando as respostas a mudanças na demanda bastante lentas), impulsionada pelas
políticas dos anos anteriores. Somou-se a isso a escassez de crédito internacional que
interrompeu o fluxo de empréstimos para o Brasil. A crise mundial prejudicou as vendas
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daquele produto que era a maior fonte de renda do país e que impulsionava o dinamismo
econômico, além de limitar as políticas governamentais.
O Governo de 1930 poderia optar por abandonar o setor cafeeiro às forças do
mercado, o que seria inviável política e economicamente, pois os proprietários tinham
grande influência política e a crise se aprofundaria, uma vez que a maior parte das
atividades internas estava ligada ao desenvolvimento do setor cafeeiro. Assim, o governo
optou por seguir defendendo os interesses do café. No entanto, já não havia financiamento
internacional disponível para que o governo sustentasse o preço da produção e a solução
encontrada, uma vez que o sistema de crédito interno era bastante reduzido, foi a emissão de
moeda. Aumentando a oferta de moeda na economia, a relação entre a quantidade de moeda
nacional e de moeda estrangeira foi rapidamente aumentando, provocando a desvalorização
da moeda brasileira. A escassez de divisas internacionais foi aumentada, também, pela queda
nas receitas do setor exportador no início da crise.
A opção de política governamental foi assegurar o preço de compra do café aos
produtores, permitindo a colheita (que cobriu, pelo menos, o custo variável médio de
produção). Apresentaram-se três opções quanto ao que fazer com o café colhido: vender,
estocar ou destruir. A primeira delas, vender, levaria a maior queda nos preços,
prejudicando ainda mais os produtores e o governo. A segunda, estocar, representava uma
série de custos para o governo, sem perspectiva de venda, uma vez que a produção
aumentava e a crise se configurava como longa e profunda. Queimar o café foi então a opção
escolhida, pois diminuiria a oferta e não oneraria ainda mais o governo.
Ao sustentar a renda cafeeira, o governo acabou por sustentar o nível de renda de
toda a economia, dada sua interdependência com o setor do café. Dessa ação surge a idéia
de que o governo brasileiro tivesse utilizado o “keynesianismo antes de Keynes”, efetuando
gastos públicos para manter a renda interna, com a diferença que Keynes descreveu a
sustentação do setor interno, e o governo brasileiro atuou na sustentação das exportações.
A desvalorização cambial implicou o aumento no preço das importações, o que
favoreceu o desenvolvimento da produção nacional, com o crescente estímulo da demanda
interna, que havia sido mantida. Os capitais, antes concentrados no café, passaram a dirigirse
para investimentos voltados para o consumo interno, com melhor perspectiva de retorno
que aqueles realizados no setor cafeeiro. Com a sustentação da renda interna, a queda dos
preços do café e a desvalorização cambial, o Brasil entrou em uma nova fase de
desenvolvimento econômico, que transferiu o centro dinâmico da economia do setor
exportador para o mercado interno baseado na industrialização.
A recuperação rápida da economia brasileira foi, segundo a interpretação de Celso
Furtado, resultado da conjunção de políticas para manter a renda dos produtores cafeeiros
após a crise e que, sem que houvesse intenção deliberada, acabaram por impulsionar as
atividades do setor interno da economia. Furtado classifica esse período como o ponto de
inflexão fundamental das características do desenvolvimento econômico brasileiro. A
atuação “keynesiana” inconsciente do governo permitiu que o país fosse um dos primeiros a
se recuperar da crise e que a economia se voltasse para dentro.
Questão 2
Considere os seguintes componentes do Produto Interno Bruto, PIB (Y), de uma economia
aberta: consumo final total das famílias e do Governo (C), investimento total (I), exportações
(X) e importações (M) de bens e serviços. Estes últimos não incluem as rendas dos fatores de
produção recebidas do exterior nem as enviadas ao resto do mundo. Considere também os
seguintes componentes do saldo das transações correntes (TC) do balanço de pagamentos:
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saldo da balança comercial e da conta de serviços (BC), saldo de rendas (BR) e saldo das
transferências unilaterais (TU). Responda aos itens abaixo e justifique as respostas
correspondentes.
(a) A Tabela abaixo apresenta as participações dos quatro referidos componentes do PIB, em
porcentagem (%) do PIB, no Brasil, entre 1995 e 1999. Por exemplo, o consumo representou
83,5 % do PIB em 1995. A última coluna mostra o saldo da balança comercial e da conta de
serviços (BC) em % do PIB. Calcule os valores representados na Tabela pelas letras x, y, z e
w.
(
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